Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

06 junho 2009

[886] As fraquezas da força maioritária

(...) A tese da ingovernabilidade é a daqueles que receiam a partilha do poder, a negociação, os acordos. Se os representados dizem, nas urnas, que querem que os seus representantes governem em coligação, é essa a sua vontade e a sua expressão tem sempre um significado político. Normalmente, o da pacificação, o da atenuação de excessos e autoritarismos.
Também outros, já nesta república, acharam que a eficácia governativa só era atingida com maiorias absolutas e, no entanto, logo a seguir veio um governo minoritário que governou durante toda a legislatura. Mal ou bem, o povo já julgou. Mas governou com o peso político que os eleitores entenderam justo e razoável.
A tese da ingovernabilidade convoca, no limite (e daí o perigo da sua defesa), a ideia de um governo que tudo sabe e tudo faz, sem prestar contas ao Parlamento, ao Presidente e à comunicação social. E, pior, apela a uma chefia todo-poderosa, o que alimenta o culto da personalidade, tão pouco democrático e cívico...
(Núncio / Portugal Real, comentário a "Provedor: melhores resultados de sempre na hora da renúncia", Expresso on line, 3-6-2009)

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo plenamento consigo . Resta-me no entanto uma dúvida :
exprimiu os mesmos pios e castos pensamentos durante o decénio político 1985-1995 ?
Sabe é que tenho cá umas dúvidas que gostaria de ver esclarecidas.
PS: Como já percebi que só publica os comentários que lhe agradam no seu blog. Gostaria que DEMOCRATICAMENTE publicasse este de um seu leitor. Muito obrigado, REPROBO

Unknown disse...

Leitor Reprobo,
mantenho a minha opinião de há muito tempo: as maiorias absolutas monopartidárias parlamentares devem ser excepcionais, em momentos que convocam uma governação muito exigente e de chefias políticas muito fortes.
A tradição das democracias europeias é, como sabe, a contrária e não consta que Estados como os nórdicos, a Alemanha, a França e a Holanda (em que são muito frequentes os governos de coligação) sejam menos governáveis do que o nosso.
Uma nota final para repudiar vivamente a sua insinuação em post scriptum. Aqui não se publicam só "os comentários que [m]e agradam". Publicam-se todos os que, a favor ou contra, em dialéctica política e democrática, forem escritos dentro dos limites da boa educação e do bom gosto.

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