Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

27 abril 2005

[38] Liberalizar o social ou socializar o individual?

A reflexão sobre a liberdade sexual, a contracepção e o direito a vida é interessante, embora muito complexa.
Contudo, receio que estejamos todos a laborar num grande erro. O direito penal não serve apenas para punir os comportamentos socialmente intoleráveis (numa certa época, em certo grau, com certo fim). Ou seja, não tem apenas uma finalidade punitiva (de retribuição do mal inflingido pelo agente à sociedade). Tem também uma dimensão preventiva, de dissuasão de comportamentos já não necessariamente intoleráveis, mas pelo menos não socialmente consensuais.
É nesta última perspectiva que devemos ver algumas das normas penais como, por exemplo, as relativas ao consumo de drogas ou às práticas abortivas. Quer dizer, ao legislador compete ser também um contentor, não um indutor de comportamentos de risco, ainda que meramente individual. É que nós, por muito que o refutemos, somos seres sociais e, como tal, a nossa individualidade é inevitavelmente condicionada... Ou não?

25 abril 2005

[37] O SLB e o "Estado Novo", em dia de homenagem à democracia e à liberdade

Salvo o devido respeito por todos os adeptos do futebol, essa história que recorrentemente se conta sobre o eventual apoio do regime ao Benfica, além de requentada, não tem consistência nenhuma...
Não serei exaustivo. Relembro apenas os leitores do seguinte: o SLB é o clube onde, desde sempre, mais e melhor se manifestou a democracia interna. Nunca houve presidentes co-optados ou nomeados administrativamente nem direcções constituídas por eminências do regime (como o CFB e o SCP). Se consultarmos os registos desse tempo, facilmente verificaremos que o SLB era o clube com mais sócios "anti-fascistas" (não gosto do termo, que o tenho por impróprio, mas uso-o por facilidade de compreensão), e daí a ligação ao jornal "A Bola" (historicamente muito politizado).
O SCP e o CFB eram administrados de forma mais elitista, em circuito fechado (não é uma censura, é uma constatação), enquanto as assembleias-gerais do SLB são famosas por serem talvez o único espaço de democracia e liberdade de expressão em todo o "Estado Novo".
A história não se reescreve, por mais que gostássemos...

22 abril 2005

[36] Ética pública, moral privada?

Vítor Bento (1), num artigo muito interessante, vem recuperar o velho confronto das moralidades pública e privada.
Penso que é útil não confundirmos o(s) conceito(s) e compará-lo(s) com a ética [já D. Januário Torgal Ferreira, se bem li, havia-se equivocado]. Há um excelente relatório traduzido para Português (3) sobre o tema.
A moral invoca a responsabilidade individual de cada um, à luz dos valores comungados (não exclusivamente religiosos). A ética é, diria, a dimensão externa da acção de cada indivíduo e tem, por isso, como referência a cidadania. Daí que não me faça muito sentido falar em moralidade pública, a não ser num Estado confessional.
Voltaremos ao assunto, em breve, com mais vagar...

20 abril 2005

[35] Habemus Papam...

"Annuntio vobis gaudium magnum, habemus Papam: Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Josephum, Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Ratzinger qui sibi nomen imposuit Benedictum XVI".
... mas teremos Líder espiritual à altura dos tempos e que responda às necessidades do rebanho?

19 abril 2005

[34] O medo provoca a acção

«Tratando o pequeno escrito acima apresentado um tema difícil de classificar, impõe-se acrescentar algumas observações. O objecto do texto aproxima-se mais do que os historiadores chamam "mentalidades" do que de qualquer outra matéria disciplinar. Mas recorre-se a apontamentos etnográficos, a factos e anedotas triviais, a conceitos psicanalíticos e filosóficos, a outros da ciência política, etc. Digamos que, epistemologicamente, o campo explorado é indefinido, com uma transversalidade no trajecto de certas noções que pode ter as suas vantagens.
(...) Enfim, contrariamente ao que pode parecer, nenhum pressuposto catastrofista ou optimista quanto ao futuro do nosso país subjaz ao breve escrito agora publicado. Se não se falou "no que há de bom", em Portugal, foi apenas porque se deu relevo ao que impede a expressão das nossas forças enquanto indivíduos e enquanto colectividade. Seria mais interessante, sem dúvida, mas também muito mais difícil, descobrir as linhas de fuga que em certas zonas da cultura e do pensamento já se desenham para que tal aconteça. Procurou-se dizer o que é, sem estados de alma, mas com a intensidade que uma relação com este país supõe.»
José Gil, Portugal, Hoje: o Medo de Existir

