Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

26 março 2006

[205] "What is your dangerous idea?"

Como habitualmente, a comunicação social portuguesa - entretida com os fait divers da política doméstica (no pior sentido) - está a léguas das novas tertúlias e correntes do pensamento.
Nada que me admire muito. Mas já me supreende que, na blogosfera, muita coisa passe despercebida.
Uma delas é o conjunto de elevadíssimas discussões que ocorrem em The World Question Center, da Fundação Edge. O seu mentor, Heinz R. Pagels, que declarou: "The future, as always, belongs to the dreamers." (The Dreams of Reason).
*
P.S. Paulo Gorjão, de outra perspectiva, também toca na ferida: o problema português é a falta de "thinks tanks" (http://bloguitica.blogspot.com/2006/03/think-tanks-ii-de-ii-462-capaz-de.html).

[204] As limpezas da Primavera

Negócios Estrangeiros, Justiça, Cultura e Assuntos Parlamentares.
*
P.S. Espero que o PM aplique também as propostas de reestruturação do PRACE ao próprio Governo, extinguindo e fundindo ministérios e secretarias de Estado. Quem quiser ver um modesto contributo para a criação de uma nova estrutura governamental, pode reler o post n.º 7 "Small is beautiful", de 24-3-2005 (há, portanto, um ano).

[203] "Reservo-me o domingo para a busca"

«Reservo-me o domingo para a busca
receosa e teimosa da alegria.
Meu coração devia ser alegre
como um pássaro novo,
meu coração devia ser alegre
como o vinho ou o fogo
No entanto, onde está a alegria?
onde estão as sementes da alegria?
onde vive a alegria? No entanto,
pergunto às coisas e às gentes
de domingo onde está a alegria.
Mesmo que a não encontre
destino-lhe o domingo,
este e outros domingos,
este sol e outros ventos,
este mar e outras ruas,
estas mãos e estes olhos.
Assim acho razão para não estar triste.»
(António Rebordão Navarro, "O Dia Dentro da Noite", Poemas: 1952 - 1982, Imprensa Nacional Casa da Moeda)

[202] Early Sunday evening: "Não cantes o meu nome em pleno dia"

«Não cantes o meu nome em pleno dia
não movas os seus ásperos motivos
sob a luz dolorosa sob o som
da alegria
Não movas o meu nome sob as tuas
mãos molhadas do choro doutros dias
não retenhas as sílabas caídas
do meu nome da tua boca extinta
Não cantes o meu nome a primavera
já o ameaça hoje principia
a vida do meu nome não o cantes
com a tua alegria»
(Gastão Cruz, "Os nomes", Imagem da Linguagem, Assírio & Alvim, 1974)

[201] Imbecilius inter pares

«Um dos temas mais imbecis que anda no ar é seguramente o da "paridade". O termo, por si só, já é irritante. (...) A maturidade cívica e política de um agente representativo não se mede nem pelo sexo nem pela "paridade".»
(João Gonçalves, Portugal dos Pequeninos, 26-3-2006)
*
Conceitos como "paridade" ou "igualdade (de género)" e afins só são possíveis nesta ditadura do "politicamente correcto", em que tudo e todos são tratados da mesma forma, ou seja, pelo nível discursivo e conceptual mais rasteiro, yet, mais apelativo, porque cria a ilusão de que todos somos iguais.
Nada mais falso! A ideia é amolecer e banalizar, para que "os porcos" triunfem...

22 março 2006

[200] Hoje deito-me eu no divã...

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves,
Dentro do coração,
assim falava a canção
que na América ouvi,
mas quem cantava chorou
ao ver o seu amigo partir,
mas quem ficou,
no pensamento voou,
o seu canto que o outro lembrou
E quem voou no pensamento ficou,
uma lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito,
mesmo que o tempo e a distância digam não,
mesmo esquecendo a canção.
O que importa é ouvir a voz
que vem do coração.
Seja o que vier,
venha o que vier
Qualquer dia amigo eu volto
pra te encontrar
Qualquer dia amigo,
a gente vai se encontrar.
(Milton Nascimento, "Canção da América", de Fernando Brant e Milton Nascimento)
*
Dedico este poema, no primeiro aniversário do blogue, pelas razões que os próprios conhecem, ao Bruno, ao David, à Elizabeth, ao Filipe, à Isabel, ao Jó, à Jô, ao Joca, ao Jota, ao Madeira, à Maria, à Nella, ao Panfúncio, ao Pebble, ao Rick, ao Vasco, ao Vitinho, ao Zeca e a todas/os aqueles a quem, querendo-me bem, não tenho podido corresponder, por falta de tempo, de espaço, de sensibilidade ou de bom senso...

