Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

24 dezembro 2006

[404] Feliz Natal!

A revista 'TIME' acaba de eleger, como Personalidade do Ano, "YOU", ou seja, eu, tu, ele, cada um de NÓS, enquanto pessoa humana que, com a sua força e energia, ajuda a construir um mundo melhor, sendo parte activa e decisiva no maior desafio que se coloca à Humanidade - viver em dignidade, com o outro e para o outro!

É partilhando este sonho de um futuro mais digno que envio a todos os leitores e bloggers votos de um Feliz Natal, desejando um Ano de 2007 pleno de graças.

[403] Viva a vida!

(Papa Bento XVI, na missa dominical do Angelus, 24-12-2006)

02 dezembro 2006

[402] Saturday early afternoon, December: "Que dia? Que olhar?"

"Cheguei demasiadamente tarde
e já todos se tinham ido embora,
restavam papéis velhos, horas mortas,
identidade, sujidade, eternidade.
Comeram e beberam o meu
corpo e o meu sangue; e, pelo caminho, a minha biblioteca,
e escreveram a minha Obra Completa;
sobro, desapossado, eu.
Resta-me ver televisão,
votar, passear o cão
(a cidadania!). Prosa também podia,
e lentidão, mas algo (o coração) desacertaria.
Dar um tiro na cara como Chamfort?
Tornar-me aforista ou ainda pior?
Mudar de cidade? Desabitar-me?
Post-modernizar-me? Experienciar-me?
Mas com que palavras ou sem que palavras?
Os substantivos rareiam, os verbos vagueiam
por salões vazios e incendiados
entregando-se a guionistas e aparentados.
Cheira demasiadamente a morte por aqui
como no fim de uma batalha cansada
de feridas antigas, e eu sobrevivi
do lado errado e pela razão errada.
“Que dia? Que olhar?”
(Beckett, “Dias felizes”)
Que feridas? Que estandar
-te? Que alheias cicatrizes?
Estou diante de uma porta (de uma forma)
com o – como dizer? – coração
(um sítio sem lugar, uma situação)
cheio de palavras últimas e discórdia."
(Manuel António Pina, in Relâmpago n.º 10)

[401] Late night: o eixo do mal

"Todas as formas de totalitarismo baseiam-se em três eixos: na simplicidade, no medo, na força."
(Andreu Vallès, 1-12-2006, Livre e Catalão)
*
"Andreu,
simplicidade, força e IGNORÂNCIA."
(Núncio, em comentário ao post)
*
E.T. Só o ignorante tem medo...

[400] Deixem-me servir as pessoas...

"Não cometi crime nenhum. Crime é servir-se do poder em proveito pessoal, mas eu sempre servi as pessoas do meu concelho."
(Fátima Felgueiras, citada aqui)
*
O populismo no seu expoente! Evita não faria melhor...

27 novembro 2006

[399] Pintura do mundo surreal

Mário Cesariny, "Linha de água", 1989

[398] Early night: o que importa...

"PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente!
Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra."
Mário Cesariny, 1923-2006, "Nobilíssima Visão" (1945-1946) in burlescas, teóricas e sentimentais (1972)

25 novembro 2006

[397] Serviço público: IMC

Para calcular e acertar o índice de massa corporal:

[396] A palavra (corajosa) dos outros: cortar a direito

(Paula de Sá, "Por favor, algum pudor!", Comunicar a direito, 24-11-2006)
*
E, agora, António José Teixeira, João Morgado Fernandes, Fernanda Câncio, José Manuel Fernandes, Diana Andringa e vossos pares?
Também vão escrever artigos a louvar, mais uma vez, a coragem e o reformismo governamentais?

[395] O maior clube do mundo!



[394] Impressões tardias de uma entrevista histórica (passada a tempestade)

1. É, talvez, a primeira vez que, na III República, num regime semi-presidencial (ou semi-parlamentar), o Chefe do Estado sanciona tão positiva e expressamente a actuação do órgão executivo.
2. Mais surpreendente se torna tal (aparente) aprovação política se atendermos ao facto de se viver uma situação, chamada em politologia, de "coabitação".
3. Nem em situações anteriores de forte empatia entre Belém e S. Bento (Eanes/Cavaco, Soares/Guterres, Sampaio/Guterres e Sampaio/Sócrates) se foi tão longe...
4. Uma interpretação como a presente dos poderes constitucionais (Constituição semântica e formal) do Presidente da República encerra o risco de fazer resvalar o regime para um semi-presidencialismo "à la française".
5. Não que isso fosse inaceitável, do ponto de vista teórico-conceptual, mas teria que ser validado democraticamente.
6. Outro risco, bem actual e concreto, de tal interpretação é a de se perder o respeito institucional e político, devido pelo Chefe do Estado, à(s) Oposição(ões).
7. O Presidente da República, no exercício do chamado "papel moderador" ou de árbitro, não joga nem capitaneia nenhuma das equipas.
8. Muito menos é comentador ou analista político.
9. Fica por saber (mas pressinto que não demorará mais de um ano) se estas interpretação e actuação são fruto da época...

15 novembro 2006

[393] A vida é bela! (7)

Sabia que as cristas da impressões digitais são únicas em cada indivíduo?
Elas são o resultado da mistura ao acaso das ondulações do líquido amniótico no ventre materno - fenómeno denominado de morfogénese caótica - que ocorre nas primeiras seis semanas de vida. Nunca se alteram e reaparecem sempre com as mesmas características iniciais, ainda que removidas voluntária ou acidentalmente.
A primeira definição científica deve-se a Sir Francis Galton, em 1892.

12 novembro 2006

[392] Poesia à noite: ESPERO

"Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda."
(Sophia de Mello Breyner Andresen)

[391] Poesia à noite: GANSOS SELVAGENS

"Não tens de ser bom.
Não tens de caminhar de joelhos
através do deserto durante cem milhas, em penitência.
Apenas tens de deixar que o animal suave do teu corpo
ame aquilo que ama.
Fala-me de desespero, o teu, e contar-te-ei do meu.
Entretanto, o mundo avança.
Entretanto, o sol e os seixos límpidos da chuva
atravessam as paisagens,
as pradarias e as árvores profundas,
as montanhas e os rios.
Entretanto, os gansos selvagens, altos no limpo ar azul,
regressam de novo a casa.
Quem quer que sejas, pouco importa quão solitário,
o mundo oferece-se à tua imaginação,
chama-te como os gansos selvagens, com rigor e entusiasmo
–vezes e vezes a anunciarem o teu lugar
na família das coisas."
(MARY OLIVER, "Dream Work", Grove, 1986. Tradução: José Luís Peixoto)

07 novembro 2006

[390] É de propósito?

Marques Mendes na Madeira e, hoje, no Parlamento.
Só pode estar tudo combinado... Ninguém faria pior, que Deus me perdoe!

05 novembro 2006

[389] Importa-se de repetir?

"O que é isso da classe média, a não ser um lugar comum?"
(José Sócrates, em declarações informais durante o voo Lisboa/Maputo, relatados pelo Público, "A viagem mais louca de Sócrates", 5-11-2006: aqui)

02 novembro 2006

[388] Pedaços de cultura: "o rosto de gregor samsa, naïve e nítido"

Inauguração da exposição de desenhos de valter hugo mãe, no dia 4-11-2006, das 16 às 20 horas, que poderá ser vista até 16-12-2006, na galeria Símbolo, na Rua de Miguel Bombarda, n.° 451, 4050-378 Porto.
Horário: de Segunda a Sábado, das 15 às 19 horas.
Contactos: Tel. n.º 226 099 349 • Fax n.º 226 002 026 • Tlm. n.º 917 262 214 • simbolo@sapo.pt
www.galeriasimbolo.com

[387] Limpezas de Outono

Economia, Saúde, Educação e Cultura.

