Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

23 junho 2009

[904] As palavras dos outros (47): quando a realidade desmente as expectativas

"Curiosamente, a imprensa europeia - e a portuguesa ainda menos - não deu suficiente relevo ao plano de reforma financeira apresentado pelo Presidente americano. A Europa parece ainda estar noutra. Mais ou menos parada à espera que passe a crise para que tudo fique na mesma. Não é possível."
(Mário Soares, "A grande reforma financeira", Diário de Notícias, 23-6-2009)
*

21 junho 2009

[903] Sai um parlamento verde e um governo amarelo!

1. Os eleitores NÃO elegem primeiros-ministros. A sua nomeação cabe ao PR e nem sequer lhe é constitucionalmente exigido que nomeie o presidente/secretário-geral do partido mais votado. Pode não ser do partido mais votado e pode não ser o seu líder. Insistir neste confronto (JS/MFL) é manipulador e constitui fraude constitucional.
2. Os eleitores determinam a composição parlamentar e, com as suas escolhas, condicionam os equilíbrios político-partidários. Se derem a vitória ao PS ou ao PSD só estão a sinalizar ao PR (que leva em conta os resultados eleitorais) que querem esse PARTIDO a chefiar o executivo, não o político A ou o líder B. E se, ao contrário da actual composição de maioria monopartidária, quiserem uma composição mais variada, isso também tem um significado político!
3. Um governo é um órgão colegial e, como tal, NÃO se esgota no primeiro-ministro. Portanto, o escrutínio final faz-se a TODO o governo (o que, no caso presente, inclui Mário Lino, Lurdes Rodrigues, Pinto Ribeiro, Jaime Silva, Manuel Pinho, Alberto Costa, Santos Silva e os outros). A avaliação até, por hipótese, pode ser positiva para o primeiro-ministro, mas a avaliação global de todas as pastas e todas as políticas ser negativa.
4. Se o que acabei de escrever é verdadeiro para o governo que vai ser escrutinado, também o é para o governo que lhe vai suceder, seja ele chefiado por quem for. É uma EQUIPA e deixar de votar num partido porque o seu líder não é simpático ou jovem ou bem-falante é desprezar programas eleitorais, é ignorar o escrutínio ao actual governo, é tornar as eleições legislativas numa escolha de primeiros-ministros, o que é, no limite, inconstitucional (aliás, se não erro, só existe essa possibilidade em Israel, onde se vota separadamente para o líder do governo e para os deputados do parlamento).
5. Outras imprecisões, de cariz menos político-constitucional e mais político-partidário:
a) As “arquitecturas financeiras que inventou para esconder o desastre financeiro” que [MFL] herdou e condicionaram todo o período de 2002/2004. Ou estamos, afinal, com memória selectiva? Já nos esquecemos em que circunstâncias ocorreram as eleições de Março de 2002? Convocadas após a demissão (quase inédita, tirando o caso de Pinto Balsemão nos idos 80) de um primeiro-ministro e foram consequência do início da crise interna que hoje vivemos (sim, o país está em crise há pelo menos oito anos).
b) O “sistema de avaliação muito mais injusto e ineficaz do que este que agora existe”? Mas ele é precisamente o mesmo (SIADAP), criado em 2004 e apenas “retocado” em 2007! Não devemos falar do que não sabemos… Ele não é nem mais justo nem mais eficaz agora do que a sua versão original, tendo apenas aperfeiçoado a fase da auto-avaliação, mudado o nome das menções qualitativas e dos limites das quantitativas e “repristinado” a Comissão Paritária, tudo, afinal, coméstica. As quotas permanecem.
c) Sobre “a tomada de assalto a todos os lugares de topo da Administração Pública” não me pronuncio porque não noto diferenças significativas entre o passado e o presente (sei do que falo pelo menos há 15 anos) e não tenho filiação partidária, por isso não acho que se os dirigentes de topo forem rosas são bons e se forem laranjas são maus (ou vice-versa)… Acho é que só poderá fazer essa crítica quem tiver mostrado pública e veemente indignação também com o “saneamento” (para usar a sua expressão) de dirigentes de topo qualificados e competentes pelos actuais ministros.
Por hoje chega. Vamos ajudar a qualificar melhor os eleitores com comentários e opiniões mais rigorosos e pedagógicos, mesmo que traduzam legitimamente as nossas convicções ideológicas ou simpatia partidárias?
(Núncio, comentário a "Memória", Luís Novaes Tito, Eleições 2009, 21-6-2009)

