Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

30 julho 2006

[333] Pintura do mundo: Lisboa antiga


Abel Manta (1888-1992), "Largo de Camões", 1964

[332] Poesia ao cair do crepúsculo

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
(Amor e seu tempo, Carlos Drummond de Andrade)

[331] Hora da charada, em dia de preguiça (2)

Que têm em comum um nobre e um livro?

[330] "Bocas" em domingo (ainda) sem futebol

Depois do "penta" tripeiro e da taça grega, o que irá construir o senhor engenheiro no Glorioso?

[329] Hora da charada, em dia de preguiça

Qual é a palavra que tem quatro sílabas e vinte e três letras?

[328] Duvidosa pronúncia presidencial

*
É, devo dizê-lo, um comunicado surpreendente.
Cavaco Silva tem sido um homem, ao longo de mais de 20 anos de carreira política ou cívica, pouco dado a dúvidas ou estados de alma. De convicções fortes, determinado, solitário, estudioso, organizado e metódico. Sempre que decidiu, não teve medo de errar. Cavaco decidiu, está decidido. Goste-se ou não.
Nesta questão (e já noutra anterior em que também insinuou não estar convencido), não esteve bem, nada bem. Como, acintosamente, lhe assinalou o visado, se tinha dúvidas, não assinava.
Estranho este novo 'roteiro pelas dúvidas'...
Se as considerações feitas sobre a (não) adesão política, pela promulgação, aos actos do Governo são correctas e pedagógicas, é inquietante notar que o Presidente não retira conclusões da sua própria tese. Ora, se - ao promulgar - não está necessariamente a aderir, não promulgando não está forçosamente a praticar um acto de censura (sobre a substância). Pode apenas traduzir uma discordância (exigentemente sempre fundamentada) da forma, do tempo, do modo da medida.
Promulgando ou vetando, o Presidente da República deve sempre fazê-lo ponderada, mas convictamente. Como, no caso, sempre nos habituara...
Em resumo, "Dê-me o benefício das suas convicções, se as tiver, mas guarde para si as dúvidas. Bastam-me as que tenho." (Johann Wolfgang von Goethe, 1749-1832)

23 julho 2006

[327] Despiste político

"O que esta semana se passou com a ministra da Educação deve servir de exemplo a todo o Governo: mesmo políticas bem intencionadas e, de uma forma geral, dirigidas na direcção correcta, podem sofrer rudes golpes quando não se escutam as críticas públicas e se desvaloriza toda e qualquer iniciativa da oposição."
(José Manuel Fernandes, Público online, 23-7-2006)