[199] Esta noite sinto-me assim:


Egon Schiele, "Autumn Trees", 1911 (Oil on canvas, 79.5 x 80 cm)

21 março 2006

[198] Early night: entre dois pingos de chuva...

«Devido ao previsível aumento de acções contra o Estado - Justiça: ministro admite contratar advogados para colmatar falta de magistrados»
(in Público online, 21-3-2006)
*
Então, mas a miraculosa "redução" das férias judiciais não iria resolver (quase) todos os problemas da Justiça? E os que sobrarem serão resolvidos por advogados? Mas onde fica a independência e amovibilidade dos magistrados?

[197] Literatura do mundo: o inferno é aqui

«No Estado do Vaticano vigora a lei de que nenhum criminoso pode ser executado sem antes receber a absolvição. Assim que Piachi soube da sua sentença, recusou obstinadamente a absolvição. Depois de terem recorrido a todos os meios de que a religião dispõe para mostrar a Piachi a ignomínia do acto que praticara, levaram-no para a forca na esperança de que, quando colocado diante da morte que o aguardava, o condenado finalmente se arrependesse. Um padre descreve-lhe com os pulmões da última trombeta todos os horrores do inferno onde a sua alma pecadora se preparava para mergulhar; um outro, com o corpo de Deus, o sagrado sacramento, na mão, glorificou a morada da paz eterna. "Queres tu fruir do benefício da redenção?", perguntaram-lhe ambos. "Queres receber a comunhão?" "Não", respondeu Piachi. "Porque não?" "Não quero ser salvo. Quero descer às vísceras mais profundas do Inferno. Quero voltar a encontrar Nicolo, porque ele não estará no Céu, e concluir aí a vingança que aqui apenas pude começar!" E assim subiu a escada e exigiu ao verdugo que fizesse o seu trabalho. A execução teve de ser interrompida e o infeliz, a quem a lei protegia, foi levado de volta para o cárcere. Fizeram-se mais três tentativas como esta nos três dias que se seguiram e todas com igual resultado. Quando ao terceiro dia o obrigaram mais uma vez a descer as escadas do patíbulo, Piachi ergueu as mãos exasperado e amaldiçoou a lei desumana que lhe vedava a passagem para o inferno.»
(Bernd Heinrich Wilhelm von Kleist, "O Órfão", tradução de José Maria Vieira Mendes)

20 março 2006

[196] De Bolonha a Lisboa, pela ponta de uma caneta

«Decreto-lei prevê reorganização dos estabelecimentos portugueses no ano lectivo de 2007/08 - primeiro diploma promulgado por Cavaco alinha Ensino Superior com Bolonha:

«O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, promulgou hoje o decreto-lei que alinha o Ensino Superior português com o Processo de Bolonha, aprovando o primeiro diploma desde que tomou posse, a 9 de Março.»
(in Público online, 20-3-2006)
*
Considero muito feliz o facto de ser precisamente este o primeiro diploma sujeito a promulgação pelo novo PR.
Pelo objecto: reestruturação dos currículos universitários, num país em que se exige (muito) mais conhecimento, formação e, já agora, discussão.
Pela ambição: trata-se da harmonização de sistemas de ensino com vista à livre circulação de licenciados, mestres e doutores.
Pelo simbolismo: a Educação foi uma das (poucas) pastas em que os governos de CS-1.º Ministro não terão estado à altura do bom balanço geral que é feito. Oxalá CS-Presidente contribua para a excelência desta área!

19 março 2006

[195] Gloriae mundi

Palavras para quê? Mais do que um clube, é uma cultura!