01 novembro 2006

[386] Tão baça quanto a barragem...

... a nossa dignidade.
Cahora: fim do império, há muito decretado.

[385] Sem máscara e sem medo...

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
(Sophia de Mello Breyner Andresen, "Porque os outros se mascaram mas tu não")

31 outubro 2006

[384] O espírito da "modernidade"

"Já estou a ver que a senhora [Ségolène Royal, candidata às eleições presidenciais de 2007, em França] é da esquerda soft, como diz o Blair, ou moderna, como lhe chama o Sócrates. Quer dizer: a direita."
(leitor/blogger "reviralho", em comentário aqui: destaque nosso)

30 outubro 2006

[383] "Estado, funcionários públicos e os outros"

Pode um governo desenvolver um conjunto de acções tendentes a criar na opinião pública uma imagem extremamente negativa dos funcionários públicos?
Pode, por razões estratégicas, mas não deveria. Por dois motivos: primeiro, a maioria dos aspectos negativos deve ser imputada à própria entidade patronal (Estado); segundo, a "mensagem" é injusta por revelar apenas um dos lados da apreciação.
Consideremos apenas alguns dos aspectos consolidados na opinião pública: existe um excesso de funcionários (alguns, em serviços desnecessários), são pouco produtivos ou mesmo ineficientes, ganham demasiado, têm tido emprego garantido e um sistema de protecção social muito generoso.
Os três primeiros aspectos, para além de não poderem ser generalizados a uma "massa" indiscriminada de trabalhadores, ocultam o papel activo de sucessivos governos na contratação indiscriminada, na indefinição de funções e objectivos, na ausência de uma avaliação de desempenho séria, na falta de coragem em dizer "não" em alguns processos negociais, na nomeação de altos dirigentes que até desconhecem os recursos humanos que têm de gerir. O quarto aspecto, verdadeiro, tem raízes históricas: as ditaduras sempre protegeram os servidores do Estado (designação ainda existente na entidade responsável pela protecção na doença, a ADSE).
Deverá o Governo extinguir organismos, avaliar as necessidades em recursos humanos, implementar uma avaliação de desempenho rigorosa, eliminar os subsídios indevidos e as remunerações extraordinárias que não correspondam a trabalho extraordinário? Claro que sim. Agiu bem o Governo ao harmonizar os sistemas de pensões? Claro que sim.
Então, o que é que o Governo se esquece de transmitir para a opinião pública? Três questões essenciais.
Em primeiro lugar, os funcionários públicos constituem uma fonte certa de receita fiscal já que não existem declarações abaixo das remunerações efectivas ou outras formas de evasão em sede de IRS.
Em segundo lugar, os funcionários públicos pagam taxas específicas para o sistema de pensões (tal como no sector privado) e para a protecção na doença, com retenção na fonte e sobre remunerações efectivas.
Em terceiro lugar, a necessidade de aumentar a comparticipação para a ADSE é fortemente explicada pelo congelamento salarial dos últimos anos, logo pela redução da receita desta entidade. Como esta explicação não era "politicamente correcta", o Governo preferiu passar a mensagem que as despesas de saúde dos funcionários públicos não devem ser pagas pelos outros. Pois é, também muitos dos funcionários públicos não gostam de pagar impostos para os outros, sejam eles quem forem!
(Manuela Arcanjo, Professora no ISEG, in Diário de Notícias, 16-10-2006)

27 outubro 2006

[382] As palavras dos outros (6): carta aberta ao Sr. Eng.º Sócrates

Esta é a terceira carta que lhe dirijo.
As duas primeiras motivadas por um convite que formulou, mas não honrou, ficaram descortesmente sem resposta. A forma escolhida para a presente é obviamente retórica e assenta NUM DIREITO QUE O SENHOR AINDA NÃO ELIMINOU: o de manifestar publicamente indignação perante a mentira e as opções injustas e erradas da governação.
Por acção e omissão, o Senhor deu uma boa achega à ideia, que ultimamente ganhou forma na sociedade portuguesa, segundo a qual os funcionários públicos seriam os responsáveis primeiros pelo descalabro das contas do Estado e pelos malefícios da nossa economia. Sendo a administração pública a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, é quase masoquista o seu comportamento.
Desminta, se puder, o que passo a afirmar:
1.º Do Statistics in Focus n.º 41/2004, produzido pelo departamento oficial de estatísticas da União Europeia, retira-se que a despesa portuguesa com os salários e benefícios sociais dos funcionários públicos é inferior à mesma despesa média dos restantes países da Zona Euro.
2.º Outra publicação da Comissão Europeia, L'Emploi en Europe 2003, permite comparar a percentagem dos empregados do Estado em relação à totalidade dos empregados de cada país da Europa dos 12. E o que vemos? Que, em média nessa Europa, 25,6 por cento dos empregados são empregados do Estado, enquanto em Portugal essa percentagem é de apenas 18 por cento. Ou seja, a mais baixa dos 12 países, com excepção da Espanha. As ricas Dinamarca e Suécia têm quase o dobro, respectivamente 32 e 32,6 por cento. Se fosse directa a relação entre o peso da administração pública e o défice, como estaria o défice destes dois países?
3º. Um dos slogans mais usados é do peso das despesas da saúde. A insuspeita OCDE diz que na Europa dos 15 o gasto médio por habitante é de 1458. Em Portugal esse gasto é 758. Todos os restantes países, com excepção da Grécia, gastam mais que nós. A França 2730, a Austria 2139, a Irlanda 1688, a Finlândia 1539, a Dinamarca 1799, etc.
Com o anterior não pretendo dizer que a administração pública é um poço de virtudes. Não é. Presta serviços que não justificam o dinheiro que consome. Particularmente na saúde, na educação e na justiça. É um santuário de burocracia, de ineficiência e de ineficácia. Mas infelizmente os mesmos paradigmas são transferíveis para o sector privado. Donde a questão não reside no maniqueísmo em que o Senhor e o seu ministro das Finanças caíram, l
ançando um perigoso anátema sobre o funcionalismo público. A questão reside em corrigir o que está mal, seja público, seja privado. A questão reside em fazer escolhas acertadas.
O Senhor optou pelas piores. De entre muitas razões que o espaço não permite, deixe-me que lhe aponte duas:
1.º Sobre o sistema de reformas dos funcionários públicos têm-se dito barbaridades. Como é sabido, a taxa social sobre os salários cifra-se em 34,75 por cento (11 por cento pagos pelo trabalhador, 23,75 por cento pagos pelo patrão). OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS PAGAM OS SEUS 11 POR CENTO! Mas O SEU PATRÃO ESTADO NÃO ENTREGA MENSALMENTE À CAIXA GERAL DE APOSENTAÇÕES, COMO LHE COMPETIA E EXIGE AOS DEMAIS EMPREGADORES, os seus 23,75 por cento. E é assim que as "transferências" orçamentais assumem perante a opinião pública não esclarecida o odioso de serem formas de sugar os dinheiros públicos.
Por outro lado, todos os funcionários públicos que entraram ao serviço em Setembro de 1993 já verão a sua reforma ser calculada segundo os critérios aplicados aos restantes portugueses. Estamos a falar de quase metade dos activos. E o sistema estabilizará nessa base em pouco mais de uma década.
Mas o seu pior erro, Senhor Engenheiro, foi ter escolhido para artífice das iniquidades que subjazem à sua política o ministro Campos e Cunha, que não teve pruridos políticos, morais ou éticos por acumular aos seus 7.000 Euros de salário, os 8.000 de uma reforma conseguida aos 49 anos de idade e com 6 anos de serviço. E com a agravante de a obscena decisão legal que a suporta ter origem numa proposta de um colégio de que o próprio fazia parte.
2.º Quando escolheu aumentar os impostos, viu o défice e ignorou a economia. Foi ao arrepio do que se passa na Europa. A Finlândia dos seus encantos baixou-os em 4 pontos percentuais, a Suécia em 3,3 e a Alemanha em 3,2.
3.º Por outro lado, fala em austeridade de cátedra e é apologista, juntamente com o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, da implosão de uma torre (Prédio Coutinho) onde vivem mais de 300 pessoas. Quanto vão custar essas indemnizações, mais a indemnização milionária que pede o arquitecto que a construiu, além do derrube em si?
4.º Por que não defende V. Ex.ª a mesma implosão de uma outra torre, na Covilhã (ver 'Correio da Manhã' de 17/10/2005), em tempos defendida pela Câmara, e que agora já não vai abaixo? Será porque o autor do projecto é o Arquitecto Fernando Pinto de Sousa, por acaso pai do Senhor Engenheiro, Primeiro Ministro deste país?
Por que não optou por cobrar os 3,2 mil milhões de Euros que as empresas privadas devem à Segurança Social?
Por que não pôs em prática um plano para fazer a execução das dívidas fiscais pendentes nos tribunais tributários e que somam 20 mil milhões de Euros?
Por que não actuou do lado dos benefícios fiscais que em 2004 significaram 1.000 milhões de Euros?
Por que não modificou o quadro legal que permite aos bancos, que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento de impostos?
Por que não renovou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento que permitiu à PT não pagar impostos pelos prejuízos que teve no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6.500 milhões de Euros de receita perdida?
A Verdade e a Coragem foram atributos que Vossa Excelência invocou para se diferenciar dos seus opositores.
QUANDO SUBIU OS IMPOSTOS, QUE PERANTE MILHÕES DE PORTUGUESES GARANTIU QUE NÃO SUBIRIA, FICÁMOS TODOS ESCLARECIDOS SOBRE A SUA VERDADE. QUANDO ELEGEU OS DESEMPREGADOS, OS REFORMADOS E OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS COMO PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE COMBATE AO DÉFICE, PERCEBEMOS DE QUE TEOR É A SUA CORAGEM.

