Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

22 fevereiro 2007

[437] Importa-se de repetir?

"É verdade que os ingredientes para que haja corrupção no nosso futebol existem, há pessoas menos responsáveis nas afirmações públicas que prestam, sendo verdade também que à volta do futebol movem-se grandes interesses económicos e financeiros."
(Gilberto Madaíl à TSF, via A Bola, 22-2-2007)
*
E pode dizer-nos, por favor, tudo o que tem feito, enquanto titular do mandato de Presidente mais longo da história da FPF, para denunciar, punir e prevenir essas situações?

[436] Opinion à la carte

"Pelo que se tem dito, dá ideia que ao lado da 'determinação' evidenciada pelo eng.º Sócrates, a subida do desemprego ou o aumento da carga fiscal são apenas dois pormenores irrelevantes de que não vale a pena falar."
(Constança Cunha e Sá, Público On Line, 22-2-2007)
*
N.B. O desemprego subiu para a sua taxa mais alta dos últimos 20 anos. Quanto à carga fiscal, apenas recordo aqui, e basta, as reacções à subida da taxa superior do IVA determinada por Manuela Ferreira Leite, em 2002.
Passaram apenas 5 anos desde essa data. Hoje, medidas idênticas (ou ainda mais gravosas) são aplaudidas. Mudou o país ou mudou a imprensa ?

[435] 40 anos depois, não é seguro, nem eficaz nem raro...

(O que é feito de forma fácil torna-se frequente.)
*

20 fevereiro 2007

[434] Violência doméstica: a vida lá dentro é uma selva?

"Some kids wish their parents were animals."
(campanha publicitária sobre "Parental violence" do "Ministry of Social Affairs" britânico)

[433] Citação dos outros: saber escrever e saber ler

"A mim interessa-me ler. Mas para isso é preciso que haja texto."
(Eduardo Pitta, "Opinião?", Da Literatura, 15-02-2007)
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É o caso, invariavelmente, do "Da Literatura". Tem muito que ler. Nas linhas e nas entrelinhas...

[432] Mardi grass joke

Jacob para o filho:
- Filho, eu quero que te cases com uma moça que eu escolhi.
O filho:
- Mas, pai, eu quero escolher a minha mulher.
Jacob:
- Meu filho, ela é filha do Bill Gates!
- Bem, neste caso eu aceito.
Então, Jacob vai encontrar-se com o Bill Gates.
- Bill, eu tenho o marido para sua filha.
Bill Gates:
- A minha filha é muito jovem para se casar.
Jacob:
- Mas esse jovem é vice-presidente do Banco Mundial.
- Bem, neste caso tudo bem.
Finalmente Jacob vai falar com o Presidente do Banco Mundial.
- Sr. Presidente, eu tenho um jovem que é altamente recomendado para ser vice-presidente do Banco Mundial.
- Mas eu já tenho muitos vice-presidentes, inclusivamente mais do que o necessário.
Jacob:
- Mas este jovem é genro do Bill Gates!
- Bem, nesse caso ele está contratado.

[431] Em dia de Carnaval, a máscara de Portugal

«De acordo com dados ontem publicados pela Comissão Europeia, 20 por cento dos portugueses viviam em 2004 abaixo do limiar de pobreza - fixado em 60 por cento do rendimento médio nacional depois de incluídas as ajudas sociais - contra uma média comunitária de 16 por cento. (...)
Mas Portugal tem o pior resultado da UE num outro indicador, o dos trabalhadores pobres, o que significa que o salário não protege contra a precariedade: segundo os mesmos dados, 14 por cento dos portugueses com um emprego vivem abaixo do limiar de pobreza, contra 8 por cento no conjunto dos Vinte e Sete. Na República Checa, cujo PIB é muito próximo do português (75,2 por cento da UE), os trabalhadores pobres são apenas 3 por cento da população.
Em Portugal, afirma Bruxelas, "o risco de pobreza após transferências sociais, e as desigualdades na distribuição dos rendimentos (rácio de 8,2 em 2004) são das mais elevadas na UE". As crianças - 24 por cento - e os idosos com mais de 65 anos - 28 por cento - "constituem as categorias mais expostas ao risco de pobreza", acrescenta. Para a Comissão, o risco de pobreza é agravado com o aumento do desemprego - que subiu em Portugal de 4 por cento da população activa em 2000 para 7,6 por cento em 2005. Mas igualmente com a elevada taxa de abandono escolar (38,6 por cento em 2005 contra 42,6 por cento em 2000) - e o baixo nível de escolaridade dos jovens (48,4 em 2004 contra 42,8 por cento em 2000), dois indicadores em que Portugal está "muito abaixo da média da UE".»
(Estudo da Comissão Europeia: "Portugueses entre os mais pobres da União Europeia", in Público On Line, 20-02-2007)