16 abril 2005

[33] Os sábios (II)

Dizia Pebble [19] que não entendia o messianismo provinciano que predomina em Portugal, num post com muita ironia fina...
Acrescentarei que nem a Abrilada soterrou essa idiossincrasia; pelo contrário, a sociedade só se liberalizou no acessório, como o consumo. De resto, continua tão ou mais conservadora e submissa como dantes, à espera não de Godot, mas do Pai da Pátria, que - nestes séculos - já encarnou em várias personagens, de monarcas a republicanos, de beatos a jacobinos, de civis a militares...
Depois da luta pela formação da nacionalidade (séc. XII), pela conservação da independência (séc. XIV) e pela sua reinstauração (séc. XVII), os portugueses habituaram-se a viver à custa do erário público (reforçado pelos envios preciosos do Brasil seiscentista e pelas remessas sofridas dos emigrantes do século passado). Já lá vão quase 400 anos...
Claro que sempre que aparece um "sábio" a botar discurso, de preferência de rosto fechado, paternalista e ar (levemente) autoritário, o povo dobra-se a seus pés!
"Habituem-se!" Ou melhor, não se desabituem...
P.S. Aproveito esta remissão para um dos bons escritos do Pebble para informar que ele decidiu suspender a terapia no divã. Não me competiria a mim fazê-lo, mas ele assim quis. Creio que voltará um dia à blogosfera, não sei se com mais ânimo, se com mais ciência (politica)...
Eu por cá continuo, com prazer e coragem, enquanto Deus me der vida e lucidez.

[32] Os queijos portugueses são deliciosos

Há cerca de 15 anos, Marinho Neves, então jornalista na "Gazeta dos Desportos", escreveu um livro em que descrevia tudo: como PC chegou ao FCP, a sua vida profissional e pessoal, os arranjos, os conluios federativos (inter-associativos), os silêncios, os árbitros, as dívidas, o jogo em casinos clandestinos, as mulheres alternadeiras do boxeur, os presentes, o ouro, tudo!
Já nessa altura, a rede envolvia árbitros estrangeiros... As suas biografias eram tão pormenorizadas que os agentes sabiam do que é que cada um gostava de fazer na noite anterior às famosas "quartas-feiras europeias".
Têm andado distraídos ou isto serviu muita gente?

15 abril 2005

[31] Nos dias de hoje, que independência?

Num contexto de integração económico-financeira e, agora, política, a Portugal sobra-lhe a independência cultural e linguística, assim saiba mantê-la e reforçá-la.
Exemplos como a CPLP, o Instituto Camões e o Acordo Ortográfico podem ser muito estimulantes para a afirmação da Lusofonia, a partir de um Estado quase milenar, com fronteiras estáveis há muitos séculos.
Não podem é ser meramente decorativos...

[30] Nos idos tempos da luta pela independência...

