«A obra "Os Novos Senhores do Mundo" vale a pena ser lida. Para Ziegler os lugares das grandes batalhas actuais são as bolsas de valores e as bolsas de matérias primas. Tóquio apaga-se para abrirem Francoforte, Paris, Zurique e Londres e depois Nova Iorque abre o pano. O capital virtual actualmente em circulação é 18 vezes mais elevado que o valor de todos o bens e serviços produzidos durante um ano e disponíveis no planeta. É a economia Y€S. A velocidade de circulação encolhe o mundo e abole o tempo. E como disse Pierre Bourdieu, o neo-liberalismo é como o SIDA : destrói o sistema imunitário dos Estados que o praticam (Contre-Feux, vol. 2, Paris, Raison d’Agir, 2001).
Jean Ziegler vai analisando o mundo actual e refere que um homem com emprego precário não é um homem livre. Não basta a existência de uma democracia formal: se temos medo de exprimir o nosso pensamento, pois podemos ser condenados ao desemprego, não somos, de facto, homens livres. Para além disso tornamo-nos egoístas pelo medo; em vez de solidários somos cada vez mais solitários, procurando resolver os problemas sem os outros... Na página 86 da obra, Ziegler cita Rousseau: "Estão perdidos se esquecerem que os frutos pertencem a todos e que a terra não pertence a ninguém". Mas, como um dia disse Blaise Pascal, "todas as boas coisas já foram ditas, mas não foram feitas."
Jean Ziegler, "Os Novos Senhores do Mundo e os seus opositores", Lisboa, Terramar, 2003.»
(Mendo Castro Henriques, "Neo-liberalismo é como o SIDA, por Jean Ziegler", in Duas Cidades, 21-4-2006: sublinhados nossos)
Sem comentários:
Enviar um comentário