Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

14 abril 2007

[465] Perigos e equívocos

"Não sei se Sócrates sairá ou não mal deste caso, mas o chamado jornalismo 'de referência' não sai decerto melhor"
(Manuel António Pina, "Jornal de Notícias", 12-4-2007, via
Público online, 13-4-2007)
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Aqui temos a prova de que os senhores conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça (que tiraram o acórdão que condenou o diário «Público» a uma indemnização de 75 mil euros ao Sporting Clube de Portugal, por - apesar de se ter confirmado a veracidade da notícia publicada - o STJ entender que dela resultou «uma afectação negativa do crédito e do bom nome» do Sporting) não estão, afinal, sozinhos.
Não importa se as notícias sobre a formação académica do Primeiro-Ministro são verdadeiras (e se, em consequência disso, José Sócrates pode sair-se mal deste caso). O que parece, para alguns, é que o dito "jornalismo de referência" deve ser manso e subserviente, não publicando notícias embaraçosas, ainda que verdadeiras.
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Embora com argumentário diverso (e menos parcial), também discordo de Tomás Vasques e Paulo Gorjão, dos mais interessantes bloggers da actualidade.
Deste, discordo frontalmente da redução do caso à legalidade e lealdade. Como sabemos, quantas vezes o respeito da legalidade é meramente formal?
Do primeiro, concordo com as conclusões; discordo dos fundamentos. De facto, e ao contrário do que pensava Santana Lopes, a eleição é sempre fonte de (re)legitimação. Mas as dúvidas sobre o grau académico do primeiro-ministro não são questões "acessórias" sobre "o seu estilo pessoal". A integridade e a coerência são questões de carácter e de credibilidade.
Dizer que "Não votei por ele ser engenheiro técnico civil, engenheiro ou licenciado em engenharia, como não votei por tal grau académico ter sido obtido na Universidade Clássica, na Católica ou na Moderna" é desconversar. Não é a qualidade da formação académica que está em causa. É a forma (censurável ou não) como ela foi obtida. Princípios como os da igualdade de oportunidades e da igualdade de tratamento para todos não são mero repositório teórico-académico das democracias. Ou são?
Como também é muito falacioso reduzir este triste episódio ao caso "Monica Levinsky's Blowjob". Nada os liga, a não ser os lugares exigentes e privilegiados que ambos os protagonistas ocupa(ra)m. No primeiro, tratava-se de aspectos da vida sexual, que é do foro mais íntimo do ser humano (logo, também, dos políticos) e, por isso, insusceptíveis de escrutínio público (a não ser em casos patológicos ou ilegais). Nessa medida, o ataque a José Sócrates durante a campanha eleitoral está próximo, esse sim, do referido ataque a Clinton.
Neste momento, atacar José Manuel Fernandes ou o Público e restringir o jornalismo de referência a matérias neutras, incolores, inodores, meramente técnicas, é que é afectar perigosamente as liberdades de expressão e de imprensa - fundamentais num Estado de Direito democrático - e afastar a discussão da ética política de Portugal. Os fins não justificam os meios!
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ADENDA: Mas já concordo inteiramente com o que se diz, em 15-4-2007, aqui, ainda no "Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos": "Citações".

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