Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.
27 novembro 2006
[398] Early night: o que importa...
"PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente!
Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra."
Mário Cesariny, 1923-2006, "Nobilíssima Visão" (1945-1946) in burlescas, teóricas e sentimentais (1972)
Mário Cesariny, 1923-2006, "Nobilíssima Visão" (1945-1946) in burlescas, teóricas e sentimentais (1972)
25 novembro 2006
[396] A palavra (corajosa) dos outros: cortar a direito
(Paula de Sá, "Por favor, algum pudor!", Comunicar a direito, 24-11-2006)
*
E, agora, António José Teixeira, João Morgado Fernandes, Fernanda Câncio, José Manuel Fernandes, Diana Andringa e vossos pares?
Também vão escrever artigos a louvar, mais uma vez, a coragem e o reformismo governamentais?
[394] Impressões tardias de uma entrevista histórica (passada a tempestade)
1. É, talvez, a primeira vez que, na III República, num regime semi-presidencial (ou semi-parlamentar), o Chefe do Estado sanciona tão positiva e expressamente a actuação do órgão executivo.
2. Mais surpreendente se torna tal (aparente) aprovação política se atendermos ao facto de se viver uma situação, chamada em politologia, de "coabitação".
3. Nem em situações anteriores de forte empatia entre Belém e S. Bento (Eanes/Cavaco, Soares/Guterres, Sampaio/Guterres e Sampaio/Sócrates) se foi tão longe...
4. Uma interpretação como a presente dos poderes constitucionais (Constituição semântica e formal) do Presidente da República encerra o risco de fazer resvalar o regime para um semi-presidencialismo "à la française".
5. Não que isso fosse inaceitável, do ponto de vista teórico-conceptual, mas teria que ser validado democraticamente.
6. Outro risco, bem actual e concreto, de tal interpretação é a de se perder o respeito institucional e político, devido pelo Chefe do Estado, à(s) Oposição(ões).
7. O Presidente da República, no exercício do chamado "papel moderador" ou de árbitro, não joga nem capitaneia nenhuma das equipas.
8. Muito menos é comentador ou analista político.
9. Fica por saber (mas pressinto que não demorará mais de um ano) se estas interpretação e actuação são fruto da época...
15 novembro 2006
[393] A vida é bela! (7)
Sabia que as cristas da impressões digitais são únicas em cada indivíduo?
Elas são o resultado da mistura ao acaso das ondulações do líquido amniótico no ventre materno - fenómeno denominado de morfogénese caótica - que ocorre nas primeiras seis semanas de vida. Nunca se alteram e reaparecem sempre com as mesmas características iniciais, ainda que removidas voluntária ou acidentalmente.
A primeira definição científica deve-se a Sir Francis Galton, em 1892.
12 novembro 2006
[392] Poesia à noite: ESPERO
"Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda."
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda."
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
[391] Poesia à noite: GANSOS SELVAGENS
"Não tens de ser bom.
Não tens de caminhar de joelhos
através do deserto durante cem milhas, em penitência.
Apenas tens de deixar que o animal suave do teu corpo
ame aquilo que ama.
Fala-me de desespero, o teu, e contar-te-ei do meu.
Entretanto, o mundo avança.
Entretanto, o sol e os seixos límpidos da chuva
atravessam as paisagens,
as pradarias e as árvores profundas,
as montanhas e os rios.
Entretanto, os gansos selvagens, altos no limpo ar azul,
regressam de novo a casa.
Quem quer que sejas, pouco importa quão solitário,
o mundo oferece-se à tua imaginação,
chama-te como os gansos selvagens, com rigor e entusiasmo
–vezes e vezes a anunciarem o teu lugar
na família das coisas."
(MARY OLIVER, "Dream Work", Grove, 1986. Tradução: José Luís Peixoto)
07 novembro 2006
[390] É de propósito?
Marques Mendes na Madeira e, hoje, no Parlamento.
Só pode estar tudo combinado... Ninguém faria pior, que Deus me perdoe!
05 novembro 2006
[389] Importa-se de repetir?
"O que é isso da classe média, a não ser um lugar comum?"
(José Sócrates, em declarações informais durante o voo Lisboa/Maputo, relatados pelo Público, "A viagem mais louca de Sócrates", 5-11-2006: aqui)
02 novembro 2006
[388] Pedaços de cultura: "o rosto de gregor samsa, naïve e nítido"
Inauguração da exposição de desenhos de valter hugo mãe, no dia 4-11-2006, das 16 às 20 horas, que poderá ser vista até 16-12-2006, na galeria Símbolo, na Rua de Miguel Bombarda, n.° 451, 4050-378 Porto.
Horário: de Segunda a Sábado, das 15 às 19 horas.
Contactos: Tel. n.º 226 099 349 • Fax n.º 226 002 026 • Tlm. n.º 917 262 214 • simbolo@sapo.pt • www.galeriasimbolo.com
Contactos: Tel. n.º 226 099 349 • Fax n.º 226 002 026 • Tlm. n.º 917 262 214 • simbolo@sapo.pt • www.galeriasimbolo.com
01 novembro 2006
[386] Tão baça quanto a barragem...
... a nossa dignidade.
Cahora: fim do império, há muito decretado.
Cahora: fim do império, há muito decretado.
[385] Sem máscara e sem medo...
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
(Sophia de Mello Breyner Andresen, "Porque os outros se mascaram mas tu não")
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