(Santana Castilho, Professor do Ensino Superior, Coordenador na Escola Superior de Educação de Santarém: cortesia do leitor "pedro", por correio electrónico. Destaques, a negrito, nossos)

26 outubro 2006

[381] A vida é bela! (6)

"(...) Antigamente, rapazes e raparigas entendiam-se como se entendem hoje. Não tinham era o à vontade que há hoje. Você não faz ideia do pavor que era namorar! Vocês hoje não têm a mínima noção disso. Vocês vivem no paraíso! Mas a grande revolução foi a pílula. Não estou a falar por mim que eu nunca tomei essa porcaria. Detesto isso.
Eu sou contra o aborto. Eu não acho bem que se prendam as pessoas, mas sou contra o aborto. Eu sou a favor da Natureza. A Natureza não é a favor do aborto.
Há pessoas que não podem criar os filhos? Isso é conversa! Sim, tudo se cria. Tem em mim o exemplo. Eu, sem dinheiro nenhum, sem emprego nenhum, tenho 8 filhos. Isso é conversa, isso é uma cobardia que esses gajos instigam. Não, não misture as coisas. O referendo não é a favor do aborto. Eu desisti um bocadinho da política porque fui lá de propósito para votar a favor da despenalização do aborto e foi o que se viu. Com certeza que sou a favor da despenalização. Andarem aí a prender as raparigas, isso é um disparate.
O Estado é que não quer dar o apoio à mãe solteira. Haviam de ter apoio, tudo de borla, para elas e para os filhos. Filhos indesejados? Vamos lá a ver: uma rapariga que vai para a cama com um rapaz sabe que se arrisca. (...)"
(Luís Pacheco, Público, 28-3-2004: cortesia do leitor "Reprobo")

[380] As palavras dos outros (5): credibilizar, não domesticar!

«As razões teórico-jurídicas que legitimaram as opções que os pais fundadores [da actual República] assumiram ainda permanecem válidas nos dias de hoje.
Mau grado isso, tem-se assistido a uma deslegitimação larvar e surda dos tribunais a que não escapa mesmo este Supremo, cúpula geral do sistema; processo filtrado, com frequência, em notícias vindas a lume na comunicação social e que só podem ser lidas como a mensagem criptada de poderes fácticos.
Desde o acórdão deste Supremo (recurso penal n.º 3250/04) que recusou ao arguido (que assassinara a mulher) a atenuação especial da pena que ele pretendia, por "negligência culinária" ou por saídas a sós dela, condenando-o tabelarmente a 14 anos de prisão, e apareceu na imprensa exactamente ao contrário como se tivesse havido atenuação extraordinária e o Supremo estivesse fora do mundo; até ao acórdão que usou o conceito jurídico de
"bom pai de família", oriundo do direito romano, usado comummente na ordem jurídica europeia e que varre áreas tão diversas como a definição da culpa nos acidentes de viação ou a origem de servidões prediais, e que foi apresentado mediaticamente como reflexo de uma visão quase neo-fascista da sociedade - tudo serviu para descredibilizar, deslegitimando, provavelmente para que a seguir se "legitime", credibilizando, uma nova estrutura constitucional diferente daquela que os pais fundadores nos legaram

[379] A crise em Portugal, vista pelos deputados

Na edição do "Diário de Notícias" de 20 de Outubro de 2006 vem, na página 4, uma pequena, mas muito interessante, notícia.
Reza a mesma que a Assembleia da República aprovou no dia anterior, em plenário, o seu próprio Orçamento para 2007, do qual faz parte uma verba total para "obras de remodelação das bancadas e do sistema de ar condicionado" de mais de 3 milhões de euros (cerca de 600.000 contos na moeda antiga).
Se aqui começamos a ficar no mínimo indignados, o pior está, no entanto, para vir: para adaptação do sistema de votação electrónica dos deputados (sistema esse que existe há muito pouco tempo), o Estado prepara-se para gastar, pasme-se, um milhão e cem mil euros!
(adaptado da notícia reportada pelo leitor "pedro", por correio electrónico)