20 junho 2009

[902] Tu acumulas, eu fecho os olhos

É completamente diferente estar no PE a cumprir um mandato e ser chamado a participar do governo do país de concorrer em duas listas a dois órgãos diversos e para mandatos quase simultâneos.
O segundo é um acto ponderado, voluntário, de acumulação de cargos. O primeiro é imprevisível (depende de resultados de eleições posteriores, para as quais não se é candidato), não depende da vontade própria (tem de ser convidado pelo primeiro-ministro, embora a resposta ao convite seja um acto de vontade, naturalmente) e, claramente, é um apelo que se compreende: ser ministro do Governo de Portugal, cargo que não se exerce em acumulação com qualquer outro.
Fica muito mal insistir nesta confusão!
(Núncio, comentário deixado em "Duas caras", Paulo Gorjão, Vox Pop, 18-6-2009)

12 junho 2009

[900] Nove de alienação, zero de compaixão, zero de solidariedade

No seu «site» oficial [Programa Mundial de Alimentação (World Food Programme), da Organização das Nações Unidas], um responsável do programa fez as contas e percebeu que os 94 milhões de euros oferecidos ao Manchester United serviriam para financiar cerca de 520 milhões de refeições escolares!
«Podíamos usar essa verba para alimentar 8,6 milhões de bocas famintas na Etiópia, até final do ano. Precisávamos mesmo desse dinheiro neste momento, no Paquistão, onde teríamos condições para alimentar dois milhões de desalojados», escreve Greg Barrow.
O responsável do Programa Mundial de Alimentação alonga o raciocínio: «94 milhões de euros parecem trocos. Mas se virmos as nossas operações no Burkina Faso, Cambodja, Guatemala, Libéria e Suazilândia, servia para financiar todas elas durante um ano inteiro. Ainda sobrava dinheiro».

[899] A Justiça no mundo: à moda baiana

(Aviso da juiz da 22.ª vara cível, Bahia - Brasil:
cortesia do leitor pedro, por e-mail)

[898] Cocktails e pastas de couro

De facto, as “massas” de militantes e simpatizantes não chegam a beber champagne, mas vão a cocktails e recebem pastas em couro.
De qualquer forma, não nos equivoquemos. Hoje em dia, a forma despudorada de gestão da “coisa pública” já permite a concessão de benesses, umas mais simbólicas do que outras, por muita gente (veja-se o caso mais recente da nomeação, por esse país afora, dos directores que, em muitas escolas e agrupamentos escolares, mais não são do que os representantes do aparelho local).
Por outro lado, um dos “ingredientes” da mistura de Cipriano é que eu acho que tem faltado, mas sem consequências degustativas para o cozinhado. Identificação com os valores. Mas com quais valores é que se poderá identificar o militante socialista médio, se a maior parte deles está completamente ausente das políticas de JS?
Quanto aos limites de que fala, e bem, LNT, isso é que me intriga. É que esses limites (tradição democrática, liberdade de opinião, respeito pelas classes profissionais, discussão ideológica ou programática, gestão pública, salvaguarda de direitos e garantias, etc.) foram completa e periogosamente ultrapassados nalgumas pastas (Comunicação Social, Educação, Saúde, Obras Públicas, Agricultura) sem grandes demonstrações de desagrado que não se resumam a Ana Benavente, João Cravinho ou Manuel Alegre.
Nem o PSD, que tem igual “fome de poder”, foi alguma vez tão unânime (mesmo Cavaco Silva tinha vozes bem desafinadas como Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira e Emídio Guerreiro, entre outros)!
(Núncio, comentário a "Declaração de interesses", idem)

[897] O poder tem cheiro?

Interessante o pequeno, mas pertinente artigo, cuja ideia-chave, a meu ver, está no trecho “[o PS] não deve ser confundido nem com a sua direcção nem com o governo que de momento o representa. Mas cabe aos socialistas a última palavra.
De facto, (...) é para mim um enigma a sustentação de JS no seio do partido. Em boa verdade (e isso não é bom nem mau, é como é), ele não representa a matriz histórica e ideológica do PS, sendo o representante daquela ala mais centrista, de pendor (neo)liberal.
Então, e é a pergunta cuja resposta valerá “one million dollars”, porque é que esses 60/70 por cento de militantes e simpatizantes (incluindo a blogosfera) aplaudem, por vezes deleitados, quando não fanaticamente, alguém que, nem política nem ideologicamente, os representa? Será apenas o cheiro embriagante do exercício do poder?
*
ADENDA: Note-se que fenómeno idêntico (de sobrerrepresentação de uma corrente minoritária) ocorreu com Luís Filipe Menezes, que não representava mais do que uma minoria ideológica e até geográfica do PSD e, por isso, a sua força foi meramente conjuntural (admito até que, estivesse o PSD no poder, o “Menezismo” nem tivesse chegado a ser sufragado).
(Núncio, comentário a "Declaração de interesses", Cipriano Justo, Eleições 2009 - Público, 11-6-2009)