[326] Palavras de domingo: não protelarás

"TODOS OS ANOS, NESTA HORA DE ORAÇÃO, EU OBSERVO VOSSOS ROSTOS E VEJO ALGO DE INDEFINÍVEL NAS VOSSAS EXPRESSÕES. SEI LÁ, UM MISTO DE ALEGRIA E TRISTEZA, NÃO SEI SE TRISTEZA É A PALAVRA CERTA, TALVEZ APREENSÃO. ANTIGAMENTE, NÃO ENTENDIA O PORQUÊ. HOJE, UM POUCO MAIS VELHO, UM POUCO MAIS MADURO, UM POUCO MAIS VIVIDO, UM POUCO MAIS SENSÍVEL, ACHO QUE CONSIGO COMPRENDER.
A MATEMÁTICA DA VIDA NÃO É SIMPLES. CADA SOMA É TAMBÉM UMA SUBTRAÇÃO. QUANDO SOMAMOS MAIS UM ANO ÀQUELES QUE JÁ VIVEMOS, SUBTRAIMOS UM ANO DAQUELES QUE NOS RESTAM PARA VIVER. ENTÃO, A FELICIDADE DE ESTARMOS AQUI HOJE VEM ACOMPANHADA DA MELANCÓLICA PERCEPÇÃO DE QUE O TEMPO VOA E A VIDA PASSA. NESSA HORA DE ORAÇÃO, TALVEZ MAIS DO QUE EM QUALQUER OUTRA, SENTIMOS A URGÊNCIA DE VIVER.
TEDDY KOLLEK, O DINÂMICO PREFEITO DE JERUSALÉM, PROPÕE EM SUA AUTOBIOGRAFIA UM 11.º MANDAMENTO: "NÃO SERÁS PACIENTE".
À PRIMEIRA VISTA, TAL CONSELHO PARECE IR CONTRA UMAS DAS QUALIDADES MAIS VALORIZADAS PELA HUMANIDADE: ­ A PACIÊNCIA É UMA VIRTUDE. NO ENTANTO, AO REFLETIRMOS SOBRE AS PALAVRAS DE KOLLEK, PERCEBEMOS QUE ELA CONTÉM UMA GRANDE SABEDORIA. A IMPACIÊNCIA É NECESSÁRIA PARA REMEDIAR NOSSA TENDÊNCIA TÃO HUMANA DE PROTELAR. POIS A VERDADE É QUE, EM MUITAS ÁREAS VITAIS DE NOSSA EXISTÊNCIA, SOMOS PACIENTES DEMAIS. ESPERAMOS DEMAIS PARA FAZER O QUE PRECISA SER FEITO, NUM MUNDO QUE SÓ NOS DÁ UM DIA DE CADA VEZ, SEM GARANTIA DO AMANHÃ.
ENQUANTO LAMENTAMOS QUE A VIDA É CURTA, AGIMOS COMO SE TIVÉSSEMOS À NOSSA DISPOSIÇÃO UM STOCK INESGOTÁVEL DE TEMPO. ESPERAMOS DEMAIS PARA DIZER PALAVRAS DE PERDÃO QUE DEVEM SER DITAS, PARA PÔR DE LADO RANCORES QUE DEVEM SER EXPULSOS, PARA EXPRESSAR GRATIDÃO, PARA DAR ÂNIMO, PARA OFERECER CONSOLO.
ESPERAMOS DEMAIS PARA SER PAIS DOS NOSSOS FILHOS PEQUENOS, ESQUECENDO QUÃO CURTO É O TEMPO EM QUE ELES SÃO PEQUENOS, QUÃO DEPRESSA A VIDA OS FAZ CRESCER E IR EMBORA. ESPERAMOS DEMAIS PARA LER OS LIVROS, OUVIR AS MÚSICAS, VER OS QUADROS QUE ESTÃO ESPERANDO PARA ALARGAR NOSSA MENTE, ENRIQUECER NOSSO ESPÍRITO E EXPANDIR NOSSA ALMA. ESPERAMOS DEMAIS PARA ENUNCIAR AS PRECES QUE ESTÃO ESPERANDO PARA ATRAVESSAR NOSSOS LÁBIOS, PARA EXECUTAR AS TAREFAS QUE ESTÃO ESPERANDO PARA SEREM CUMPRIDAS, PARA DEMONSTRAR O AMOR QUE TALVEZ NÃO SEJA MAIS NECESSÁRIO AMANHÃ. ESPERAMOS DEMAIS NOS BASTIDORES, QUANDO A VIDA TEM UM PAPEL PARA DESEMPENHARMOS NO PALCO.
DEUS TAMBÉM ESTÁ ESPERANDO. ESPERANDO QUE NÓS PAREMOS DE ESPERAR. ESPERANDO QUE NÓS COMECEMOS A FAZER TUDO AQUILO PARA O QUAL ESTE DIA E ESTA VIDA NOS FORAM DADOS.
MEUS AMIGOS, É HORA DE VIVER!"
(Henry Isaac Sobel, n. em Lisboa, a 9 de Janeiro de 1944, filho de pais belgas e que se formou em Nova Iorque, é o rabino presidente da Congregação Israelita Paulista.)

16 julho 2006

[325] Falso carisma

" (...) se Marques Mendes tivesse um metro e oitenta e o olho azul toda a gente o acharia perfeito. Ainda há disto? Acreditem que sim, e em grandes doses. Quando se fala em "falta de carisma", não se fala no fundo de outra coisa".
(Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 16-7-2006)
*
Bill Clinton, Collor de Mello, Tony Blair, Dominique de Villepin, Pedro Santana Lopes e José Sócrates são apenas exemplos recentes, mas paradigmáticos, do que VPV nos relembra hoje. Não é por acaso que o voto feminino se tornou tão importante nas democracias ocidentais...
Teriam chegado onde chegaram sem esse "carisma"?