25 outubro 2006

[378] A crise em Portugal, vista por Espanha

«A crise em Portugal foi tema de um documentário de 45 minutos transmitido ontem à noite no programa "En Portada", um dos principais espaços de grande reportagem do canal 2 da televisão espanhola, TVE. A descrição foi a de um país que "é o mais desigual da Europa, onde 20 por cento da população roça a pobreza" e no qual a população vive "com a auto-estima mais baixa da UE a 25", num clima de "depressão e desânimo".
Percorrendo Portugal de Norte a Sul e registando declarações de membros do Governo, especialistas, académicos, autarcas e cidadãos anónimos, o programa abordou alguns dos aspectos mais preocupantes da realidade social e económica portuguesa.
Temas como a desertificação, o isolamento do interior, o fecho de serviços de saúde e escolas devido ao despovoamento de várias regiões, a burocracia, os atrasos nas obras e as perdas de empregos na indústria marcaram a viagem da equipa de reportagem espanhola.
O documentário visitou, entre outras, povoações como Escalhão, próximo do Vale do Côa, onde um pastor dizia que "até as pedras levam", numa referência à venda de granito para Espanha.
A aldeia de Rabal, Bragança, a cidade de Mirandela, em Trás-os-Montes, as lotas de Peniche e de Lagos foram algumas das regiões percorridas. Ao longo dos 45 minutos, o documentário descreveu a situação que vivem povoações isoladas "onde o ciclo vicioso" do despovoamento levou os habitantes a sentirem-se isolados e esquecidos pelos centros de poder.
"A economia expandiu-se, com a adesão à Europa, mas não se modernizou", referia o documentário, notando, por exemplo, a falta de modernização de algumas fábricas têxteis ou as dificuldades da frota de pesca portuguesa que traz para terra apenas 25 por cento do que o país consome.
O documentário incluiu referências aos 60 milhões de euros acima do previsto que custaram os estádios do Euro 2004, aos atrasos na extensão do Metro e no Túnel do Marquês.
Difícil situação económica:
Com declarações de Victor Constâncio, sobre o défice das contas públicas, do ministro da Economia Manuel Pinho, sobre os objectivos do Governo de "ajustar as contas públicas e estimular empresas privadas", o documentário procurou apresentar um retrato da situação económica em Portugal.
Referiu, por exemplo, que "no meio da crise, o sector da banca registou um aumento de 30 por cento nos lucros" e que, "numa contradição evidente", Portugal tem "um dos espaços comerciais maiores da Europa". "Apesar de tudo, o consumo teima em não baixar", comentou o autor da reportagem.
Aludindo à governação de José Sócrates, o documentário referiu que o primeiro- ministro "não tem contestação no Governo", que as críticas da oposição "são débeis" e que, ao fim do mandato, "o sucesso ou o falhanço da agenda de governação dependerá exclusivamente do chefe do Governo".
Apesar da crise, o documentário dá conta dos esforços em várias áreas para ultrapassar a situação, modernizar a indústria, requalificar zonas turísticas no Algarve e reforçar o investimento em investigação e tecnologia.
Como exemplo, cita o sucesso de algumas fábricas de têxtil e calçado, o modelo adoptado na AutoEuropa e os avanços no sector da cortiça, visitando ainda o centro de formação de Famalicão.
Igualmente a merecer atenção a tentativa de várias zonas mais isoladas do interior português de apostarem em acções conjuntas transfronteiriças com vizinhas espanholas, no intuito de criar "euro-regiões" que possam beneficiar de mais apoios europeus.
"É um país sereno, educado, por vezes lento, que luta à sua maneira para sair da crise. Das várias crises", conclui o documentário.»
(21.10.2006 - 13h58, Lusa)

[377] Livre, ma non troppo...

«Não sendo subscritor, genericamente, das teses dos chamados "neo-con", não vejo qual o problema de haver imprensa dessa área... ou a liberdade de imprensa só existe se todos forem "neo-labour"?
Aliás, prefiro que todas essas correntes estejam claramente identificadas na imprensa e na política (através de declarações de interesses), de modo a que as escolhas se façam em consciência.
Pior é ter "neo-cons" travestidos de socialistas...»
(Núncio, em comentário deixado aqui, na sequência da reflexão feita no post "[370] Lendo os outros: auto-censura?", de 23-10-2006)

24 outubro 2006

[376] Serviço público: mapa de viagens

[375] A vida é bela! (5)

"Quando tiramos a vida aos homens, não sabemos nem o que lhes tiramos, nem o que lhes damos".
(Lord G. G. Byron, poeta inglês, 1788-1824)

[374] A vida é bela! (4)

"(...) sagro estes ossos que, póstumos,
recusam-se à própria sorte,
como a dizer-me nos olhos:
a vida é maior que a morte."
(Ivan Junqueira, poeta brasileiro, A Sagração dos Ossos, para Bruno Tolentino)

[373] A vida é bela! (3)

[372] A vida é bela! (2)

[371] A vida é bela!

«E receio bem a herança que vamos deixando aos nossos descendentes: um mundo em regressão civilizacional que vai cedendo paulatinamente ao relativismo individualista e ao novel moralismo hedonista.»
(João Távora, "Por causa do Não", Blogue do Não - Portugueses Livres, 23-10-2006)

23 outubro 2006

[370] Lendo os outros: auto-censura?

«(...) há uma razão muito simples, que ninguém quer admitir, e que tem a ver com a permanência nos valores mentais, nos hábitos da nossa democracia, dos quadros do Portugal de Salazar. Valores como o "respeitinho", a hipocrisia pública, a retórica antipolítica, a tentação de considerar que o suprapartidário é bom, a obsessão pelo "consenso", o medo da controvérsia, a cunha e a clientela, mesmo a corrupção pequena, a falta de espírito crítico desde as artes e letras até à imprensa e Igreja, tudo vem do quadro do salazarismo e reprodu-lo. O medo do conflito, essa tenebrosa herança de 48 anos de censura, permanece embrenhado na vida política da democracia e isso dá vida à nostalgia da pasmaceira vigiada de Salazar.
(...) O que me interessa é recensear que atitudes, nostalgias, hábitos, costumes, práticas, que ninguém associa a Salazar, mas vêm directamente dele e do Estado Novo, continuam vivos, adoecendo a nossa democracia. Isso sim, é importante.»
(J. Pacheco Pereira, Abrupto, "Porque razão a Democracia tem medo de Salazar, versão 2.0": o destaque é nosso)
*
Dificilmente haverá melhor exemplo desta vigilância provinciana e castradora do que aquela a que a "imprensa livre e democrática" se auto-submete, todos os dias, em todos os meios.
A liberdade e a democracia têm, quanto à imprensa nacional, um sentido meramente formal, senão mesmo caricatural.
Quase toda ela é administrada pela Sonae, pela Lusomundo e pelos grupos económico-financeiros afins (os quais, pela natureza das coisas, não podem ter uma visão desinteressada e distante dos factos e das notícias, como ainda recentemente se tornou embaraçosamente evidente a propósito das férias judiciais, da restruturação da Administração Pública e da greve dos professores).
A que não é detida por tais empresas privadas, é indirectamente controlada pela maior empresa privada do país, com sede ali na Gomes Teixeira (e isso o anteprojecto de proposta de lei sobre limites à concentração da titularidade nas empresas de comunicação social, em discussão pública até ao fim do mês, não vai resolver, nem pretende...)
Por outro lado, a maior parte dos editoriais (escritos por e para minorias influentes) e artigos de opinião (de forte pendor encomiástico) tem, sob a capa da isenção e objectividade, uma indisfarçável adesão a preconceitos político-partidários (contem-se os deputados, ex-ministros, autarcas e "agentes" culturais, entre outros, que engrossam as listas de comentadores e analistas, até de futebol!), o que seria aceitável se houvesse uma inequívoca declaração prévia de interesses... Onde está ela? Viram-na?
(continua oportunamente)

[369] Civilização ou destruição?