[194] Early evening: as escolhas de... Cavaco

Já começa o cerco ao PR. Corrijo, a Cavaco Silva, a quem muitos não perdoam a conquista do "palácio rosa".
Os primeiros ataques vieram de Jerónimo de Sousa, que não se cansa de repetir que ficou sem representante no Conselho de Estado. Mas ninguém é capaz de informar o senhor deputado que se trata disso mesmo, de conselheiros do PR, por si escolhidos? Por ventura, tivesse Jerónimo essa competência, escolheria representantes do CDS/PP e do PPD/PSD para seus conselheiros? Esses entram (ou deveriam entrar, se tudo funcionasse regularmente) na quota parlamentar. Muito gostaria eu de ver Paulo Portas, Paula Teixeira da Cruz, Jaime Nogueira Pinto, José Pacheco Pereira e outros a aconselharem Jerónimo ou Louçã!
Que me lembre, nunca vi nenhuma discussão tão acessa sobre as escolhas de um presidente da República para o Conselho de Estado ou para as suas duas Casas. Sempre houve uma espécie de cortesia protocolar e reverência institucional que impedia que se comentassem ou criticassem escolhas ou opções presidenciais, para além do estritamente necessário (ex. promulgação de diplomas-chave, orientações políticas em momentos críticos, etc.).
Acho que muita gente estava mal habituada à alternância, convencida de que há lugares vitalícios. E são eles os "democratas de Abril"...

[193] Humor do mundo: a lei geral e abstracta

(cartoon que circula na internet)

18 março 2006

[192] Pintura do mundo: consequências [191]


David Scheirer, "Free Number 5", 2004 (pencil, 8x6 polegadas)

[191] Early afternoon: citações do mundo

"The paramount relation between poetry and painting today, between modern man and modern art, is simply this: that in an age in which disbelief is so profoundly prevalent or, if not disbelief, indifference to questions of belief, poetry and painting, and the arts in general, are, in their measure, a compensation for what has been lost."
(Wallace Stevens, Angell Gallery)
*
E quando perdermos a capacidade de nos representarmos, teremos perdido (quase) tudo...

14 março 2006

[190] Carta-aberta ao Primeiro-Ministro

Senhor Primeiro-Ministro
Excelência
Escrevo na qualidade de médico das carreiras hospitalares e faço-o numa publicação profissional por julgar que o assunto é do interesse de todos os meus colegas.
Dirijo-me ao Estado, entidade abstracta, meu empregador, que V.ª Ex.ª, por força das últimas eleições, legítima e indiscutivelmente, representa. E, desde já, asseguro que não me move qualquer intuito político. Debalde poderá V.ª Ex.ª buscar qualquer filiação partidária, que não tenho, nunca tive e julgo nunca terei. Tampouco achará V.ª Ex.ª no meu curriculum atitudes de reivindicação, de reclamação ou de contestação, fora do mais estrito âmbito laboral. Esta carta é tão-somente um pedido de decência nas relações de trabalho com a minha entidade patronal, ditada pelo frustrar do que cuidava serem as mais legítimas expectativas.
Quando há mais de um quarto de século aceitei começar a trabalhar para o Estado, fi-lo na convicção de que era uma entidade recta e íntegra ou, como em linguagem vulgar se diz, uma pessoa de bem. Não o é, como ao longo dos anos vim constatando: o Estado é um gestor ruinoso do bem comum, que todos pagamos. As contas públicas não deixam margem para dúvidas. O Estado é caloteiro, paga pouco, tarde e mal mas, reciprocamente, é o mais temível dos credores. Basta ver como nega o princípio da compensação. O Estado é iníquo e corrupto. Confirme-se, a cada nova ronda de eleições, o baile de apaniguados a ocupar furiosamente os lugares públicos, sem concurso, sem justificação e, pior que tudo, sem competência. De tal situação, deu V.ª Ex.ª o mais despudorado exemplo.
