(...) A tese da ingovernabilidade é a daqueles que receiam a partilha do poder, a negociação, os acordos. Se os representados dizem, nas urnas, que querem que os seus representantes governem em coligação, é essa a sua vontade e a sua expressão tem sempre um significado político. Normalmente, o da pacificação, o da atenuação de excessos e autoritarismos.
Também outros, já nesta república, acharam que a eficácia governativa só era atingida com maiorias absolutas e, no entanto, logo a seguir veio um governo minoritário que governou durante toda a legislatura. Mal ou bem, o povo já julgou. Mas governou com o peso político que os eleitores entenderam justo e razoável.
A tese da ingovernabilidade convoca, no limite (e daí o perigo da sua defesa), a ideia de um governo que tudo sabe e tudo faz, sem prestar contas ao Parlamento, ao Presidente e à comunicação social. E, pior, apela a uma chefia todo-poderosa, o que alimenta o culto da personalidade, tão pouco democrático e cívico...
(Núncio / Portugal Real, comentário a "Provedor: melhores resultados de sempre na hora da renúncia", Expresso on line, 3-6-2009)
2 comentários:
Concordo plenamento consigo . Resta-me no entanto uma dúvida :
exprimiu os mesmos pios e castos pensamentos durante o decénio político 1985-1995 ?
Sabe é que tenho cá umas dúvidas que gostaria de ver esclarecidas.
PS: Como já percebi que só publica os comentários que lhe agradam no seu blog. Gostaria que DEMOCRATICAMENTE publicasse este de um seu leitor. Muito obrigado, REPROBO
Leitor Reprobo,
mantenho a minha opinião de há muito tempo: as maiorias absolutas monopartidárias parlamentares devem ser excepcionais, em momentos que convocam uma governação muito exigente e de chefias políticas muito fortes.
A tradição das democracias europeias é, como sabe, a contrária e não consta que Estados como os nórdicos, a Alemanha, a França e a Holanda (em que são muito frequentes os governos de coligação) sejam menos governáveis do que o nosso.
Uma nota final para repudiar vivamente a sua insinuação em post scriptum. Aqui não se publicam só "os comentários que [m]e agradam". Publicam-se todos os que, a favor ou contra, em dialéctica política e democrática, forem escritos dentro dos limites da boa educação e do bom gosto.
Enviar um comentário