«[Os potenciais eleitores mantêm-se] numa posição passiva de meros espectadores, mais ou menos interessados, como se tudo se tratasse de uma espécie de concurso ou talk show televisivo, para apreciação das qualidades histriónicas dos segundos: o mais engraçado, o mais rápido, o mais astuto, o mais surpreendente... É a redução da política à sua expressão mais simples, um exercício abstracto sobre a realidade, sem antes nem depois.
«Quando se fala da qualidade da democracia, em última análise é disto mesmo que se fala: a qualidade dos representantes não pode dissociar-se do grau de exigência dos eleitores; uma exigência que, em fase de campanha, tem tudo a ver com a profundidade, objectividade e seriedade com que exigem ser esclarecidos.
«[Apesar de tudo, fica claro], felizmente, o bom senso do cidadão comum que consegue distinguir, apesar das encenações, dos gráficos e dos indicadores de duvidoso rigor, das frases descontextualizadas, das cartas na manga e dos coelhos na cartola, quem é ou não é de confiança, quem tem ou não carácter. Se ninguém pensa comprar um carro em segunda mão a quem não lhe merece confiança, como poderia entregar Portugal e o seu futuro?»
(M.ª José Nogueira Pinto, "O que se vê e o que não se percebe", DN, 17-9-2009)
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