"(...) acho que a defesa da vida, ainda que em forma potencial, é um valor civilizacional do mais avançado que existe, até porque se prende com o alargamento do conteúdo de um direito fundamental que é basilar para todas as civilizações: o direito à vida."
(comentário anónimo, às 1:59, a este post do João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos)

17 outubro 2006

[368] Inconfidências e incoerências

Todos têm direito à privacidade e intimidade (que não se confundem). Ninguém deve ser prejudicado (nem beneficiado), pessoal ou profissionalmente, por factos dessas duas esferas (desde que, obviamente, sejam lícitos ou legítimos). Incluindo namoradas de políticos.
Dito isto, que reconheço banal, direi o seguinte.
Quando se aceita o pedido de namoro de uma tal personalidade, deve ter-se consciência plena das consequências de tal relação. Sobretudo se se for jornalista/analista/comentadora. Em primeiro lugar (e longe de tentar escrever a "Bíblia" do jornalismo), nunca por nunca usar como fonte privilegiada/anónima o PM. Nenhum facto que chegou ao seu conhecimento por intermédio do PM deve ser revelado, comentado, trocado. Justamente por se tratar de uma relação do foro privado, o PM não pode ser fonte informativa nem musa inspiradora.
O que nos leva a um segundo cuidado especialíssimo: é de evitar a todo o custo comentar/analisar factos directamente relacionados com o desempenho do PM (ou do namorado politico). Se fossem censuras, soariam a falso (quiçá, injustamente); se fossem encómios, seriam completamente despropositados numa namorada.
Daqui à terceira reflexão vai um pequeníssimo salto: é que, tendo sido jornalista (brilhante ou opaca, pouco importa), não é pelo facto da relação ser do foro privado que ela se torna irrelevante para a carreira profissional. Pelo contrário, ser namorada do PM é muítissimo relevante, pelas razões já aduzidas e por uma mais e que está bem documentada neste post de JG e também na resposta da visada: a pessoa é una, não há dupla nem tripla personalidade (espera-se) nem se é uma cómoda onde se arrumam por gavetas os sentimentos, os valores, as convicções, os desejos, as dúvidas e as ideologias. E sendo una, é sempre a jornalista/namorada que está presente e isso requer, por se tratar de um "superestatuto", uma "superexigência".
(Núncio, comentário deixado aqui)

16 outubro 2006

[367] Certo, mas...

*
E não teríamos muito mais receitas com um sistema de tributação mais justo e mais eficiente? Ou já se esqueceram dos modelos sueco e finlandês?

[366] Cuidado!

Nesta época conturbada, é preciso estarmos alerta, como os jovens e esperançosos escoteiros...
Destruição de fronteiras, destruição do meio ambiente, destruição de valores, destruição da memória.
São tempos pré-totalitários, de que a doutrina do politicamente correcto é o seu principal mensageiro...

[365] Já há 27 anos...

"Magistratura que, caluniada e mal remunerada, assoberbada de trabalho e de recomendações de pressa e urgência e informações estatísticas, consciente ao mesmo tempo, por um lado, da sua posição na sociedade e das exigências dessa posição e, por outro, da falta clamorosa de meios de toda a ordem, continua heroicamente a desempenhar o seu mister, e não é, nem de longe, a maior culpada da progressiva degradação dos serviços judiciários." (1)
(1) Prof. J. Castro Mendes, em "Estudos Sobre a Constituição", coord. de Jorge Miranda, Lisboa, 1979, vol. III, pág. 659.
(cortesia de "pedro", via electrónica)

[364] Não há mais ninguém para lhes bater?

"(...) a que níveis gostaria que os funcionários públicos (FP) portugueses as melhorassem [a produtividade e qualidade do seu trabalho]? Aos níveis médios de produtividade e qualidade do sector privado (SP) nacional, por sinal dos mais baixos da União Europeia?
Porque hão-de dar os FP (cerca de 700 mil) aquilo que não dá o SP (cerca de 5 milhões)? Sempre julguei que a riqueza de um país fosse o resultado da produção das suas empresas, das suas indústrias, da sua agricultura, dos seus comerciantes, dos seus serviços e da receita cobrada a TODOS os trabalhadores..."
(Núncio, em comentário deixado a um leitor daqui)

[363] Pode repetir?

(Ana Catarina Mendes, vice-presidente do grupo parlamentar socialista)
*
Permito-me sugerir, com base no critério fixado por esta alta responsável parlamentar, os próximos temas referendários:
- "o que se pretende não é fazer um apelo ao contrabando, mas sim, sabendo que ele existe, promover a sua realização em condições dignas";
- "o que se pretende não é fazer um apelo à imigração, mas sim, sabendo que a imigração ilegal existe, promover a sua realização em condições dignas";
- "o que se pretende não é fazer um apelo ao doping, mas sim, sabendo que a dopagem ilegal existe, promover a sua realização em condições dignas";
- "o que se pretende não é fazer um apelo à estética da magreza, mas sim, sabendo que a anorexia existe, promover a sua realização em condições dignas";
- "o que se pretende não é fazer um apelo ao tráfico de órgãos, mas sim, sabendo que o seu comércio ilegal existe, promover a sua realização em condições dignas".

[362] Antes que seja tarde demais...

A propósito disto e disto:
"Embora de forma áspera e cruel, JAS (de cuja escrita e "doutrina" não sou particular adepto) diz o essencial sobre os nossos tempos, na Europa e em Portugal: (quase) toda a legislação, regulamentação e promoção é negativa, destruidora, asfixiante!
Não se vive em serenidade, mas em stress; não se apela à compaixão, mas à competitividade; não se procura o bem, mas o mal menor; não se educa, "instrói-se"; não se combate a pobreza nem a solidão, antes se desertifica e exclui-se; não se cria riqueza, [consome-se]; não se poupa, gasta-se; não se valoriza a vida, facilita-se a morte..."
(Núncio, em comentário deixado aqui)

11 outubro 2006

[361] Palavras antes do tempo

"O projecto MIT-Portugal começou por ser um grande projecto. Recentemente passou a ser um projecto pequeno e de reduzido impacto. Infelizmente, mais do que nunca, Portugal precisa de grandes projectos, projectos ambiciosos. Projectos capazes de envolver os cidadãos e os diversos sectores da sociedade. Um fenómeno sintomático de um país em vias de crise em quando se fala sobretudo sobre o que o país foi no passado. Nao quero dizer com isto que se perca a nossa identidade. De forma alguma. Contudo, quando as memórias excedem os sonhos, é porque a sociedade não acredita em si, não acredita no futuro. Se excluírmos a passagem da ditadura à democracia, Portugal já nao arrisca há cerca de 500 anos. No caso do MIT-Portugal voltou a não fazê-lo, apesar de ter como parceiro a melhor escola do mundo de engenharia e de tecnologia.

Que Portugal e os portugueses têm inegável potencial e valor, não restam dúvidas. No entanto, queremos continuar a sustentar esta postura autoritária, paternalista, obsoleta, vigente no programa MIT-Portugal, ou queremos seguir em frente e ser o que potencialmente podemos ser? O futuro o dirá. Mas uma coisa é certa: se não formos nós portugueses a fazê-lo, ninguém o fará
."

07 outubro 2006

[360] Me engana que eu gosto...

(Luís M. Jorge, O franco-atirador, 4-10-2006: destaque nosso)
*
"Nossos" impostos? De quem? Dos construtores civis? Dos advogados? Dos futebolistas? Dos empresários? Dos banqueiros? Dos jornalistas "free-lancers"? Dos arquitectos?
Não. Ironicamente, dos funcionários públicos... Ou seja, a percentagem dos impostos que se destina a pagar os salários daqueles que contribuem esmagadoramente para esses impostos não é mais pequena porque muitos não-funcionários públicos não pagam aquilo que deveriam pagar e que faria com que o bolo fosse bem maior e, assim, já os salários dos infelizes funcionários públicos poderiam apenas corresponder a 40% dos impostos!
É a evasão fiscal, stupid!