Era esta a resposta dada pela raça goda aos filhos de África e do Oriente, que diziam, mostrando os alfanges: "É nossa a terra de Espanha."
O dito árabe foi desmentido; mas a resposta gastou oito séculos a escrever-se. Pelaio entalhou com a espada a primeira palavra dela nos cerros das Astúrias; a última gravaram-na Fernando e Isabel, com os pelouros de suas bombardas, nos panos das muralhas da formosa Granada: e a esta escritura, estampada em alcantis de montanhas, em campos de batalha, nos portais e torres dos templos, nos lanços dos muros das cidades e castelos, acrescentou no fim a mão da Providência: "Assim para todo o sempre!" (...)
Como longa fita de muitas cores, recamada de fios de ouro e reflectindo mil acidentes de luz, a extensa e profunda linha dos cavaleiros mouros sobressaía na veiga entre as searas pálidas que cobriam o campo. Defronte deles, os trinta cavaleiros portugueses, com trezentos homens de armas, pajens e escudeiros, cobertos dos seus escuros envoltórios, e lanças em riste, esperavam o brado de acometer.
Quem visse aquele punhado de cristãos, diante da cópia de infiéis que os esperavam, diria que, não com brios de cavaleiros, mas com fervor de mártires, se ofereciam a desesperado trance. Porém, não pensava assim Almoleimar, nem os seus soldados, que bem conheciam a têmpera das espadas e lanças portuguesas e a rijeza dos braços que as meneavam. De um contra dez devia ser o iminente combate; mas, se havia aí algum coração que batesse descompassado, algumas faces descoradas, não era entre os companheiros do Lidador que tal coração batia ou que tais faces descoravam.
Pouco a pouco, a planura que separava as duas hostes tinha-se embebido debaixo dos pés dos cavalos, como no tórculo se embebe a folha de papel saindo para o outro lado convertida em estampa primorosa. As lanças iam feitas: o Lidador bradara Sant'Iago, e o nome de Allah soara em um só grito por toda a fileira mourisca. (...)
Quem hoje ouvir recontar os bravos golpes que no mês de Julho de 1170 se deram na veiga da frontaria de Beja, notá-los-á de fábulas sonhadas; porque nós, homens corruptos e enfraquecidos por ócios e prazeres de vida afeminada, medimos por nosso ânimo e forças as forças e o ânimo dos bons cavaleiros portugueses do século XII; e todavia, esses golpes ainda soam, através das eras, nas tradições e crónicas, tanto cristãs como agarenas. (...)
Os portugueses seriam já apenas sessenta, entre cavaleiros e homens de armas: mas pelejavam como desesperados e resolvidos a morrer. Mais de mil inimigos juncavam o campo, de envolta com os cristãos. A morte de Ali-Abu-Hassan foi o sinal da fugida. Os portugueses, senhores do campo, celebravam com prantos a vitória. Poucos havia que não estivessem feridos; nenhum que não tivesse as armas falsadas e rotas. O Lidador e os demais cavaleiros de grande conta que naquela jornada tinham acabado, atravessados em cima dos ginetes, foram conduzidos a Beja.
Após aquele tristíssimo préstito, iam os cavaleiros a passo lento, e um sacerdote templário, que fora na cavalgada, com a espada cheia de sangue metida na bainha salmeava em voz baixa aquelas palavras do Livro da Sabedoria:"Justorum autem animae in manu Dei sunt, et non tanget illos tormentum mortis."
Alexandre Herculano, A morte do Lidador

10 abril 2005

[29] Uma elite para Portugal

A propósito do XXVII Congresso Nacional do PPD/PSD, retenho a imagem de um partido que não tem tempo nem vontade para fazer o "luto" da perda do poder executivo. Menos ainda para analisar os actos, os pensamentos e as omissões que provocaram a hecatombe eleitoral.
Ora, quer o PS, quer o PSD (falo destes por terem vocação agregadora, maioritária) em raros momentos exerceram melhor a oposição do que a governação. E julgo que isso se deve ao facto das suas elites não terem percebido que:
- por um lado, estar na oposição não exige que se seja (sempre) da oposição. Estar na oposição é apenas não deter o exercício do poder executivo. Os parlamentos e o seu poder legislativo não ficam diminuídos, pelo contrário, saem reforçados quando há mais riqueza ideológica e debate político. Numa democracia exigente, todos os órgãos de soberania e todas as instituições tem o seu papel e todos devem orientar-se pelo interesse nacional. Fazer política não se esgota, como bem sabemos, no governo;
- por outro lado, não há Poder; há poderes, cada vez mais difusos e globalizados. O poder exerce-se, hoje, quer no governo central, quer nos governos descentralizados; tanto nos órgãos políticos como nos económicos e financeiros; quer por políticos de carreira como por cidadãos informados e actuantes.
Quais as consequências disto? Os partidos têm que tornar-se mais ambiciosos, mais exigentes e mais especializados. Têm que ter os melhores quadros nos vários lugares onde se definirem políticas e isso nem sequer ocorre, em grande medida, na capital lisboeta, mas em Bruxelas, em Nova Iorque, em Genebra, em Francoforte. E, dentro de Portugal, no Porto, em Aveiro, na Madeira, na várzea ribatejana.
Este é o grande equívoco dos socialistas e sociais-democratas, que têm andado a jogar o campeonato errado. Há muito que a Liga portuguesa deixou de interessar; o jogo mudou de regras, de protagonistas e de palco...