O Estado denega a Justiça. Ao recusar criar condições para uma laboração rápida e exemplar dos tribunais, ao legislar diplomas dúbios, efémeros, se não contraditórios, perpetua-se o primado do acordo de circunstância ou do acto administrativo sobre o que devia ser Justiça, límpida e rigorosa.
Mas, ainda que tenha criado do Estado uma tão má imagem, nunca julguei que se pudesse chegar a violar princípios fundamentais do Direito, como o da não retroactividade das leis. Princípios que fazem parte dos direitos, liberdades e garantias universais de cujo reconhecimento Portugal é signatário. Ao que parece pouco convicto.
Declarou V.ª Ex.ª publicamente a suspensão da progressão nas carreiras e o aumento da idade da reforma. A menos que se trate de mais uma afirmação para não cumprir, a que V.ª Ex.ª nos vai habituando, tal representa, pura e simplesmente, legislar com efeitos retroactivos à data de início do contrato de trabalho - 26 anos, no meu caso. Ora, quando me vinculei à Função Pública, foi-me asseverado que teria o meu direito à reforma aos 60 anos e à progressão na carreira conforme prevista nos regulamentos aplicáveis. Os descontos a que fui sujeito ao longo destes anos a favor da segurança social não são mais um imposto, mas sim uma quantia que é minha e que confiei ao Estado para que a guardasse, investisse e finalmente provesse à minha reforma, segundo os termos acordados.
Nas recentes medidas económicas de excepção, sacrificou V.ª Ex.ª, uma vez mais, aqueles que pagam, sempre o fizeram e assim continuam. Quanto à oligarquia de riqueza ostensiva, na qual se inclui a classe política, continua arrogante, impune... e não tributada. No outro extremo, marginais que nunca trabalharam são encorajados a jamais o fazerem, mediante subsídios da Segurança Social, numa pedagogia leviana e suicidária, conquanto que eleitoralmente muito rentável.
Não sendo político não necessito de ser politicamente correcto. V.ª Ex.ª sabe, por demais, a quem maioritariamente são entregues os subsídios da Segurança Social: àqueles grupos étnicos que, justamente, perfazem o grosso da nossa população prisional. Assim, in limine, o subsídio é, na realidade, um suborno pago aos marginais para os manter controlados. Dada a maneira como V.ª Ex.ª trata as polícias e a magistratura faz todo o sentido. É mesmo muito inteligente e pragmático. Não sei é se será ético mas, olhando em redor, essa é uma palavra em desuso. Ora o certo é que a Segurança Social não vive das contribuições dos políticos - reformados ao fim de oito exaustivos anos de trabalho. Vive das nossas. E V.ª Ex.ª, ao alterar, de forma unilateral e, repito, retroactiva, o contrato que me ligava ao Estado, denunciou esse contrato. V.ª Ex.ª decerto concordará que, se não fosse o Estado, mas uma pessoa individual, a praticar estes actos, tal teria um nome pejorativo e uma sanção penal. Assim como se se tratasse de uma empresa ou qualquer outra entidade patronal haveria, indiscutivelmente, lugar a uma indemnização por quebra de contrato.
Pelo que, reportando-me aos princípios de equidade que seria suposto regerem o país, peço em meu nome, e dos médicos das carreiras públicas, igualdade de tratamento com os senhores deputados da nação, naquilo que V.ª Ex.ª muito bem definiu como «justas expectativas».
Respeitosamente.
Coimbra, 28 de Junho de 2005
a) Dr. Luís Canavarro*
*Assistente Hospitalar Graduado de Psiquiatria nos HUC
(carta que recebi, via correio electrónico, e que, embora atrasada, dispensa comentários.)