[896] A Grande Coligação

Dizer que interessa aos lisboetas ou aos portugueses (um)a esquerda no poder é uma mera petição de princípio. Idêntica à de um partidário do CDS dizer que é do interesse dos Açores ou do país a democracia-cristã no poder.
No caso concreto de Lisboa, até me parece uma proposta um tanto ou quanto desesperada. Quanto mais insistirem na Grande Coligação PS/PCP/Verdes/Helena Roseta/Sá Fernandes/BE mais crédito estão a dar a Santana Lopes.
É mesmo isso que querem?
(Núncio, comentário a "Ainda o é só um suponhamos", Cipriano Justo, Eleições 2009 - Público, 10-6-2009)

11 junho 2009

[895] O que é ser português? (II)

«Há três espécies de Portugal, dentro do mesmo Portugal; ou, se se preferir, há três espécies de português. Um começou com a nacionalidade: é o português típico, que forma o fundo da nação (...).
Outro é o português que o não é. Começou com a invasão mental estrangeira, que data, com verdade possível, do tempo do Marquês de Pombal. Esta invasão agravou-se com o Constitucionalismo, e tornou-se completa com a República. Este português (que é o que forma grande parte das classes médias superiores, certa parte do povo, e quase toda a gente das classes dirigentes) é o que governa o país. Está completamente divorciado do país que governa. É, por sua vontade, parisiense e moderno. Contra sua vontade, é estúpido.
Há um terceiro português, que começou a existir quando Portugal, por alturas de El-Rei D. Dinis, começou, de Nação, a esboçar-se Império.»
(Fernando Pessoa, Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional, s/d: destaque nosso)

[894] O que é ser português?

Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde
*
Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão
*
Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
*
Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
*
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar
*
Vou continuar a procurar
A minha forma
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde nao estou
(Estou além, António Variações, 1982)

10 junho 2009

[893] De Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas: dos melhores e dos maiores

«Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir.
Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! (...) Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.
Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.»
(António Barreto,
discurso de abertura das comemorações do 10 de Junho de 2009, em Santarém)


José Malhoa, "Praia das Maçãs", 1918, óleo sobre madeira

[892] As palavras dos outros (46): "Extremado, eu? Cadê os outros?"

«(...) desses 736 deputados eleitos entre quinta-feira e domingo, um total de 36 são de extrema-direita, oriundos de (e eleitos por) partidos de treze países, que têm nos seus programas a xenofobia, o racismo, o anti-islamismo, a homofobia, o anti-semitismo, etc. Foi em nome desses “valores” que foram eleitos. A democracia tem destas coisas.
(...) Os votos de protesto costumam dar nisto!»
(Eduardo Pitta, "Sinais muito preocupantes", Da Literatura, 9-6-2009)
*
Tem razão Eduardo Pitta e todos os cidadãos atentos e democratas para se preocuparem e eu partilho sinceramente da sua preocupação.
Mas uma análise menos comprometida teria também chamado a atenção para o facto de, em Portugal e não só, ter ocorrido um importante voto de protesto de extrema-... esquerda!
Por vezes, tendemos a esquecer as raízes histórico-politicas e ideológicas dos dois partidos que, juntos, tiveram agora cerca de 21,3% dos votos e 22,7% dos mandatos (deputados ao PE), algo só comparável ao período de 1974/79.
Do facto de tais cartilhas terem sofrido um "lifting" (na sua imagem) e um "upgrade" (no nível social e intelectual de discussão) não resulta que as suas convicções e os seus modelos de sociedade tenham sido expurgados e que, à mínima oportunidade, não sejam recuperados. Aliás, como os modelos destes partidos da extrema-direita a que se refere Eduardo Pitta e que vão criando o caldo que queimará a Europa.
Por outro lado, em vez de nos chocarmos com tais resultados extremados no espectro político, entre dois goles de Möet et Chandon e duas idas rápidas a Paris, que tal saírmos do nosso sofá Chateau D'Ax e agir? Poderíamos começar por votar, coisa que parece ter-se tornado numa maçada, e escrutinar melhor os nossos representantes. Ou vamos continuar a aplaudir gente ética e profissionalmente desqualificada, só porque são giros e alegres?