10 julho 2006

[324] Serviço público: o amor à cultura

«O "Portal Domínio Público", lançado em novembro de 2004 (com um acervo inicial de 500 obras), propõe o compartilhamento de conhecimentos de forma equânime, colocando à disposição de todos os usuários da rede mundial de computadores - Internet - uma biblioteca virtual que deverá se constituir em referência para professores, alunos, pesquisadores e para a população em geral.
Este portal constitui-se em um ambiente virtual que permite a coleta, a integração, a preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação devidamente autorizada, que constituem o patrimônio cultural brasileiro e universal.
Desta forma, também pretende contribuir para o desenvolvimento da educação e da cultura, assim como, possa aprimorar a construção da consciência social, da cidadania e da democracia no Brasil.
Adicionalmente, o "Portal Domínio Público", ao disponibilizar informações e conhecimentos de forma livre e gratuita, busca incentivar o aprendizado, a inovação e a cooperação entre os geradores de conteúdo e seus usuários, ao mesmo tempo em que também pretende induzir uma ampla discussão sobre as legislações relacionadas aos direitos autorais - de modo que a "preservação de certos direitos incentive outros usos" -, e haja uma adequação aos novos paradigmas de mudança tecnológica, da produção e do uso de conhecimentos.
TARSO GENRO, Ministro de Estado da Educação»
*
Excepcional exemplo de serviço público de cultura, com referências da língua portuguesa que extravazam o Brasil e até obras de outras línguas, em suporte variado: texto, imagem e som. A não perder e a divulgar abundantemente...
E.T. É devido um agradecimento ao leitor Reprobo pela indicação deste sítio.

09 julho 2006

[323] Citação dominical: saber viver

Nothing shows up people so much as their attitude toward money.”, G. I. Gurdjieff ("Nada revela mais sobre as pessoas do que a sua atitude perante o dinheiro)
*
O pensador russo Gurdjieff (1877–1949), que, no início do século passado, já falava em auto-conhecimento e na importância de se saber viver, dizia: "Uma boa vida tem como base o sentido do que queremos para nós em cada momento e daquilo que realmente é o principal".
Assim, elaborou 20 regras de vida, mais tarde divulgadas pelo Instituto Francês de Ansiedade e Stress, em Paris. Quem consiga seguir 10 delas, aprendeu já a viver com qualidade interna.
1) Faça pausas de dez minutos a cada duas horas de trabalho, no máximo. Repita essas pausas na vida diária e pense em si, analisando as suas atitudes.
2) Aprenda a dizer não sem se sentir culpado ou achar que magoou alguém. Querer agradar a todos é um desgaste enorme.
3) Planeie o seu dia sim, mas deixe sempre espaço para o improviso, tendo consciência de que nem tudo depende de si.
4) Concentre-se apenas numa tarefa de cada vez. Por mais ágeis que sejam os seus quadros mentais, vai ficar extenuado.
5) Esqueça, de uma vez por todas, que é imprescindível. No trabalho, em casa, no grupo habitual. Por mais que isso lhe desagrade, tudo decorre sem a sua actuação, a não ser você mesmo.
6) Desista de ser o responsável pelo prazer de todos. Não é você a fonte de todos os desejos, o eterno mestre de cerimónias.
7) Peça ajuda sempre que necessário, tendo o bom senso de a pedir às pessoas certas.
8) Distinga problemas reais de problemas imaginários e elimine-os porque são pura perda de tempo e ocupam um espaço mental precioso para coisas mesmo importantes.
9) Tente descobrir o prazer de factos quotidianos como dormir, comer e tomar banho, sem também achar que é o máximo que vai conseguir na vida.
10) Evite envolver-se na ansiedade e tensão alheias enquanto fonte de ansiedade e tensão. Espere um pouco e depois retome o diálogo, a acção.
11) A família não é você, está junto de si, compõe o seu mundo, mas não é a sua identidade.
12) Entenda que princípios e convicções fechadas podem ser um grande peso, a trave do movimento e da busca.
13) É preciso ter sempre alguém em quem se possa confiar e com quem falar abertamente pelo menos num raio de cem quilómetros. De nada adiantará estar mais longe.
14) Saiba a hora exacta em que deve sair de cena, retirar-se do palco, deixar a roda. Nunca perca o sentido da importância subtil de uma saída discreta.
15) Não queira saber se falaram mal de si e nem se atormente com esse lixo mental; ouça apenas o que disseram de bem, com reserva analítica, sem qualquer convencimento.
16) Competir no lazer, no trabalho, na vida a dois, é óptimo ... para quem quiser ficar esgotado e perder o melhor!
17) A rigidez é boa na pedra, não no homem. A ele cabe-lhe firmeza, o que é muito diferente.
18) Uma hora de intenso prazer substitui com vantagem 3 horas de sono. O prazer recompõe mais que o sono. Logo, não perca nenhuma oportunidade de divertir-se.
19) Não abandone as suas 3 grandes e inabaláveis amigas: a intuição, a inocência e a fé!
20) E entenda de uma vez por todas, definitiva e conclusivamente: Você é o que fizer de si!

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