Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

26 novembro 2005

[67] Ser do contra é não ser

«Estando adquirida essa convicção [de que Cavaco Silva ganhará], apesar dos silêncios e do carácter vago das posições de Cavaco, é a débil performance de Soares entre o eleitorado de esquerda (e, particularmente, do PS) que parece mais relevante. Soares faz lembrar Walesa - que, de herói nacional polaco, se transformou numa figura historicamente anacrónica. Os clamorosos erros estratégicos da sua campanha, cuja única e suposta originalidade se resume a ser contra Cavaco, têm tido um efeito de boomerang que favorece não apenas Alegre como o próprio candidato da direita. Mas esses erros fragilizam também a direcção do PS, por mais sibilinos que tenham sido os cálculos políticos de Sócrates, junto do eleitorado socialista.
Entre o triunfo anunciado de Cavaco (e sabe-se como é forte a atracção de estar com os vencedores) e o pesado anacronismo da candidatura de Soares, percebe-se que o eleitorado de esquerda não motivado por candidaturas meramente partidárias (Jerónimo ou Louçã) aposte no romantismo "positivo" de Alegre. Ser apenas "contra" já não é mobilizador».
(Vicente Jorge Silva)
O que lamento, acompanhando aqui VJS, é que tudo isto era escusado. MS é uma figura que, pelo seu notável passado político (embora com mais relevo para o regime nos anos 70 do que nos seguintes), merecia ser preservada e deveria ter-se preservado. Até para não se tornar, como o jornalista bem nota, no Walesa português (ou, de uma outra forma, no Mitterrand lusitano) ...
Mais uma vez se demonstra aqui que recorrer sempre à mesma figura nacional empobrece a história da democracia, do Estado e do próprio visado. Queima tudo à volta!
P.S. Uma nota final: essa necessidade de vir (in)esperadamente a terreiro contra Cavaco Silva resulta do quê? Já alguém demonstrou (incluindo o Pai da Pátria) que perigos advirão da vitória do "simples economista"?

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