Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

05 março 2006

[182] Literatura do mundo: O Morgardo de Fraião

«- Então vai-se embora, primo? - exprimiu o capitão-mor em voz mista de espanto e reprovação.
- Vou, pois então! Quer que me deixe roubar? Não, de mim não zombam. O abade e o Guerrilhas vão ver uma fona...
- Mas estava ainda há pouco tão doente...
- Não sei. Agora sinto-me rijo. De resto só quero forças até chegar a Valença, e uma moratória de dias... mais dois ou três dias de vida... S. Bento da Porta Aberta, meu advogado nas aflições, há-de-me ouvir e interceder por mim junto do Altíssimo - e, dizendo isto, calçava, sentado na cama, as botas de cano alto, levantando a perna à altura da cabeça do capitão-mor, acaçapado no tamborete.
- E o nosso rei? Não há-de assistir à abertura das Cortes? - interrogou o capitão-mor de Barcelos com certa veemência e tom de acritude.
- Em primeiro lugar estou eu. O príncipe - sabe que mais, primo? - que vá para o Diabo!»

(In RIBEIRO, Aquilino. Casa do escorpião: Novelas, Lisboa, Bertrand: 1985, pp. 11-69.)

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