Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

14 agosto 2006

[345] Religar as actividades sociais

"São três as actividades sociais superiores – a política, a religião e a arte. Em cada um destes ramos da actividade social superior há o processo de captação e o processo de subjugação.
Na política há a democracia, que é a política de captação, e a ditadura, que é a política de subjugação. É democrático todo o sistema que vive de agradar e de captar – seja a captação oligárquica ou plutocrática da democracia moderna, que, no fundo, não capta senão certas minorias, que incluem ou excluem a maioria autêntica; seja a captação mística e representativa da monarquia medieval, único sistema portanto verdadeiramente democrático, pois só a monarquia, pelo seu carácter essencialmente místico, pode captar as maiorias e os conjuntos, organicamente místicos na sua profunda vida mental. É ditatorial todo o sistema político que vive de subordinar e de subjugar – seja o despotismo artificial do tirano de força física, inorgânico e irrepresentativo, como nos impérios decadentes e nas ditaduras políticas; seja o despotismo natural do tirano de força mental, orgânico e representativo, enviado oculto, na ocasião da sua hora, dos destinos subconscientes de um povo.
Na religião há a metafísica, que é a religião de captação, porque tenta insinuar-se pelo raciocínio, e explicar ou provar é querer captar; e há a religião propriamente dita, que é o sistema de subjugação, porque subjuga pelo dogma improvado e pelo ritual inexplicável, agindo assim directa e superiormente sobre a confusão das almas."
(Álvaro de Campos, "Apontamentos para uma Estética Não-Aristotética", in Athena, n. 3 e 4, Lisboa, Dezembro de 1924 e Janeiro de 1925: destaques nossos)
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Percebem porque andam ditadura e religião (nas suas diversas roupagens, mesmo ou sobretudo a "não-religião") historica e inevitavelmente de mãos dadas?
Parafraseando Eduardo Pitta, "os clássicos são isto"...

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