"Dizer que Cavaco não tem legitimidade moral e histórica para ser Presidente da República não é apenas um argumento arrogante, anacrónico e politicamente insustentável que traduz as pretensões monopolistas da esquerda sobre a chefia do Estado. É, sobretudo, um argumento estúpido que ofende a maioridade cívica dos eleitores e só serve, por isso mesmo, para reforçar a sua candidatura. Já o afirmei e escrevi diversas vezes, mas constato que, apesar das nuances, não será essa a opinião da maioria dos principais adversários de Cavaco (com a excepção mais notória de Manuel Alegre).
"Fazer o processo a Cavaco por não ter sido um resistente antifascista e pretender impedi-lo, por isso, de ascender à Presidência significa que o salazarismo continuará a pairar, eventualmente para sempre, como um fantasma sobre a normalidade democrática do País."
(Vicente Jorge Silva, DN, 17-12-2005)
Já aqui tenho dito que acho um erro de palmatória o ataque cerrado a CS, sobretudo porque - mais do que assinalar as eventuais fragilidades da sua candidatura - assenta em preconceitos sócio-culturais e históricos. Vejamos:
1. O PR não tem que ser um antigo combatente anti-fascista (isso, por si só, não qualifica especialmente nenhum cidadão, além de que, dentro de alguns anos, não é sequer etariamente possível).
2. O PR não tem que ser socialista ou laico (convém que seja republicano, sim). Não há uma "matriz presidencial" forjada por nenhum "Pai da Pátria".
3. O PR não tem que ser letrado em poesia, filosofia ou escultura. É útil que seja uma pessoa esclarecida, sensata, com mundividência. Mas, sobretudo, uma pessoa respeitada, eticamente irrepreeensível e politicamente agregadora (não esqueçamos que o PR tem uma casa civil e uma casa militar, verdadeiras assessorias técnicas).
4. O PR não tem que ser fotogénico, telegénico, muito simpático ou exuberante. Não estamos a eleger o próximo candidato ao 'Big Brother', embora às vezes pareça!
5. A mulher do candidato não concorre a nada, por isso não pode condicionar a candidatura do seu marido nem imiscuir-se na candidatura de terceiros.
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