13 março 2006

[189] Late afternoon: folha de um diário intimista


Se eu puder partilhar o coração com alguém especial estarei a partilhar tudo o resto:
os meus livros, os meus silêncios, as minhas falas, o meu conhecimento, as minhas fraquezas, as minhas forças, os meus objectivos, o meu riso, as minhas lágrimas, a minha cama, a minha vida...

11 março 2006

[188] A caricatura da república

Jorge Sampaio, por Paula Rego (via "Expresso")


Foto, retrato ou caricatura?
Não entendo a intenção. Desmerece porque desmoraliza. O retrato de um Presidente tem que engrandecer o homem e o cargo! A presidência não é uma galeria de arte kitsch!
(Núncio/Portugal Real, Expresso, 11-3-2006)

07 março 2006

[187] O direito a (não) ser muçulmano

"GV: Porque é que tantos muçulmanos que vivem na Europa parecem ter desprezo pela Europa?
A.H.A.: Na América, é-se americano desde que se lá entra. Na Europa, a maioria dos imigrantes quer sempre regressar à sua terra natal. Em consequência, são sempre acolhidos como meros «visitantes» nas suas novas sociedades. Se uma pessoa não se defende sozinha na América, se não ganha o seu dinheiro, está literalmente morto e fracassará. Na Europa, o estado social distribuiu dinheiro generosamente, deixando os imigrantes num estado de espírito passivo. O seu «modo de ser diferente» é encorajado pelos sacerdotes islâmicos importados, que lhes dizem que não têm nada de comum com os infiéis.
GV: Qual é o próximo passo depois do multiculturalismo?
A.H.A.: Chegou a altura de tratarmos os imigrantes como cidadãos genuínos. O governo tem de agir mais claramente, por vezes com maior dureza, e tem de exigir mais. Veja os crimes de honra contra as mulheres turcas, que são um problema aqui na Holanda. Não apenas o homicida tem de ser punido, mas também toda a família, até a mulher que serve o chá enquanto o conselho de família se reúne para preparar este acto sangrento. Precisamos de enviar um sinal: não é permitido fazer estas coisas. Nos casos de excisão do clítoris precisamos também de um sistema de controlo. Na Holanda, temos esse sistema, mas ainda funciona numa base de voluntariado. Contudo, já é um começo.
GV: Porque é que as nossas sociedades europeias não são capazes de actuar mais vigorosamente contra injustiças óbvias e a opressão da mulher muçulmana?
A.H.A.: Quando vamos às comunidades turcas e falamos sobre os valores e códigos de comportamento que são incompatíveis com a liberdade e a democracia, muitas vezes ouço o argumento de que, na Europa, os judeus foram mortos e que isto é também o que está destinado para os muçulmanos - eliminá-los culturalmente. Estes são argumentos assassinos que paralisam qualquer europeu. Pela minha parte, na minha qualidade de nova mulher europeia, digo-lhes: não se deixem enganar! O que essas pessoas estão a dizer é simplesmente, «deixem-nos em paz e deixem-nos continuar a oprimir as nossas mulheres». Nenhuma sociedade civil nem nenhum governo têm de aceitar isto.
"
(GV é Andrea Seibel, sub-chefe de redacção do «Die Welt», e AHA é Ayaan Hirsi Ali, a deputada holandesa-somali que trabalhou com Theo van Gogh num filme sobre as mulheres muçulmanas. É um excerto de uma entrevista republicada no «Expresso». Os sublinhados são do blogger.)
*
Humildemente, sugerimos que Freitas do Amaral (re)leia esta entrevista. Pode ser que, finalmente, entenda...

[186] Early night: confissões de 12 mentes brilhantes

«Depois de ter vencido o Fascismo, o Nazismo e o Estalinismo, o mundo enfrenta agora uma nova ameaça totalitária global: o Islamismo.
Nós, escritores, jornalistas, intelectuais, vimos aqui apelar à resistência ao totalitarismo religioso, bem como à promoção da liberdade, da igualdade de oportunidades e dos valores laicos para todos.
Os eventos que ocorreram recentemente, depois da publicação das caricaturas de Maomé em jornais europeus, tornaram evidente a necessidade de um combate em prol destes valores universais. Trata-se de um confronto a travar no campo ideológico e que nunca poderá ser ganho pelas armas. Aquilo a que estamos presentemente a assistir não constitui um conflito de civilizações, nem um antagonismo Este-Oeste, mas antes uma luta global entre democratas e teocratas.
Como todos os totalitarismos, o Islamismo estabelece-se sobre medos e frustrações. Os pregadores do ódio apostam nesses sentimentos para formar batalhões destinados a impor um mundo de opressão e desigualdades. Contudo, nós afirmamos clara e firmemente: não existe nada, nem mesmo o desespero, que possa justificar a escolha do obscurantismo, do totalitarismo e do ódio. O Islamismo é uma ideologia reaccionária que aniquila a igualdade, a liberdade e a laicidade sempre que as encontra. O seu êxito só pode conduzir a um mundo de dominação: dominação do homem sobre a mulher, dominação dos islamistas sobre os demais. Para nos opormos a este processo, temos que assegurar direitos universais a todos os povos discriminados ou oprimidos.
Rejeitamos o «relativismo cultural», que consiste em aceitar que homens e mulheres de cultura muçulmana devem ser privados do direito à igualdade, à liberdade e aos valores laicos em nome do respeito pelas culturas e tradições.
Recusamo-nos a renunciar ao espírito crítico por receio da acusação de "islamofobia", um conceito infeliz que confunde a crítica do Islão enquanto religião com a estigmatização dos seus crentes.
Pugnamos pela universalidade da liberdade de expressão, para que o espírito crítico se possa exercer em todos os continentes, contra todos os abusos e todos os dogmas.
Apelamos a todos os democratas e espíritos livres de todos os países para que o nosso século venha a ser um tempo de Iluminismo e não de obscurantismo.»
Ayaan Hirsi Ali,
Chahla Chafiq,
Caroline Fourest,
Bernard-Henri Lévy,
Irshad Manji,
Mehdi Mozaffari,
Maryam Namazie,
Taslima Nasreen,
Salman Rushdie,
Antoine Sfeir,
Philippe Val,
Ibn Warraq.»
(Tradução de Luís Mateus -
Associação República e Laicidade)
*
A publicação deste Manifesto aqui no Divã é devida à oportuna iniciativa de Ricardo Alves, do Diário Ateísta, a quem o pedimos "emprestado" (os destaques a negro são nossos).
Humildemente sugerimos a Freitas do Amaral que o leia, já que provavelmente não leu a entrevista do Presidente da República eleito ao ABC [181].

