«(...) reformulando algo que já escrevi aqui – acho muito pobre fazer dezenas de textos e depois ter centenas de comentários que não saem da dicotomia esquerda/direita e do maniqueísmo “nós somos bons/eles são maus”. Tudo isso são chavões historicamente datados que, se queremos ser uma “democracia moderna”, como é chic dizer agora, têm de ser objecto de um “upgrade” discursivo, de natureza social, económica, financeira, política e cultural.
Adiante. O que diz o Tiago e o Francisco está certo. Pouco importa (a não ser aos militantes ferrenhos, claro) a correlação de forças interna (dentro da esquerda ou da direita); o que interessa é a correlação externa, ou seja, se PSD+CDS ou PS+CDS (muita atenção a este cenário, Cipriano!) têm votação suficiente para governar, tornando inútil a votação no BE e na CDU.
Ora, tenho para mim que dificilmente “este” PS se coligará com o BE ou com a CDU (muito menos com os dois), pois nesse dia o Sócrates deixaria de ter o apoio da Banca (BES e CGD), da construção civil e da ala católica (que não é nada irrelevante: Rosário Carneiro, Oliveira Martins, D. Policarpo, etc.). Mas não se esqueça que não é nada improvável que a sucessão directiva do PS seja antecipada em função das próximas eleições e, nesse caso, a força do BE (menos da CDU) pode ser decisiva (se o novo secretário-geral for alegrista ou soarista ou até sampaísta, tudo menos socratista ou guterrista).
O recente desespero do PS nasce desse receio: que uma eventual vitória minoritária (que julgo ser ainda o cenário mais provável, pese embora algum reforço do PSD) provoque o isolamento do actual líder por não ter ninguém (só Portas e daí a chamada de atenção anterior) que se queira coligar com ele.
Em suma, voto útil para um governo de “esquerda” é, sem dúvida, no BE e na CDU, na expectativa do sucessor de JS fazer a ponte. Voto útil num governo de “direita” é no CDS. Voto no PSD é um voto de rejeição de JS, não tanto da política do PS. Voto no PS (minoritário, como se prevê) é o mais difícil de contextualizar, dado o isolamento que se auto-impôs JS.»
(Núncio, comentário a "O voto inútil", Eleições 2009, 4-8-2009)
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