09 abril 2005

[28] Política com pimenta

A pouca competência, a irresponsabilidade e o provincianismo dos nossos políticos, na esteira das observações de A. Pimenta, tiveram dois exemplos recentes, que envergonhariam qualquer exigente democracia:
1) Durante a última contenda eleitoral, um dos candidatos fez saber que o seu livro de cabeceira passara a ser o "Manual de Campanha" de Tony Blair.
2) Convidado a integrar a representação política de Portugal às cerimónias fúnebres do Papa JP II, um ex-presidente da República invocou afazeres particulares para recusar o convite.
Imaginam Churchill, de Gaulle, Adenauer, González ou Olof Palm com semelhante falta de Estadismo?

[27] O Manual (II)

A minha preferida:
"O incentivo ao avanço tecnológico oferece uma oportunidade de verificação das nossas opções de desenvolvimento no futuro".
Entenderam?

[26] Uma ideia para Portugal?

Portugal ficou a meio caminho entre o Norte de Africa e a Europa. E não se consegue definir. É pobre combinar as coisas sem definir uma ideia e uma identidade próprias. Não há, em Portugal, politica no sentido autêntico da palavra, uma ideia de sociedade para dar forma ao Estado. Não há partido que a tenha, excepto, talvez, o comunista, mas não é uma ideia própria. Os políticos portugueses, tal como os artistas, são preguiçosos, pouco competentes e bastante diletantes.
Alberto Pimenta in Diário de Notícias, 29 -1-1995

[25] Manual do político: "Como falar muito sem dizer rigorosamente nada"

Um amigo enviou-me, por correio electrónico, o seguinte manual.
Tente fazer todas as conjugações possíveis. Pode combinar qualquer expressão listada nas linhas 1, 5, 9 e por diante com as das linhas 2, 6, 10, etc.; 3, 7, 11 e assim sucessivamente. As variações possíveis são cerca de dez mil!
Este quadro permite ao candidato falar ininterruptamente por mais de 40 horas, sem dizer absolutamente coisa nenhuma!
"Caros colegas,
a execução deste projecto
obriga-nos à análise
das nossas opções de desenvolvimento no futuro
Por outro lado,
a complexidade dos estudos efectuados
cumpre um papel essencial na formação
das nossas metas financeiras e administrativas
Assim mesmo,
a expansão de nossa actividade
exige a precisão e a definição
dos conceitos de participação geral
Não podemos esquecer que
a actual estrutura da organização
auxilia a preparação e a definição
das atitudes e das atribuições da directoria
Do mesmo modo,
o novo modelo estrutural aqui preconizado
contribui para a correcta determinação
das novas proposições
A prática mostra que
o desenvolvimento de formas distintas de actuação
assume importantes posições na definição
das opções básicas para o sucesso do programa
Nunca é demais insistir, uma vez que
a constante divulgação das informações
facilita a definição
do nosso sistema de formação de quadros
A experiência mostra que
a consolidação das estruturas
prejudica a percepção da importância
das condições apropriadas para os negócios
É fundamental ressaltar que
a análise dos diversos resultados
oferece uma oportunidade de verificação
dos índices pretendidos
O incentivo ao avanço tecnológico
assim como o início do programa de formação de atitudes
acarreta um processo de reformulação
das formas de acção."
*
Façam o exercício. É deveras fascinante!
Vejo, agora, porque é que os nossos políticos têm o mesmo discurso... Aprenderam todos pela mesma cartilha!