06 março 2006

[185] A propósito do brutal assassinato da Gisberta

«Triste época! Mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.»
(Albert Einstein)
*
Não vamos fazer nada?

05 março 2006

[184] Late evening: Frida, a força da natureza!

"A coluna partida" (1944)
Frida Kahlo (1907-1954, México)
Sempre nos podemos impor, se nos deixarmos invadir pela força da vida! Uns pela música, outros pelo verbo, outros pelo tacto, outros pela pintura, uns pela escrita, outros pela ciência...
E todo o testemunho é encorajador!
(comentário do blogger a um post num blogue amigo)

[183] Poesia do mundo: Frei Agostinho da Cruz (1540-1619, Portugal)

«Ao triste estado

Passa por esse vale a Primavera,
As aves cantam, plantas enverdecem,
As flores pelo campo aparecem,
O mais alto do louro abraça a hera;


Abranda o mar; menor tributo espera
Dos rios, que mais brandamente descem;
Os dias mais fermosos amanhecem;
Não para mim, que sou quem dantes era.


Espanta-me o porvir, temo o passado;
A mágoa choro de um, de outro a lembrança,
Sem ter já que esperar, nem que perder.


Mal se pode mudar tão triste estado;
Pois para bem não pode haver mudança,
E para maior mal não pode ser

[182] Literatura do mundo: O Morgardo de Fraião

«- Então vai-se embora, primo? - exprimiu o capitão-mor em voz mista de espanto e reprovação.
- Vou, pois então! Quer que me deixe roubar? Não, de mim não zombam. O abade e o Guerrilhas vão ver uma fona...
- Mas estava ainda há pouco tão doente...
- Não sei. Agora sinto-me rijo. De resto só quero forças até chegar a Valença, e uma moratória de dias... mais dois ou três dias de vida... S. Bento da Porta Aberta, meu advogado nas aflições, há-de-me ouvir e interceder por mim junto do Altíssimo - e, dizendo isto, calçava, sentado na cama, as botas de cano alto, levantando a perna à altura da cabeça do capitão-mor, acaçapado no tamborete.
- E o nosso rei? Não há-de assistir à abertura das Cortes? - interrogou o capitão-mor de Barcelos com certa veemência e tom de acritude.
- Em primeiro lugar estou eu. O príncipe - sabe que mais, primo? - que vá para o Diabo!»

(In RIBEIRO, Aquilino. Casa do escorpião: Novelas, Lisboa, Bertrand: 1985, pp. 11-69.)

[181] Late afternoon: a matter of beliefs!

«- ¿En qué cree que Occidente puede y debe hacer concesiones?
- Es difícil decir dónde se debe hacer concesiones, pero sí sé dónde no se puede, como en los principios fundamentales de la democracia. No puede ponerse en causa nuestra forma de vivir, en la que existen libertades que constituyen la esencia de la democracia.»
(Cavaco Silva ao jornal espanhol ABC, na primeira entrevista como Presidente da República eleito)
*
Afinal, o "razoável economista" tem também convicções políticas. E Freitas do Amaral deveria ler este trecho. Em poucas palavras, diz-se muito...

04 março 2006

[180] Late night: pintura do mundo


"Aristóteles contemplando o busto de Homero"
(Rembrandt, 1653)
Oil on canvas, 143.5 x 136.5 cm; Metropolitan Museum of Art, N. Iorque

[179] A Amizade, essa chama eterna...

