Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

16 fevereiro 2010

[1107] As palavras dos outros (69): uma vida própria

"Uma nova geração de políticos já não entendia que governar era apenas governar, cumprir o seu papel institucional, fazer escolhas que também podiam ser criticadas, exercer o seu poder no quadro dos vários poderes — era muito mais. Era ser ungido. Essa geração entende que governar é mais do que isso: interpretam uma missão. São «modernos» num país atrasado; «cosmopolitas» num país que vai aos saldos da Zara; visitaram as cortes europeias e ficaram impressionados.
O que isto significa? Sinceramente, falta de mundo. Mário Soares resistia a todas as críticas (mesmo que se diga que nunca as esquece), porque lhe sobrava mundo; tinha uma vida própria — e biblioteca, e apetites, e vícios amáveis, e amigos — que ultrapassava a vida pública. Cavaco compensava a falta de mundo com a disciplina pessoal e familiar. Mas os políticos para quem toda a vida pessoal foi ocupada em transformar a vida própria em vida pública não têm largueza de sensibilidade, nem escape, nem compensações.
Esses políticos não sabem, simplesmente, que o lugar na História não é decidido agora. Não aprenderam, também, que o poder tem um preço — e que esse preço não é apenas pessoal (porque se sacrifica muito desse espaço pessoal, privado, inviolável); é também público. Exige grandeza para suportar críticas e injustiças. Até injustiças. O poder tem os seus meios institucionais de comunicar, defender, explicar; a imprensa é, justamente, o outro lado. Não se pode estar nos dois lados ao mesmo tempo. E isto é tão válido para um governante como para um jornalista. O poder oferece um mundo de possibilidades, a começar pela direção editorial do Diário da República; se essas não chegam, aí já é um problema mais grave. Há terapias para isso."
(Francisco José Viegas, "Liberdade e etc.", A Origem das Espécies, 14-2-2010: destaques nossos)

1 comentário:

Anónimo disse...

Fernando Nobre anuncia sexta-feira candidatura a Belém (act.)

O presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre, vai candidatar-se à Presidência da República, confirmou à Lusa fonte ligada à candidatura.

O anúncio será feito sexta-feira, no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, às 20:00.

Fernando Nobre encontra-se actualmente no Senegal.
Diário Digital / Lusa

Arquivo do blogue

Seguidores