"3. Um pequenino apontamento pessoal: nas poucas vezes em que tentei ou tive de contactar um ministro português, na minha qualidade de cidadão relativamente anónimo, devo dizer que só após inúmeras tentativas é que -- em alguns casos -- consegui. Em Portugal um ministro é uma pessoa importante e -- por regra? -- não tem tempo para receber os plebeus.
Dito isto, embora não fosse australiano, não tive qualquer dificuldade em ser recebido por... Alexander Downer [Ministro dos Negócios Estrangeiros da Austrália], em Camberra, em finais de Novembro ou princípios de Dezembro 2002. Bastou um simples email a solicitar uma audiência, no âmbito da minha investigação, para conversarmos durante cerca de uma hora e meia sobre Timor-Leste."
(Paulo Gorjão, Bloguítica, 3-6-2006: sublinhado nosso)
*
Muito certeiro este "pequenino" (yet, most relevant) apontamento do Paulo Gorjão.
Enquanto cidadão (ainda) mais anónimo e, pior, indigno servidor do Estado, não só o subscrevo, como vos passo a relatar um episódio em que, involuntariamente, fui protagonista e que dá mais uma pincelada na história que o Paulo contou.
Aqui há uns anos, por dever profissional, tive que tratar pessoalmente de um assunto entre ministérios da Itália e de Portugal que o titular da pasta, por razões que não vêm ao caso, acompanhou particularmente. Fi-lo com o empenho e a discrição com que trataria de qualquer outro assunto, naturalmente, mas o problema, algo delicado, ficou resolvido.
Por uma daquelas curiosas coincidências, dias depois haveria de ser convidado para o Concerto de Reis que o dito Ministério organizou. Fui com uma amiga e, chegado ao adro da igreja (em cima da hora), deparei-me com a nata do sector, que - com honrosas excepções - me ignorou (o que, normalmente, até agradeço).
Educada e diligentemente, o Director-Geral chamou-me e apresentou-me ao titular da pasta, certamente com a intenção de que este conhecesse pessoalmente quem havia tratado do "assunto com Itália". Trocámos palavras de circunstância, embora amáveis, e preparámo-nos para entrar na igreja. Eis senão quando, para espanto meu, "tutti quanti" cercavam e bajulavam o Ministro decidem seguir o "exemplo" ministerial e vêm cumprimentar-me ou acenar-me, ordeira e delicadamente... sorrindo até para a pessoa que me acompanhava, que nada tinha a ver com o meio profissional em que eu estava/estou inserido.
O resto da noite correu muito bem, ao som do canto gregoriano...