Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

17 dezembro 2005

[103] Autoridade, responsabilidade e democracia

« (...) há muito que se assiste, da parte das elites políticas e de opinadores públicos, à minagem da autoridade do Estado e, nomeadamente (...), das polícias. Esta minagem assenta culturalmente numa deriva perversa da cultura antifascista que assume moralmente que, por natureza, a polícia é má e age por mal. Ao que acrescem as teses desresponsabilizantes de que os criminosos são vítimas da sociedade que, por esse motivo, os condiciona socialmente para o mal.
« Que a polícia não é formada por ‘gentlemen’ só pode surpreender quem desconhecer a sociedade de onde os seus agentes são extraídos, bem como o crivo cultural dessa extracção. Numa sociedade com um baixo nível cultural e com um enorme lastro de iliteracia, ter uma polícia formada por cidadãos de elevado contorno cultural e com educação de ‘gentlemen’ só se conseguirá pagando os salários compatíveis com a relativa escassez da oferta. E, mesmo assim, levaria muito tempo a renovar todo o quadro.
« De qualquer forma, a polícia é formada por cidadãos normais que se esforçam por cumprir o melhor que sabem as missões que lhes são atribuídas. Por isso, quando (20 anos depois de Abril) um Governo afirma que esta não é a minha polícia, sem criar de imediato as condições – financeiras, organizativas e políticas – para a substituir pela sua polícia ideal, a única coisa que consegue é desautorizar publicamente a única polícia de que o Estado dispõe, retirando-lhe a eficácia para assegurar a segurança que os cidadãos têm o direito de exigir. O mesmo acontece quando (antes) um Presidente da República invectiva publicamente um polícia no cumprimento da sua função. Ou quando comentadores sistematicamente condenam, ‘a priori’, qualquer intervenção policial que recorra ao uso da força.
« Essas atitudes acabam por favorecer, involuntariamente é certo, as forças da insegurança e minar a capacidade de o Estado garantir a segurança dos cidadãos. Por isso, se se quiser mesmo garantir essa segurança, ter-se-á que começar por mudar de atitude, recusando a cultura anti-autoridade».
(Vítor Bento, DE)

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