"Há dias, escondida na Página do Leitor do JN, uma carta de um cidadão chamado João Conlelas ajustava singelamente algumas contas.
A coisa passou-se assim: o doutor Mário Soares, sempre incensado pelas comitivas que o acompanham, havia dado, por estes dias, um ar de sua graça em Bragança, vociferando contra a interioridade e prometendo que, se fosse eleito Presidente da República, lá estaria na primeira linha da defesa das populações e do seu comboio. O leitor do JN esclarece que, por aquelas bandas, não houve grande entusiasmo com o palavreado e o folclore de campanha.
Ora, segundo João Conlelas, a explicação é simples: há uns anos, numa das presidências abertas de Soares por aquelas bandas, o então inquilino de Belém recebeu dos transmontanos um forte apelo para não deixar acabar o comboio que a CP ameaçava tirar-lhes. Tal como hoje, Soares prometeu, alto e bom som, que o comboio era do povo e do povo ia continuar. Na manhã seguinte, foi-se o comboio e Soares não voltou. Até há dias. Os transmontanos é que «ainda não esqueceram a traição», escreve o leitor.
Foi Soares quem disse, uma vez: «Em democracia, quem mente ao povo é réu de alta traição». Eu subscrevo. Quanto a ele, melhor será lembrar-se de que não andamos todos a ver passar os comboios"...
(Miguel Carvalho, A DEVIDA COMÉDIA, Visão, 6-12-2005)
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