[359] As palavras que te direi...

"Lula é um pouco um caudilho, com alguns traços mais do peronismo do que do chavismo." Para o ex-presidente, é justamente por ter esse perfil que o petista "não tem herdeiros" [políticos]. "Um caudilho acredita sempre que é único."
Falou também de Lula como um "símbolo", (...). "Lula é uma pessoa excepcional, que veio do nada. Mas é uma pena, porque está eliminando o simbolismo de sua figura. Lula nunca foi líder, mas sim um símbolo. É importante que um país tenha símbolos e inclusive mitos. Mas agora o Lula presidente está matando o Lula símbolo".
(Fernando Henrique Cardoso sobre Luís Inácio "Lula" da Silva, aqui)

30 setembro 2006

[358] Cidadania é isto!

Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses,

Joaquim Manuel Coutinho Ribeiro, eleitor n.º 6 da freguesia de Soalhães, vem expor e requerer a V. Ex.ª o seguinte:

1. Na reunião da Assembleia Municipal do passado dia 29, ouvi V. afirmar que, a partir desta semana, iria passar a dispor de um Audi A6.

2. E percebi, das suas palavras, que não se tratava de um acto de vaidade pessoal, mas uma forma de melhorar a imagem do município, pois que a viatura estaria ao serviço do município e não do seu presidente.

3. Reflectindo sobre o assunto, lembrei-me de que o Audi do município poderá
resolver-me um problema logístico que tenho em mãos.

4. No próximo dia 13, é o casamento da minha prima Ester (jovem médica) com o David (jovem médico).

5. Pediu-me a minha prima que a transportasse à Igreja, ao que eu anuí.

6. Lembrei-me, depois, que o meu carro só tem duas portas o que, convenhamos, não é muito operacional para o efeito, sobretudo para entradas e saídas, já que o vestido poderá ficar agarrado e eventualmente rasgar-se.

7. Foi desta forma que me lembrei que, sendo eu munícipe do Marco, e estando o Audi ao serviço do município, seria um acto da maior justiça que eu pudesse transportar a minha prima ao casamento no A6.

8. Ainda pensei que talvez pudesse requerer a utilização do jeep Toyota, mas temo que os convidados possam gozar a noiva por se deslocar em em tal veículo.

9. Opto, pois, pelo Audi, com a promessa de que o entregarei lavado e com o combustível reposto.

10. Dispenso o motorista.

Face ao exposto, requeiro a V. Ex.ª se digne emprestar o A6 para utilização deste modesto munícipe no próximo dia 13, durante todo o dia.

Pede deferimento,

Joaquim Manuel Coutinho Ribeiro
(recebido por correio electrónico)

24 setembro 2006

[357] Os sinais presidenciais

El País: Su regreso a la política pareció el de un salvador de la patria. ¿Añoraba el poder?
Cavaco Silva: No creo en salvadores. Las circunstancias mandan. Hoy estoy aquí sentado gracias a que antes estuve ahí [hace un vago gesto señalando su escritorio] como primer ministro, relacionándome con un presidente de la República que no era de mi partido [Soares]. Creo que eso fue enriquecedor para mí. Tenía una vida estupenda, nunca me hubiera presentado si no hubiera estado absolutamente convencido de que podía contribuir a situar a Portugal otra vez en la senda del crecimiento. Y sin querer volver a gobernar, ni a legislar, porque el presidente no gobierna ni legisla. Aunque, eso sí, tiene la fuerza que da haber sido elegido directamente por el pueblo.
(Aníbal Cavaco Silva, El País, 24-9-2006: sublinhado nosso)

23 setembro 2006

[356] Pintura do mundo: fully regret




Fully Regret I, II, e III (1990),
Roberto González-Fernández (n. Lugo - Espanha, 1948):

[355] Nostra culpa

João,
para qualquer Estado de Direito, ter tido Souto Moura como PGR teria sido um privilégio e uma garantia de isenção e seriedade. Em Portugal, foi um incómodo porque a malta gosta é dos majores, das fátimas pérons, do marocas e dos white-castles!
Francamente, nem sei como o PGR aguentou estoica e solitariamente o peso de tal missão até ao fim...
Entristece-me ver que, afinal, Portugal não tem elites porque, se as tivesse, não teriam permitido que o regime destruísse o PGR e, com ele, a possibilidade de regeneração da III República.
Assim, que venha o próximo, garante de que tudo voltará à mediocridade, perdão, normalidade...
(Núncio, comentário deixado aqui)

[354] As Cruzadas dos nossos tempos...

(Pacheco Pereira, O Abrupto, 22-9-2006)

17 setembro 2006

[353] Tudo bons rapazes...

Na sequência das transcrições de escutas telefónicas aos arguidos do processo judicial conhecido por "Apito Dourado" que alguma imprensa (DN, CM e Público) tem vindo, selectiva e estrategicamente, a divulgar, foi publicada uma, na sexta-feira 8/9/2006, que envolvia indirectamente João Ferreira, árbitro de futebol.
No dia seguinte, esse árbitro apitou o Boavista-Benfica e, ontem, o Sporting-Paços de Ferreira.
Estranhamente, foi indicado para apitar dois "Grandes" em jogos consecutivos, o que é raríssimo - e pode ser facilmente demonstrado.
Os dois jogos foram assinalados por ocorrências infelizes e anómalas (expulsões, golos irregulares, etc.)
Curiosamente, ambos os clubes lisboetas perderam...

