«Há alguns anos (não muitos), lembro-me de ter lido um estudo de opinião que indicava que a maioria dos portugueses declarava-se politicamente como sendo de centro-esquerda, depois de centro-direita e depois de esquerda. Não quero ser impreciso, mas o centro-esquerda e a esquerda congregariam, a ser uma amostra representativa, cerca de 35% contra apenas 25%, talvez, de portugueses de direita e centro-direita.
Claro que, depois, há toda aquela "maioria silenciosa" e pouco ideológica [que, normalmente, fornece a abstenção].
Não tenho qualquer dúvida (e não creio que me vá enganar muito): Cavaco Silva vencerá com milhares e milhares de votos do centro-esquerda e da esquerda.
Porque será?»
(Portugal Real/Núncio)
1 comentário:
Talvez seja bom ter em conta também esta variável:
"Quatro hipóteses para a direita
A esquerda tem quatro candidatos nestas eleições; mas a direita tem também quatro opções. A mais óbvia é Cavaco, podemos passar à frente. A seguir vem Alegre, a caça, os touros: não é difícil imaginar que a direita tradicional, a quem o arrivismo de Cavaco nunca foi bom de engolir, possa dar-se melhor com o poeta de Coimbra e a sua constante invocação do amor à pátria. Acresce que há eleitores de direita - e talvez não tão poucos como isso - para quem o gosto principal nestas eleições seria derrotar Mário Soares: encontrariam nisso uma espécie de micro-vingança histórica. Deste ponto de vista, Alegre é o candidato que faz mais sentido. Se fosse possível forçar uma segunda volta em que estivessem presentes o economista de Boliqueime e o poeta de Coimbra, evitava-se o risco de uma confrontação propriamente política (o que dava o sossego de uma vitória garantida) e ainda se derrotava com «humilhação» o candidato principal da esquerda. Cavaco vs Alegre em Fevereiro não seria uma mera vitória eleitoral: seria um esboço de hegemonia; pelo contrário, a situação actual, com Cavaco controlado e colado ao centro-esquerda, é de uma possível vitória eleitoral obtida apenas a expensas da hegemonia.
Se a direita tradicional votar Alegre, a direita conservadora pode muito bem votar Soares (já no outro dia tentei defender isso). Diga-se o que se disser, boa parte da direita já votou Soares no passado e, por mais que se demonize agora o seu segundo mandato, aprovou globalmente, com larga maioria, a sua passagem por Belém. Soares oferece previsibilidade; oferece aquela coisa que os conservadores apreciam mais que tudo, sentido das «instituições». Em matéria de política interna, não oferece surpresas; tão pouco oferece rupturas. Não é um «deles», mas é um adversário perfeitamente conhecido, tolerado, previsível. De resto, há gente conservadora (na linha de Freitas) que sabe que tem mais a confiar na abordagem prudente de Soares à política internacional, do que na rapaziada um pouco ciclotímica que preenche as comissões política e de honra de Cavaco, por estes dias. Uma direita moderada, a quem Soares deu a mão nos momentos realmente difíceis, não tem nada a temer desta experiência sobejamente conhecida.
Sobra Louçã. Pode parecer estranho, mas Louçã é na verdade o único «chefe» presente nesta campanha; o único que se coloca na pose da «competência» e não apenas dentro das suas vestes um pouco ridículas e um pouco poídas (Cavaco). Louçã não é de direita, mas em boa hora abandonou a referência sistemática à esquerda e à direita no seu discurso, optando por falar sobre as «soluções» para os «problemas do país». Não é Paulo Portas, mas é a coisa mais parecida que está no momento disponível. E alguém imagina que os verdadeiros discípulos de Portas se sintam galvanizados por um político envelhecido, tecnocrático, de discurso um tanto tíbio, como é hoje Cavaco Silva? Não faço estimativas sobre número de votos, tanto mais que, na disputa presidencial, a direita portuguesa tem manifestado sempre um assinalável pragmatismo (nem um único candidato «extra», se descontarmos as anomalias militares de Galvão de Melo e Pires Veloso, desde 1980); mas saiba, caro leitor de direita, que quando no dia 22 estiver a olhar para o lado, a hesitar sobre se a fidelidade ao rebanho não está a levá-lo por maus caminhos – não estará sozinho.
ivan 2:02 AM
(in Super Mário)
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