"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Nem percebem
o amor que lhes devoto e a necessidade que tenho deles.
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido
todos meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos
e o quanto minha vida depende de suas existências.
Alguns deles não procuro. Basta-me saber que existem. Essa condição
me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas como não os procuro
com assiduidade, não lhes posso dizer o quanto gosto deles.
E eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem
que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que saiba e sinta que os adoro, embora não o declare
e não os procure. E, às vezes, quando os procuro,
noto que não têm noção de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí
e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Por isso é que, sem que eles saibam, rezo pela vida deles. E me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar.
É, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo
e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima
por não estarem junto de mim, compartilhando aquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida
não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo, falando comigo, todos os meus amigos.
A gente não faz amigos, reconhece-os!»
("Amigos", Vinícius de Moraes)
*
Texto lindíssimo! Traduz, com fidelidade, o que sinto pelos meus amigos...
Eles são o meu mundo e a sua ausência ou apatia entristece-me profundamente e desestrutura-me. Eles são o meu sol, o meu sal e o meu sul...

03 março 2006

[178] Early afternoon: some thoughts

In a world where you can be anything, be yourself!
True friendship comes when silence between two people is comfortable.
Don't take yourself too seriously 'cos others sure won't!
Dream. Dream the world as you want it and start working to make it so.
*
Dedico este post a todos os que tocaram ou tocarão o meu coração e àqueles em cujo coração tive a felicidade de tocar.

[177] Os estereótipos são perenes

Não deixem de clicar neste endereço e ver como há coisas que nenhuma pós-modernidade consegue alterar:

[176] A pós-modernidade na linguagem

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar "afro-americanos" aos pretos, com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!
As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas" e preparam-se agora para receber a menção de "auxiliares domésticas". De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos"; passaram todos a "auxiliares de acção educativa". Do mesmo modo, e para felicidade dos "encarregados de educação", aboliu-se o aluno cábula; tais estudantes serão, quando muito, "crianças com necessidades pedagógicas". O analfabetismo desapareceu, cedendo o lugar à "iliteracia". Os gangues étnicos são "grupos de jovens". Os vendedores de medicamentos tratam-se por "delegados de propaganda médica" e os caixeiros-viajantes por "técnicos de vendas". As fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas de fora são "centros de decisão nacionais". Desapareceram dos combóios as classes 1.ª e 2.ª, para não ferir a susceptibilidade social das massas, mas continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística".
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da melodia para: «Tenho uma família monoparental»... O abortamento eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez" e já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo".
O "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais e, para compor o ramalhete, as gentes cultas da praça dão-se a "implementações", "posturas pró-activas", "políticas fracturantes" e outras impropriedades da linguagem.
À margem da revolução semântica ficaram as putas. Essas moças são ainda agora quem melhor cultiva a língua. Da porta do prostíbulo para dentro, não há "politicamente correcto" que lhes dobre a língua!
E assim vagueamos, perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
(adaptado por Núncio de um texto anónimo que circula pela internet)

01 março 2006

[175] A pós-modernidade é um conceito próprio?

Apropriando-me, cortês mas assumidamente, de uma referência de JG no Portugal dos Pequeninos (em post de hoje), reproduzo aqui a interessantíssima lista de Norman Mailer que, segundo o mesmo, distinguirá a modernidade da pós-modernidade (embora, pessoalmente, defenda que já saímos mesmo do pós-modernismo há algum tempo). A negro, os pares que eu acho mais marcantes (decidi reproduzir a lista no original tal como resulta do sítio da Internet cujo link está associado ao título deste post; poderei, a pedido, ajudar a resolver quaisquer dificuldades de tradução):

MODERN / POSTMODERN
steel / plastic
Picasso / Warhol
Pullman & Coach / First Class & Economy
romance / narcissism
pot roast / vegan
FDR / GWB
Hitler / Hussein
Churchill / Blair
Zionism / Israel
USSR / People's Republic of China
consumption / cancer
Gone With the Wind / The DaVinci Code
drought / flood
blizzard / global warming
steak / salad
beer / lite beer
dessert / No-Cal
tycoons / CEOs
typewriters / PCs
Off-Broadway / Off-Off-Broadway
bebop / rap
shoes / sneakers
library / Internet
epistles / blogs
Gallo / Pinot Noir
bourbon / single malt
the Depression / the 1990s
corner stores / malls
Sinatra / Eminem
farming / agribusiness
slums / projects
highways / superhighways
Sears, Roebuck / Wal-Mart
antiseptics / antibiotics
heart attacks / bypasses
concentration / fragmentation
war / terrorism


Sem prejuízo de voltar ao tema, que me parece fascinante, à vous la parole! Dou o tiro de partida: a lista é marcadamente americana, embora com vários elementos "universais" ou globais, como correntemente se prefere dizer... Agora, comentem!

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