19 fevereiro 2007

[430] Portugal paradoxal

Portugal cada vez menos integrado, cada mais mais fracturado.
O Norte e o Sul. O continente e as ilhas. O litoral e o interior. O urbano e o suburbano. O religioso e o laico. O público e o privado. O consumo e o investimento. A democracia formal e a oligarquia informal.

[429] Early night sayings

"A miséria do meu ser,
Do ser que tenho a viver,
Tornou-se uma coisa vista.
Sou nesta vida um qualquer
Que roda fora da pista."
(Fernando Pessoa)

05 fevereiro 2007

[428] Poesia do mundo: "A Invenção do Amor"

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos
autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e
detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de
fuga
um cartaz denuncia o nosso amor.
.
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana.
.
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio
A descoberta
A estranheza
de um sorriso natural e inesperado.
.
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna.
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo.
.
Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade.
A rádio já falou.
A TV anuncia
iminente a captura. A polícia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas.
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o
mundo.
É preciso encontrá-los antes que seja tarde.
Antes que o exemplo frutifique. Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia.
.
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos.
Chamem as tropas aquarteladas na província.
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva.
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências.
O perigo justifica-o. Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade.
.
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas.
.
Fechem as escolas. Sobretudo
protejam as crianças da contaminação.
Uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram.
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado
aos longos silêncios e aos choros sem razão.
Aplicado no entanto. Respeitador da disciplina.
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos.
Ainda bem que se revelou a tempo. Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação.
Mas é possível que haja outros. É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença.
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade.
.
Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de
discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas...
.
É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz. Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas.
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância. Campos verdes floridos
Água simples correndo. A brisa das montanhas.
Foi condenado à morte é evidente. É preciso evitar um mal maior.
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta...
.
Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva.
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção.
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo que inventou o amor com carácter de urgência.
.
Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias.
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua.
.
Daniel Filipe (1925 - 1964), "A Invenção do Amor e Outros Poemas", Lisboa, Presença, 1972

[427] Citações do mundo: a coragem de não desistir

"Winners never quit and quitters never win."
(Vince Lombardi)

03 fevereiro 2007

[425] Porque voto NÃO: 11 razões para dia 11

1. Porque aceito the "meaning of life".
2. Porque admiro a pessoa humana, desde o "projecto" até à sua memória.
3. Porque respeito o homem e mulher, o pai e a mãe e o/a filho/a, o/a companheiro/a e amante, o/a irmã/o e o/a amigo/a.
4. Porque valorizo a maternidade, a paternidade e a fraternidade.
5. Porque cultivo a generosidade e o amor ao próximo.
6. Porque enalteço a força de vontade, o carácter, a determinação e o esforço.
7. Porque desejo um mundo rejuvenescido, alegre, progressista, solidário, e gregário.
8. Porque acredito que o milagre da vida está na superação das causas, não na cedência às consequências.
9. Porque entendo que a mulher e o homem livres nunca desistem, pedem ajuda.
10. Porque procuro legitimar a responsabilidade.
11. Porque quero viver num mundo onde todos têm lugar: fortes e fracos, sãos e doentes, velhos e crianças, bonitos e feios, altos e baixos, gordos e magros, simples e inteligentes, nacionais e estrangeiros, ricos e pobres, brancos e negros, louros e morenos.
Todos somos carne e osso, corpo e espírito, matéria e energia. Todos somos dignos!

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