Como Portugal é bipolar, ora está eufórico, ora está deprimido, isso também se teria de fazer sentir no desporto. Ou se é benfiquista ou se é anti-benfiquista, não há meio-termo!
Por isso, quando se discutem as implicações de uma (eventual) suspensão da participação do FCP na próxima edição da Liga dos Campeões da UEFA, (quase) todos os comentários referem o SLB, mesmo não tendo este clube nada a ver (que se saiba) com os factos apurados, bem ou mal julgados.
A própria Federação Portuguesa de Futebol, quiçá hesitante entre o dever de informar a UEFA e o temor reverencial a PC, já veio declarar que está surpreendida com a punição e que tudo fará para que o clube português seja tratado "com equidade".
Três equívocos estão a contaminar o debate:
1. Primeiro, não há igualdade nem equidade na ilegalidade.
2. Em segundo lugar, a FPF não pode, internamente (através da Liga ou de outro seu órgão) apurar factos ilícitos e, até ver, propor condenações e, externamente, mostrar-se surpreendida com as (possíveis) consequências desses processos.
3. Finalmente, isto não é um processo em que o SLB seja parte ou interveniente ou sequer que, sendo hipoteticamente beneficário, seja o único ou o maior dos beneficiários.
Em bom rigor, não há um, nem dois, nem três, mas quatro (!) beneficiários de qualquer suspensão (que seja confirmada em instância superior). Mas a ciclotimia típica de jornalistas e agentes desportivos, como bons portugueses, faz com que Belenenses, Braga e Guimarães, o grande beneficiário da confirmação dessa suspensão, sejam completamente ignorados e o anti-benfiquismo provoque esta pobre dicotomia.
Senão, veja-se: o SLB não garante coisíssima nenhuma a não ser a possibilidade de fazer dois jogos de apuramento para a fase de grupos. O Guimarães, sim, adquire o direito de participar automaticamente nessa fase, fazendo pelo menos seis jogos na referida competição.
Por outro lado, o SLB já havia adquirido o direito (que, por enquanto, se mantém) de participar numa competição, a Taça UEFA. O Belenenses não iria participar em nenhuma e, assim sendo, será eligível para a Taça Intertoto, o que é bem diferente!
E por tudo o que vimos de dizer, a FPF tem de ter algum savoir faire e imparcialidade porque, neste caso concreto, há terceiros clubes seus associados potenciais beneficiários das decisões europeias.