Pese embora possuir efectivamente todas essas qualidades (políticas, técnicas e humanas), Jorge Miranda cometeu dois erros: entrou a destempo (foi o 4.º nome proposto pelo PS, depois de Freitas do Amaral, António Arnaut e, se não erro, Laborinho Lúcio) numa luta partidária que, estranhamente, nada tem a ver com toda a sua carreira; e, em segundo lugar, entrou numa corrida onde já estava Maria da Glória Garcia, que foi sua aluna e é hoje vice-Reitora da universidade (Católica) onde também lecciona.
Porquê? Para quê?
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Quando chamei a atenção para a chegada tardia de Jorge Miranda à compita, onde já estava Maria da Glória Garcia, não quis centrar-me em questões protocolares ou de mera cortesia (que, apesar de tudo, fazem falta na política, que está tão pouco digna e elevada), nem sequer quis insinuar que um é muito melhor do que o outro.
Pelo contrário, sendo ambos da mesma área institucional (academia e ambos docentes nas mesmas duas universidades), sendo ambos, embora independentes, da mesma área política (social-democracia), o que leva o PS a rejeitar, durante meses, a primeira e, à quarta tentativa, sugerir o segundo, que tem as afinidades com a primeira que acabei de elencar, tendo desvantagem até em dois itens (idade e género)?
Quando, numa negociação, não aceitamos determinada personalidade (por razões várias e até atendíveis), é suposto, se formos sérios e competentes, apresentar alternativas bem diversas das que recusamos para que se perceba bem a coerência das nossas escolhas.
Em resumo, o PS (na prática, José Sócrates) quer indicar todos os titulares de órgãos do Estado, permitindo-se até recusar nomes de forma gratuita e apresentar outros que preenchem praticamente os mesmos critérios da personalidade rejeitada!
Repito, porque não serve Maria da Glória Garcia?
(comentários a "Jorge Miranda", por Jorge Ferreira, e "Contra o interesse público…", por Ana Paula Fitas", Eleições 2009, 29-5-2009)