07 abril 2005

[24] Portugal Real

Se dúvidas houvesse sobre o estádio actual da civilização bastaria ir ao forum virtual do Expresso Online que elas ficariam dissipadas...
Total ausência de valores, sejam morais, espirituais, éticos ou de comunidade!
Para alguns, homenagear Johannes Paulus II ou Rainier III é um insulto ao Estado laico ou à República, mas muitos deles serão os primeiros a idolatrar o Figo, a Madonna, o Alberto João Jardim ou a Margarida Rebelo Pinto, essas grandes figuras do mundo contemporâneo (salvo o devido respeito pelos visados)!
Perdoa-lhes, Pai, que eles não sabem o que dizem...
(comentário revisto. Núncio e Portugal Real são as duas faces da mesma "boa moeda".)

02 abril 2005

[23] Palavras prateadas

“Há dois tipos de pessoas: as que fazem coisas e as que ficam com os louros. Procure ficar no grupo das primeiras – lá há menos competição!”

Indira Gandhi

[22] Neste sábado chuvoso, apetece-me...

que chova prata.
Para dar brilho e classe a este burgo de rocha medieval, de elites destrambelhadas e povo clicotímico, do rio cinzento e da floresta de betão, das colinas de lixo e dos buracos negros, dos miradouros perdidos e das janelas desasadas, das tascas abandonadas e da história requentada.
Que chova, e que a chuva lave tudo, lave os páteos e as façades, as rotinas e as consciências...
Que chova água benta, que caia granizo de diamantes, que troveje ousadia e relampeje sabedoria!

[21] Arrival of Queen of Sheba (Handel, Solomon)

Neste sábado cinzentão, ouvindo The world of Baroque Favourites e citando Ruud K. Maas: «The word "baroque" comes from Portuguese term barocco meaning a misshapen pearl, and initially came to be applied to music in a pejorative sense - as misformed and extravagant - at the end of period we now think of as "Baroque". This comes as something of a shock given that music from this era is now comfortingly familiar (...)», The Decca Record Company Limited, 1995, London, apetece fazer ronha e ignorar as pérolas defeituosas que abundam por aí...

