«As "Reflexões" não eliminam o sentido crucial dos problemas, mas também não indicam, ou sugerem, como seria natural, o combate ideológico contra a ideologia que intimida os governos e os intima a praticar regras unilaterais. Há, em tudo isto, uma perversão moral que condiciona o comportamento ético. O texto de Sampaio é omisso nestes aspectos, e percorre-se em generalidades. E talvez devesse ser, pelo estatuto e pelo passado do autor, nesta desordem e nesta perturbação, um aviso de que as abdicações não são o caminho para o resgate das servidões. A desmobilização cívica do País é uma das consequências da ausência da instância Estado, da falta de comparência de um ideal de libertação (sim, de libertação) que nos empolgue. E é, igualmente, a descaracterização ideológica dos partidos, essa base lógica que explica e justifica as grandes conquistas dos trabalhadores no imediato pós-guerra. Quando um estudo revela que os portugueses são o povo europeu que menos ri ou sorri, o caso pode animar solertes comentadores do óbvio - mas não deixa de ser significativamente pesaroso. Já ninguém vai "contra os canhões marchar, marchar". Estamos marcados pelo mais atroz niilismo e identificados com o mais absoluto indiferentismo.»
(Baptista Bastos, "As 'reflexões' de Sampaio", DN, 14-1-2009: sublinhado nosso)
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