Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

25 abril 2006

[246] A encruzilhada

«Cavaco Silva sublinhou que, 32 anos após a revolução, "Portugal continua numa encruzilhada entre o passado e o futuro, continua a ser um país fortemente marcado pelo dualismo do seu desenvolvimento", lembrando as desigualdades entre o interior e o litoral e, sobretudo, as desigualdades sociais.»
(O Presidente da República, no discurso na 32.ª sessão solene comemorativa da revolução de 25 de Abril de 1974: sublinhado nosso)
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Estar numa encruzilhada não seria demasiado preocupante (dado o contexto histórico, social e financeiro), se houvesse liderança e missão (e por liderança não entendo a voz de nenhum homem providencial; pode ser, o que nunca ocorre a ninguém, a liderança de uma equipa).
Não nos devemos esquecer que, em menos de um século, Portugal teve um duro revés histórico e económico (o Ultimatum), sofreu três revoluções ("orgulhosamente" não sanguinárias), assitiu à queda da monarquia de quatro dinastias e oito séculos, implantou três repúblicas, suportou um Estado Novo autoritário e um PREC destrambelhado, conduziu uma guerra colonial inglória e muito sofrida (embora tenha evitado, para o bem e para o mal, a II Grande Guerra) e, last but but least, aderiu ao "clube dos ricos" (sendo um remediado)...
O sinal mais preocupante, quanto a mim, desta encruzilhada e a razão por não termos, provavelmente, saído dela há mais tempo, é dado pelos protagonistas institucionais, cujos rostos - no poder político (central e local), económico, financeiro (sobretudo a Banca), sindical, social (as mesmas obras de sempre) e cultural (incluindo artístico) - continuam a ser, na maioria, os mesmos de há 30 anos atrás. Sem "recauchutagem" nem formação profissional...
Basta ver os autarcas "dinossáurios" (sem ofensa) por esse país fora e os sindicalistas "cristalizados" por essas associações fora... Atente-se no leque de titulares de cargos políticos (incluindo a Madeira, claro), onde raramente se encontra um "novo rosto" (excepção, curiosamente, para o Primeiro-Ministro, o qual, no entanto, vai beber na mesma fonte dos seus pares).
Nada disto seria grave se, ao menos, tivéssemos uma "sociedade civil" pujante, esclarecida, entusiasmada...

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