[20] Karol Wojtyla

"Karol Wojtyla nasceu no dia 18 de maio de 1920, na pequena cidade polonesa de Vadovice, a cerca de 50 quilômetros de Cracóvia. Era o segundo filho de Karol Wojtyła e Emilia Kaczorowska e veio ao mundo durante a guerra da Polônia com a União Soviética.
Emilia tinha a saúde debilitada e morreu quando Karol tinha apenas 9 anos. A partir de então ele foi criado apenas pelo pai militar e pelo irmão mais velho, Edmund. Este último se formou em medicina, mas também morreu prematuramente, em 1932, vítima de uma epidemia. Nove anos mais tarde, em 1941, Karol ficou só, aos 21 anos, com o falecimento de seu pai em um dos mais rigorosos invernos da Polônia.
Nesta época, Karol Wojtyla, que adorava poemas, escreveu um lembrando a dor e Deus:
Sei que sou pequeno/ Mas há outros ainda menores que eu/ Ele me escolheu, Ele me lança nas cinzas/ Ele pode fazer isso - mas por quê?/ Por que fazer isso comigo?/ Ele é o provedor.
Nazismo: em 1938, quando terminou os estudos na escola secundária de Marcin Wadowita de Vadovice, Karol se matriculou na Universidade Jagellónica de Cracóvia e em uma escola de teatro. Tudo corria relativamente bem até que as tropas nazistas invadiram a Polônia, em 1º de setembro de 1939. Com a ocupação alemã, a Universidade foi fechada e o jovem teve que trabalhar em uma pedreira e depois em uma fábrica química, para ganhar a vida e evitar a deportação para a Alemanha.
A presença Alemã na Polônia durou até 1945, mas neste meio tempo a vida de Karol Wojtyla havia mudado consideravelmente. Ele ouvira o chamado de Deus e, aos 22 anos, entrou para o seminário clandestino. Depois da II Guerra Mundial, continuou seus estudos e mais tarde entrou na Faculdade de Teologia da Universidade Jagellónica, até sua ordenação sacerdotal em Cracóvia, no dia 1º de novembro de 1946.
O sacerdote: em 1948, na França, o jovem de Vadovice recebeu o grau de doutor em teologia com uma tese sobre a fé nas obras de São João da Cruz. Encerrado este período de estudos formais o padre Karol voltou à Polônia, onde foi vigário em diversas paróquias de Cracóvia e capelão dos universitários.
Em 1951, voltou aos estudos filosóficos e teológicos e em 1953 apresentou na Universidade Católica de Lublin a tese intitulada Valoração da possibilidade de fundar uma ética católica sobre a base do sistema ético de Max Scheler. Com mais um título passou a ser professor de Teologia Moral e Ética Social no seminário maior da capital polonesa e na faculdade de Teologia de Lublin.
Em 4 de julho de 1958, foi nomeado por Pío XII Bispo Auxiliar de Cracóvia. Recebeu a ordenação episcopal em 28 de setembro de 1958 na catedral del Wawel, em Cracóvia, e em 13 de janeiro de 1964 foi nomeado Arcebispo da capital polonesa por Paulo VI, que o fez cardeal em 26 de junho de 1967.
O Papa: após a morte do papa Paulo VI, o cardeal Wojtyla participou do Conclave que escolheu o novo bispo de Roma. João Paulo I foi o indicado para substitui-lo, mas apenas 34 dias depois, no dia 28 de setembro de 1978, o novo Papa estava morto. Mesmo com a surpresa, uma nova escolha deveria ser feita e os cardeais se reuniram novamente para escolher o homem que comandaria os católicos do mundo inteiro.
Três dias depois do início do Conclave, a fumaça branca saía da chaminé ao lado da Capela Sistina, anunciando que o novo pontífice estava escolhido. Contrariando todas as previsões, que esperavam mais um papa italiano, o cardeal polonês Karol Wojtyla, de 58 anos, foi anunciado como escolhido. O Papa escolheu o nome João Paulo II para homenagear seu antecessor.
Em seu primeiro pronunciamento, para a multidão que lotava a Praça de São Pedro, ganhou a simpatia de todos. "Se eu errar meu italiano, corrijam-me, por favor", pediu. O Santo Padre continuou surpreendendo, quando no dia 25 de janeiro de 1979, desceu as escadas do jumbo da Alitália, curvou-se, beijou o solo da República Dominicana, e disse: "Viajarei por onde me chamarem as exigências da fé e dos valores humanos".
A promessa foi cumprida: até o dia em que completou 25 anos no cargo João Paulo II fez 102 viagens internacionais, 142 visitas pastorais na Itália e as visitas a 301 paróquias da Diocese de Roma. Na hora, as pessoas acharam que tratava-se de uma frase de efeito, mas não. Nenhum outro papa beijou tantos solos como João Paulo II.
O beijo no solo é um gesto que o Sumo Pontífice usa para abençoar o local. O mesmo papa só deve beijar uma vez um país, reza o rito da Igreja Católica. Quebrando a tradição, João Paulo beijou duas vezes o solo brasileiro. A primeira ocorreu em Brasília, em 1980. E a segunda em Natal, em 1991, uma bênção fora do programa. No primeiro beijo, em 1980, caiu o solidéu.
Somente 12 papas na História da humanidade, de um total de 264, reinaram mais tempo do que João Paulo II. O recorde absoluto é de São Pedro, o primeiro papa, que teve um pontificado de entre 34 e 37 anos - não há dados exatos para confirmar a data precisa. O polonês Karol Wojtyla é o primeiro não-italiano a ocupar o cargo desde o holandês Adrien VI, que morreu em 1523."

01 abril 2005

[19] Os sábios

Ainda não percebi porque é que os media entram em efervescência sempre que alguns sábios (v. g. Cavaco Silva nos musseques de Luanda, António Guterres a sobrevoar a Babilónia, António Vitorino por entre portas ou o magnífico goldman sachs António Borges a mandar recados de Londres) botam faladura, bastas vezes recheada de frivolidades.
Que messianismo provinciano o nosso!

[18] Sápatras e macedónios

No círculo restrito do Vaticano, qual palácio de Dário em Susa, prepara-se uma partida e uma batalha com desfecho imprevisível.
Qual será o novo Alexandre?
Aceitam-se apostas.

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