[891] Portugal é mais do que futebol (43): a perfeição da condição humana

09 junho 2009

[890] Bruxo!

«(...) a partir de certa altura, o PS abandonou a sua linha inicial e passou ele próprio a querer fazer das europeias um referendo ao Governo e às oposições. Por estranho que possa parecer, a ideia aparenta não ter sido má. Se acreditarmos nos resultados das sondagens, pese embora a distância significativa face à maioria absoluta, esta mudança, consubstanciada na entrada de José Sócrates na campanha, coincide com uma recuperação das intenções de voto no PS.
(...) tudo sugere que no próximo Domingo o padrão sairá reforçado, com uma vitória do PS, por uma margem curta, que tenderá a representar o seu mínimo eleitoral neste ciclo político. Ou seja, existirá voto de protesto, mas ele será atenuado pela proximidade das legislativas e pelo espectro da ingovernabilidade. O que sugere que se a campanha se tivesse centrado nos temas europeus, como desejava inicialmente o PS, o mais provável é que os eleitores sentissem bastante menos a associação entre estas eleições e as legislativas que ocorrerão logo a seguir ao Verão.»
(Pedro Adão e Silva, "Um referendo nacional", Diário Económico, 2-6-2009: destaque nosso)
*
Afinal, não foram só as sondagens a falhar. Os analistas, como o Pedro [Adão e Silva], também falharam... e não foi pouco!
Em geral, a nossa percepção da realidade é muito influenciada por preconceitos e complexos. Por exemplo, achar que MFL é velha, retrógada, conservadora, feia, desajeitada e sei lá que mais. E que, por isso, não estará à altura de JS. Ora, isso é um erro, como deveria saber. Nem MFL é isso tudo nem os eleitores, se estiverem fartos de JS, se incomodarão muito com essas características.
Quando o eleitorado se farta, não há nada a fazer... e o poder nunca fica vazio!
(Núncio, comentário a "O espectro", Diário Económico, 9-6-2009)

[889] As palavras dos outros (45): a mim ninguém me demite, ouviram?!

... e que tal, já que o Parlamento não tem dignidade suficiente, a pedido do Senhor P.R.?

[888] "Cala-te e lê o meu discurso"

Durante 6 mandatos e 3 presidentes da República, o mais alto magistrado da Nação foi inatacável, ainda que confiasse pouco no Parlamento (Ramalho Eanes), se assumisse explicitamente como contra-poder do Governo (Mário Soares) ou conduzisse as crises políticas de 2001/02 e 2004 de forma desastrada (Jorge Sampaio).
Cavaco Silva, que até "coopera estrategicamente" com um Governo de côr política diferente da sua, não faz o bastante para alguns. Para tal, teria de ser a "Rainha de Inglaterra" e deixar resvalar o regime para um parlamentarismo puro.
(Núncio / Portugal Real, comentário a "Cavaco veta lei do financiamento dos partidos", Expresso on line, 9-6-2009)

06 junho 2009

[887] Portugal é mais do que futebol (42): fortes como a madeira e bravos como os heróis!

[886] As fraquezas da força maioritária

(...) A tese da ingovernabilidade é a daqueles que receiam a partilha do poder, a negociação, os acordos. Se os representados dizem, nas urnas, que querem que os seus representantes governem em coligação, é essa a sua vontade e a sua expressão tem sempre um significado político. Normalmente, o da pacificação, o da atenuação de excessos e autoritarismos.
Também outros, já nesta república, acharam que a eficácia governativa só era atingida com maiorias absolutas e, no entanto, logo a seguir veio um governo minoritário que governou durante toda a legislatura. Mal ou bem, o povo já julgou. Mas governou com o peso político que os eleitores entenderam justo e razoável.
A tese da ingovernabilidade convoca, no limite (e daí o perigo da sua defesa), a ideia de um governo que tudo sabe e tudo faz, sem prestar contas ao Parlamento, ao Presidente e à comunicação social. E, pior, apela a uma chefia todo-poderosa, o que alimenta o culto da personalidade, tão pouco democrático e cívico...
(Núncio / Portugal Real, comentário a "Provedor: melhores resultados de sempre na hora da renúncia", Expresso on line, 3-6-2009)

[885] Portugal é mais do que futebol (41): lisboa judoca

*
Adenda: ouro também para Yahima Ramirez,
que já é a quarta melhor judoca do mundo!

