Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

05 junho 2008

[597] Bola, mentiras e escutas

Como Portugal é bipolar, ora está eufórico, ora está deprimido, isso também se teria de fazer sentir no desporto. Ou se é benfiquista ou se é anti-benfiquista, não há meio-termo!
Por isso, quando se discutem as implicações de uma (eventual) suspensão da participação do FCP na próxima edição da Liga dos Campeões da UEFA, (quase) todos os comentários referem o SLB, mesmo não tendo este clube nada a ver (que se saiba) com os factos apurados, bem ou mal julgados.
A própria Federação Portuguesa de Futebol, quiçá hesitante entre o dever de informar a UEFA e o temor reverencial a PC, já veio declarar que está surpreendida com a punição e que tudo fará para que o clube português seja tratado "com equidade".
Três equívocos estão a contaminar o debate:
1. Primeiro, não há igualdade nem equidade na ilegalidade.
2. Em segundo lugar, a FPF não pode, internamente (através da Liga ou de outro seu órgão) apurar factos ilícitos e, até ver, propor condenações e, externamente, mostrar-se surpreendida com as (possíveis) consequências desses processos.
3. Finalmente, isto não é um processo em que o SLB seja parte ou interveniente ou sequer que, sendo hipoteticamente beneficário, seja o único ou o maior dos beneficiários.
Em bom rigor, não há um, nem dois, nem três, mas quatro (!) beneficiários de qualquer suspensão (que seja confirmada em instância superior). Mas a ciclotimia típica de jornalistas e agentes desportivos, como bons portugueses, faz com que Belenenses, Braga e Guimarães, o grande beneficiário da confirmação dessa suspensão, sejam completamente ignorados e o anti-benfiquismo provoque esta pobre dicotomia.
Senão, veja-se: o SLB não garante coisíssima nenhuma a não ser a possibilidade de fazer dois jogos de apuramento para a fase de grupos. O Guimarães, sim, adquire o direito de participar automaticamente nessa fase, fazendo pelo menos seis jogos na referida competição.
Por outro lado, o SLB já havia adquirido o direito (que, por enquanto, se mantém) de participar numa competição, a Taça UEFA. O Belenenses não iria participar em nenhuma e, assim sendo, será eligível para a Taça Intertoto, o que é bem diferente!
E por tudo o que vimos de dizer, a FPF tem de ter algum savoir faire e imparcialidade porque, neste caso concreto, há terceiros clubes seus associados potenciais beneficiários das decisões europeias.

3 comentários:

Anónimo disse...

Parece me inveja de alguem que é fã de um clube que de grande so tem o estadio, porque titulos quer nacionais ou internacionais nos ultimos tempos tem sido quase impossiveis de ter. E não é por causa do sistema porque este ano alem do famigerado fcp ainda apareceu um sporting e um excelente guimaraes para atrapalhar mais as contas. Por isso é preciso ser realista e aceitar as coisas como e que o tempo da velha senhora nao volta mais. Viva a democracia e a Portugal.

Anónimo disse...

Acho piada que pressupõem saber do processo e não sabe de nenhuma acção do SLB para afastar o FCP da CL.

Unknown disse...

Caro leitor anónimo,

obrigado pelo seu comentário.
Não, não tenho inveja de quem beneficia da corrupção, da ilegalidade, do compadrio. Ao contrário, se algum sentimento tenho é o da repugnância.
Talvez por isso, nunca tive nenhuma admiração por Vale e Azevedo e rejubilei pela sua derrota e pelas suas punições.
Vitóras a qualquer preço, não! Prefiro, então, ser fã de um clube que pouco ganha... e dou sempre os parabéns a quem tem mérito, como o SCP e o VSC!
Finalmente, outro equívoco que contamina a discussão desportiva em Portugal é esse de que o SLB só ganhava em ditadura. Nada mais errado! O SLB continuou a ganhar significativamente até ao início dos anos 90 (já ia longe o ano de 1974...).
Aliás, é exactamente ao contrário: a democracia não chegou ao futebol. Conhece algum outro campeonato com relevo mundial onde a chegada de um dirigente tenha tido o efeito devastador idêntico ao que se passou em Portugal?

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