Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

29 abril 2006

[254] Os blogues dos outros: tácticas abruptas

«(...) o Governo cedeu à tentação de dizer que o que estava a fazer era uma luta contra os "privilégios" de muitas classes profissionais e com isso deslegitimou-os na sua respeitabilidade social.
«Hoje sabemos o efeito dessa táctica comunicacional: deixou cada grupo profissional de per si, socialmente isolado, face a uma opinião pública hostil, mas azedou irremediavelmente o ambiente dentro de cada corporação e grupo entrincheirados contra o Governo. Fez as corporações e os grupos profissionais fracos por fora e fortes por dentro. Uma segunda vaga ainda mais dura de medidas de austeridade e contenção vai dar origem a conflitos sociais mais tenazes. Os comportamentos desesperados vão ser mais comuns, a resistência maior.»
(José Pacheco Pereira, "Quem paga a crise?", in Público, via Abrupto, 27-4-2006)
*
Já aqui se disse (posts mais recentes sobre o assunto: [227] "Exclusivamente juízes e deputados!"; [219] "Modelo nórdico ou latino?"; [206] "Sábado à tarde: a imbecilidade [201], parte II"; [198] "Early night: entre dois pingos de chuva..."), provavelmente sem o brilho de JPP, que esta hostilização ou esta "domesticação" de certas carreiras ou classes é errada, injusta e contraproducente.
Em primeiro lugar, trata-se de carreiras cuja independência (magistrados ou jornalistas) ou auto-gestão (docentes ou médicos) é essencial, nuns casos, e útil, noutros, à democracia social e ao "Estado moderno" (embora não goste muito desta designação).
Em segundo lugar, qualquer reestruturação dessas carreiras - nos seus aspectos relativos a recrutamento, remunerações e abonos, aposentação, métodos e instrumentos de trabalho, etc. - só será (plenamente) eficaz com a compreensão e adesão dos próprios. A menos que se queiram impor pela força totalitária!
Em terceiro lugar, os governos existem para resolver os problemas das populações e dignificar o Estado... não para criar (mais) problemas, afrontando cidadãos e ofendendo categorias profissionais ou sociais!

Sem comentários:

Arquivo do blogue

Seguidores