[352] Memórias de uma professora titular

«O importante é chegar a professora titular.
Foi com este pensamento que tracei a rigor o meu destino, há tantos anos atrás. Filhos, tê-los-ei aos quarenta, antes nem pensar, pois quatro meses de licença de maternidade lançar-me-iam irremediavelmente no nível Regular, impedindo-me a tão desejada progressão na carreira.
E assim foi. Tudo me correu lindamente até ao décimo sétimo ano de leccionação. E ao longo desses anos aprendi a agradar a todos, aos alunos, aos pais e ao executivo da escola. Porque chegar a professora titular implicava uma escolha entre outros muitos candidatos, a quem tudo tinha corrido igualmente bem. Cheguei, inclusivamente, a ter alunos que passavam o fim-de-semana comigo e com a minha família. E eu até lhes passava as t-shirts a ferro e fazia trancinhas no cabelo das meninas. E um dia a televisão bateu-me à porta para fazer uma reportagem, assim inesperadamente. Era eu de avental a servir-lhes a sopinha, a dar-lhes conselhos e a fazer-lhes festinhas na cabeça. E o jornalista até me perguntou se também lhes cantava canções de embalar e eu disse-lhe logo que sim, que até lhes lia os "Versos de fazer ó-ó", do José Jorge Letria, e que, depois de adormecerem, aproveitava para lhes ir lendo o "Memorial do Convento". E expliquei-lhes que a leitura durante o sono era um método totalmente inovador em que tudo se apreende de forma suave e que assim não havia o trauma de o livro ser grande ou de os jovens não perceberem as palavras e terem de ir ao dicionário, que isso dá muito trabalho, coitadinhos!
Tudo me corria às mil maravilhas até ao dia em que uma apendicite aguda me levou à cirurgia. Oh, maldita apendicite! E voltei à escola ainda com os pontos fresquinhos, a pensar que só tinha dado cinco faltas. Mas enganara-me nas contas com a história da anestesia. Afinal eram seis as faltas, seis! E já não teria Bom na avaliação, somente um Regular. E já não passaria a professora titular. Foram mais seis anos de espera. Deixa, aos quarenta e seis ainda vou a tempo de ser mãe. É uma gravidez de risco mas isso que tem, se há já quem tenha os filhos aos cinquenta, aos sessenta e qualquer dia aos cem! Mas aos quarenta e cinco foi a hérnia discal. Oh, maldita hérnia discal!Ainda pensei em ir de cadeira de rodas ou se necessário fosse, de maca, mas o médico chamou-me louca e reteve-me dez longos dias no hospital.
E foi assim que somente aos cinquenta e dois cheguei a professora titular. Era tarde demais para ser mãe. Mas, meu Deus! Eu era professora titular! Fiquei tão radiante que até me lembrei de bordar em todos os lençóis de renda, em arabescos graciosos, "professora titular", "professora titular" em toalhas e em quadros de ponto cruz, "professora titular", " professora titular". E depois mandei gravar em todas as minhas canetas e no estojo dos lápis, "professora titular", "professora titular" e na porta do meu carro e no guarda-chuva e no guarda-sol porque, faça sol ou faça chuva, eu sou professora titular!
Agora que sou professora titular tenho, além das aulas, muitos e variados cargos que me dão tanto que fazer. Mas ainda vou arranjando um tempinho para ir aconselhando os novos e vou-lhes ensinando como se chega a titular e como é importante ir ao médico todas as semanas e levar todas as vacinas possíveis e imagináveis e como é totalmente recomendável andar com um triplo airbag no carro. E digo-lhes e repito-lhes: "professor prevenido vale por dois".
Mas, apesar de todos os meus conselhos e avisos, ainda há os que, desprezando-os, se vêem de repente em maus lençóis. Foi o caso de um brilhante ex-aluno meu, brilhante universitário, brilhante estagiário, brilhante professor que tendo passado com distinção o Exame de Estado e tendo obtido aprovação na entrevista, não conteve os seus impulsos mais genuínos e românticos durante o ano probatório, fruto da sua juventude e inexperiência, e não se cansou de defender o indefensável, a exigência, o rigor, a disciplina, criticando com excessivo entusiasmo o facilitismo reinante e não se cansou de duvidar e de contestar. E eu que lhe dizia: "Meu filho, tem tento na língua, como queres tu chegar a professor titular? Vá, aprende comigo e diz Ámen! Ámen!" Mas ele que não me ouviu. E deu-se o caso, vá lá saber-se porquê, de o jovem brilhante professor obter, no final do ano probatório, a infeliz classificação de 6,8 quando precisava apenas de 6,9 para integrar o quadro. E foi assim exonerado da profissão. E teve de arranjar logo umas tabuínhas para se ir juntar aos outros muitos professores, desempregados e exonerados, lá debaixo da ponte Vasco da Gama, porque ele me dizia que preferia a terra firme, senão tinha arranjado um botezinho como os outros fazem. E certa manhã ajudei-o a levar as tabuínhas e a construir a cabaninha debaixo da ponte. Era um dia brilhante, de cores perfeitas, em que o sol resplandecia sobre o rio azul e o sapal era verde marinho e gracioso, salpicado de aves pernaltas. Mas lá estavam as centenas de cabaninhas e os milhares de botes pacientemente amontoados. E ali tudo era cinzento e triste.
E foi nesse momento que caí em mim e vi a injustiça daquilo tudo. A minha luta para chegar a professora titular parecia-me agora absolutamente vazia e sem sentido. Eu deveria ter lutado sim, mas contra o "novo" estatuto da carreira docente de 2006! Por isso, como era urgente recuperar o atraso de trinta anos, transformei-me em gigante Adamastor e peguei nos milhares de professores e respectivas famílias que viviam nos botezinhos e nas cabaninhas e levei-os para o Ministério da Educação. Todo o edifício estremeceu à nossa chegada porque nós trazíamos uma tempestade de mil dias. Mas o "novo" estatuto depressa sucumbiu, de medo e de vergonha, porque muitas tinham sido as injustiças que criara. Adeus "novo" estatuto! Vai e não voltes nunca mais porque nós queremos mudança, mas não queremos injustiça!»
(Cristina Neves, professora de História, Faro: recebido por correio electrónico)

[351] Ironia dominical: a vida como ela é...

«À noite, a minha mulher e eu, sentados na sala, falávamos das coisas da vida. Abordávamos a temática de viver ou morrer "com dignidade". Na oportunidade, ocorreu-me dizer-lhe "nunca me deixes viver em estado vegetativo, dependendo de uma máquina e de uma garrafa de líquidos. Se me vires nesse estado, desliga as máquinas que me mantêm vivo"...
Ela levantou-se, desligou-me a televisão e despejou a cerveja fora.»
(recebido por correio electrónico, cortesia da leitora Cachopa)

14 setembro 2006

[350] Estadismo ou tacticismo?

«Nada disto teria acontecido se Sócrates tivesse uma visão estratégica das reformas que pretende fazer (ou de que só assumiu a necessidade depois de ter tomado posse como chefe do Governo) e não uma visão meramente táctica e instrumental da acção política que oscila em função das circunstâncias - e da qual já fez refém o seu próprio partido.
(...) era preciso que Sócrates tivesse a força de convicção e um genuíno sentido da necessidade de pactuar essas reformas para além de um horizonte de poder a curto/médio prazo, por considerá-las fundamentais para superar os bloqueios do País. Isso exigia, sobretudo, uma espessura de estadista com visão do futuro e não apenas empenhado em preservar, tão duradouramente quanto possível, a sua sobrevivência política.»
(Vicente Jorge Silva, DN, Opinião, 13-9-2006)

09 setembro 2006

[349] Pactos e factos

"Os diagnósticos estão feitos. O que os Portugueses esperam dos seus representantes, cada um com a sua própria responsabilidade, é acção, mais acção. (...)
Há seguramente domínios onde podem e devem ser procurados entendimentos alargados entre Governo e oposição e mesmo com organizações da nossa sociedade civil. É por tudo isto que me atrevo a deixar perante esta Câmara e perante os portugueses cinco grandes desafios (...).
(...)
O terceiro desafio é o da criação de condições para o reforço da credibilidade e eficiência do sistema de justiça.
(...)
A justiça constitui um valor superior da ordem jurídica, um fim irrenunciável do Estado e a primeira e última garantia dos direitos e liberdades das pessoas. Constitui responsabilidade inadiável das forças políticas, ouvindo os operadores judiciários, gerar os consensos indispensáveis para se poder assegurar o funcionamento de um sistema de justiça eficaz, caracterizado pela qualidade, pela certeza e pela responsabilidade das suas decisões.
É uma responsabilidade de todos contribuir activamente para que, em Portugal, tenhamos uma justiça que inspire a confiança dos cidadãos quanto à defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, que reprima as violações da legalidade e não seja obstáculo ao desenvolvimento equitativo do País.
O Presidente da República dará sempre o seu apoio às mudanças que se mostrem necessárias ao fortalecimento da legitimação democrática das instituições judiciárias, à garantia da sua independência, ao prestígio dos seus titulares e à eficácia da imprescindível função que a Constituição lhes atribui.
O quarto desafio diz respeito à sustentabilidade do sistema de segurança social. (...)"
*
O Presidente da República a cumprir, discreta e superiormente, a sua missão. Se dúvidas houvesse sobre a sua forte autoridade e "statesmanship"...
Segue-se a segurança social? Leia-se, a propósito, Paulo Gorjão.

