Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

28 janeiro 2007

[422] Poesia do mundo: 20 anos a ador(n)ar o classicismo

AS SENTENÇAS
*
PRIMEIRA
O mundo é todos os lugares por onde passaram
a sonhar com a liberdade de Deus na própria casa,
um terreno cercado, tendo por muro o mar
e os montes da Judeia, malha um pouco
mais larga que o arame farpado de Buchenwald.
.
Linha de terra onde o futuro se veste de hábitos
[passados,
rateada ao metro até entrar pelo quintal dos outros
a atear a inimizade tradicional entre as famílias.
.
Foram uma loja de esguelha com a desinência
[de um nome
na porta, tantas vezes repetido: com suspeita
[olhados
sempre a caminho da sinagoga ou da depradação -
esquecidos da voz dos profetas, os filhos de Saúl,
quando balbuciam sav lasav, kav lakav, zeer sham,
.
quando chamam do deserto a casta das almas
a ouvir a buzina em Guibeá, a trombeta em Raná.
.
Elas conjugam com as preces matinais o verbo
[do desastre.
.
Abrem as comportas às águas abundantes e impetuosas
do Eufrates, trazendo o invasor às portas de Bet-Aven,
a esfera onde a fúria se dedica ao seu trabalho pesado.
Vê-lo-ão levar depois na corrente emcombros e entulho
e o mundo todo por que passaram atrás de si.
*
(Paulo Teixeira, "O rapto de Europa", 1994, in Descanso na fuga para o Egipto - antologia, col. O Campo da Palavra, Ed. Caminho, Lisboa: 2006)

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