[884] As palavras dos outros (44): prémio Valentim Loureiro

“Tomara que todo o Governo fosse tão honesto como Felgueiras.”
(Fátima Felgueiras, “i”, 06-06-09, via Público on line)

[883] Early Saturday afternoon: qual o teu discurso?

QUANDO SE TEM DOUTORAMENTO:
Dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum Linneu, 1758, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas rectilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente à do mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo de alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apismellifera, Linneu, 1758. No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em consequência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar.
*
QUANDO SE TEM MESTRADO:
A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refinação, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas num peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera as suas dimensões lineares nem as suas proporções quando submetida a uma tensão axial em consequência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.
*
QUANDO SE TEM LICENCIATURA:
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal tem o sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia, não muda as suas proporções quando sujeito a compressão.
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QUANDO SE TEM ENSINO SECUNDÁRIO:
O açúcar não refinado, sob a forma de pequenos cubos, tem o sabor agradável do mel, mas não muda de forma quando pressionado.
*
QUANDO SE TEM ENSINO BÁSICO:
Açúcar mascavado em cubinhos tem sabor adocicado, mas não é macio nem flexível.
*
QUANDO NÃO SE TEM INSTRUÇÃO:
Rapadura é doce, mas não é mole, não!
(adaptado de texto anónimo enviado por e-mail: cortesia da leitora )

03 junho 2009

[881] O Benfas é o maior, mai nada!

Tem razão no que diz ["Os Portugueses têm uma dose de paciência enorme, ou de mediocridade"], embora tal percepção nos leve a um pessimismo militante (do tipo do Vasco Pulido Valente ou de Maria Filomena Mónica) que também devemos evitar.
Sabe, o que mais me confunde é esse espírito acrítico e apático que impera na na sociedade em geral e na vida associativa em particular. Se eu fosse militante ou simpatizante de um partido político, não me contentaria com a mediocridade; haveria de querer o melhor líder possível para o meu partido e, através dele, para o meu país.
Infelizmente, o que constato é que os militantes e, em geral, os eleitores se satisfazem com pouco e, pior, batem palmas a todos, mesmo aqueles que destroem ou descaracterizam o seu partido!
(Núncio / Portugal Real, comentário a "Uma caixa de Pandora", Expresso on line, 2-6-2009)

[880] Late evening charade: 7-6-9

Para quem é que é vital ter um bom resultado eleitoral?
E quem é que baterá com a porta?

01 junho 2009

[879] As palavras dos outros (43): República, qual República?

«É um episódio triste da história portuguesa e não devia haver comemorações nenhumas [da I República]. Para todos os efeitos foi uma ditadura. A ditadura não nasceu do vácuo, nasceu da República [de 1910 a 1926].»
(Vasco Pulido Valente, Correio da Manhã, 31-5-2009)

[878] Notas de uma campanha idiota

É desconcertante, para dizer o mínimo, ver como muitos eleitores compram tudo o que lhes oferecem, a qualquer preço.
Todo o candidato do partido de que são militantes ou simpatizantes é apreciado acriticamente e de forma maniqueísta. Os "nossos" são sempre bons; os dos outros são sempre maus. Como se a qualidade pessoal ou profissional dos homens e das mulheres decorresse da mera filiação partidária, clubística, religiosa ou social...
Uma coisa é ter convicções políticas ou religiosas, ser cristão ou social-democrata ou aristocrata ou benfiquista ou o que seja e defender com lealdade e vigor essas convicções. Outra coisa é achar que todos os cristãos (ou muçulmanos), todos os social-democratas (ou marxistas ou socialistas), todos os benfiquistas são bons e sérios e inteligentes e elegíveis.
Aliás, a situação é tão caricata que, por exemplo, Freitas do Amaral já foi o diabo para uma certa Esquerda que, agora, até votaria nele para PR se ele fosse o candidato oficial do PS!
*
Tão mais infeliz [as declarações de Vital Moreira] quanto o facto de o PS já ter sentido na pele a injustiça da generalização e da confusão de pessoas com instituições, aquando do famigerado processo "Casa Pia".
Dizer que o PSD está ligado à roubalheira do BPN é o mesmo que dizer que o PS está ligado à obscenidade da casa de Elvas... Mas esta gente não aprende nada! Razão tinha Platão (se não me falha a memória): mal do regime em que os representantes são piores do que os representados.

[877] Auto-censura (1): acabou a música de resistência?

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