20 agosto 2006

[347] Nota ético-jurídica: a fundamentação da decisão

A Escola Nacional de Magistratura do Brasil incluiu, na sexta-feira (30/6/2006), na sua base jurisprudencial, o despacho pouco comum do juiz Rafael Gonçalves de Paula, da 3.ª Vara Criminal da Comarca de Palmas, no Estado de Tocantins. O órgão considerou de bom senso a decisão do seu associado, mandando soltar Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, detidos sob a acusação de furtarem duas melancias.
DECISÃO
Trata-se de auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, que foram detidos em virtude do suposto furto de duas (2) melancias.
Instado a se manifestar, o Sr.Promotor de Justiça opinou pela manutenção dos indiciados na prisão.
Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos: os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Ghandi, o Direito Natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados e dos políticos do mensalão deste governo, que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na Universidade do Crime (o sistema penitenciário nacional)...
Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém.
Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário apesar da promessa deste presidente que muito fala, nada sabe e pouco faz.
Poderia brandir minha ira contra os neo-liberais, o consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização européia,....
Poderia dizer que George Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela Terra - e aí, cadê a Justiça nesse mundo?
Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante de tamanha obviedade.
Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas: não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir.
Simplesmente mandarei soltar os indiciados.
Quem quiser que escolha o motivo.
Expeçam-se os alvarás. Intimem-se.

Rafael Gonçalves de Paula,
Juiz de Direito
*
(recebido por correio electrónico)

14 agosto 2006

[345] Religar as actividades sociais

"São três as actividades sociais superiores – a política, a religião e a arte. Em cada um destes ramos da actividade social superior há o processo de captação e o processo de subjugação.
Na política há a democracia, que é a política de captação, e a ditadura, que é a política de subjugação. É democrático todo o sistema que vive de agradar e de captar – seja a captação oligárquica ou plutocrática da democracia moderna, que, no fundo, não capta senão certas minorias, que incluem ou excluem a maioria autêntica; seja a captação mística e representativa da monarquia medieval, único sistema portanto verdadeiramente democrático, pois só a monarquia, pelo seu carácter essencialmente místico, pode captar as maiorias e os conjuntos, organicamente místicos na sua profunda vida mental. É ditatorial todo o sistema político que vive de subordinar e de subjugar – seja o despotismo artificial do tirano de força física, inorgânico e irrepresentativo, como nos impérios decadentes e nas ditaduras políticas; seja o despotismo natural do tirano de força mental, orgânico e representativo, enviado oculto, na ocasião da sua hora, dos destinos subconscientes de um povo.
Na religião há a metafísica, que é a religião de captação, porque tenta insinuar-se pelo raciocínio, e explicar ou provar é querer captar; e há a religião propriamente dita, que é o sistema de subjugação, porque subjuga pelo dogma improvado e pelo ritual inexplicável, agindo assim directa e superiormente sobre a confusão das almas."
(Álvaro de Campos, "Apontamentos para uma Estética Não-Aristotética", in Athena, n. 3 e 4, Lisboa, Dezembro de 1924 e Janeiro de 1925: destaques nossos)
*
Percebem porque andam ditadura e religião (nas suas diversas roupagens, mesmo ou sobretudo a "não-religião") historica e inevitavelmente de mãos dadas?
Parafraseando Eduardo Pitta, "os clássicos são isto"...

[344] Citações do mundo: democracia

"[E]ducation as the true foundation of democracy."
(Winston Churchill, 'the American' - 1871/1947, "A Traveller In Wartime", aqui)

[343] As palavras dos outros (4): florestas (queimadas) de enganos...

"Nós não temos uma democracia: temos um regime de regras formais que permitem a democracia."
(Mário Pinto, PÚBLICO, 14-08-2006)
*
Como permitirão outro regime qualquer, porque a forma nunca prejudica a substância... E não andamos longe dessoutro, paradoxalmente tão desejado por muitos "tugas"! Perdeu-se, no código genético, a audácia e a mundividência dos avós renascentistas... Resta a bandeira à janela e o cravo na lapela!

[342] A queima da dignidade nacional

(Paulo Gorjão, Bloguítica, "Por circunscrever", 12-8-2006)
*
Não fora a "boa imprensa" de que goza, pelo menos desde que foi ministro da Justiça (no Governo de António Guterres), António Costa seria hoje um governante muito "chamuscado" pelo fracasso total da estratégia de combate aos incêndios, que - de forma chocante - se tornaram banais em todos os verões (e não só) portugueses. E ainda nos dizem que a área ardida vem diminuindo muito de ano para ano... Pudera! Mas ainda há mais alguma floresta para queimar?
E.T. "Os velhos tiques", Rui Costa Pinto, Mais Actual.

13 agosto 2006

[341] As palavras dos outros (3): em dia de 80.º aniversário

"Não é normal é que Fidel Castro continue a ser celebrado, apesar do legado trágico dos seus 47 anos no poder."
(José Manuel Fernandes, PÚBLICO, 13-08-2006: sublinhado nosso)
*
Esta tragédia é filha da desonestidade intelectual daqueles para quem continua a haver ditaduras "boas" e ditaduras más... e foi ela que permitiu tal celebração de um regime tão opressor, tão centralizador, tão empobrecedor, em nome de uma suposta simpatia caridosa pela resistência do povo cubano. Qual resistência?

05 agosto 2006

[338] "De Septem Orbis Miraculis" (Philon de Bizâncio) ou "Ta Hepta Thaemata" (Antípatro de Sídon)

A ver e aprender - os sete sites:
- http://www.new7wonders.com/index.php?id=315&L=0
- http://www.hillmanwonders.com/
- http://ce.eng.usf.edu/pharos/wonders/index.html
- http://www.asce.org/history/seven_wonders.cfm
- http://www.wonderclub.com/AllWorldWonders.html
- http://www.cnn.com/TRAVEL/DESTINATIONS/9711/natural.wonders/
- http://www.misteriosantigos.com/as7.htm

[337] As sete maravilhas do mundo, segundo o historiador, o engenheiro e o filósofo

Eis três listas possíveis, consoante a época histórica, o modelo de construção ou o paradigma estético que se adopte.
Lista A (Antiguidade Clássica):
1. As pirâmides do Egipto;
2. Os jardins suspensos da Babilónia;
3. A estátua de Zeus;
4. O farol de Alexandria;
5. O mausuléu de Halicarnasso;
6. O templo de Artémis;
7. O colosso de Rodes.
Lista B (Idade Média e Moderna/Contemporânea):
1. A muralha da China;
2. A Capela Sistina/Basílica de S. Pedro;
3. A Acrópole de Atenas;
4. O Coliseu de Roma;
5. O Taj Mahal;
6. O Empire State Building;
7. O canal do Panamá.
Lista C:
1. Ver;
2. Ouvir;
3. Cheirar;
4. Tocar;
5. Sentir;
6. Pensar;
7. Amar.
Qual escolheria? Que outra lista faria?

[336] As palavras dos outros (2): o silêncio é de lata

(Paulo Gorjão, Bloguítica, "Leituras blogosféricas", 3-8-2006)

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