Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

28 fevereiro 2006

[174] Late afternoon: citações poéticas

« "Beauty is truth, truth beauty" - that is all
Ye know on earth, and all ye need to know.»
(John Keats, Ode on a Grecian Urn, 1820)

25 fevereiro 2006

[173] Citações nocturnas

"Os maus só conhecem cúmplices; os pervertidos têm companheiros de deboche; os ambiciosos, associados; os políticos arrebanham os facciosos; os homens vulgares e ociosos têm ligações apenas; os príncipes, cortesãos; mas os homens virtuosos, e só eles, têm amigos..." (Voltaire)

[172] Early evening: pintura do mundo


"Violência", Alejandro Obregón, Colômbia, 1962

24 fevereiro 2006

[171] Como diria o outro, liberdade ou licenciosidade?

O pai de um dos jovens [três rapazes, entre os 16 e os 18 anos] de Barcelona [que, em Dezembro de 2005, regaram com gasolina e queimaram uma sem-abrigo] disse: "São miúdos modernos, de uma geração muito permissiva, que tiveram tudo. Talvez não tenhamos sido bons pais."
(in DN, 24-2-2006)
*
Esse é o grande problema do pós-Guerra: o desmantelamento dos regimes autoritários e a consolidação das democracias; a apologia das liberdades em detrimento da responsabilidade individual e colectiva (o liberalismo económico, financeiro e político que gerou profunda desregulação e exclusão sociais); o crescimento económico galopante (o maior de toda a história), assente no consumo; o florescimento das ciências sociais (em especial a psicologia e a pedagogia), tudo isto (embora aparentemente sem relação) teve consequências devastadoras na educação e formação dos descendentes daquela geração.
Quem não teve nada (ou quem ficou sem nada) quis dar tudo aos filhos e netos... Mas "tudo" é o quê? Liberdade? Dinheiro? Jogos? Carros? Cigarros? Sexo? Telemóveis? Da herança parece não fazer parte tolerância, urbanidade, cultura, livros, poesia, tertúlias, passeios, solidariedade, amor...

23 fevereiro 2006

[170] A propósito do "Festim Nu" de JG

O pavor de punir, porque pode traumatizar, está a deixar manietados pais, educadores e, pelos vistos, legislador...
Não sei como é que muitos de nós, incluindo o blogger e o signatário, chegaram aos 30, 40 ou 50 anos vivos e lúcidos! À luz destas teorias pedopsicológicas, já deveríamos estar loucos ou desgovernados...
(comentário deste blogger deixado no Portugal dos Pequeninos, em 23-2-2006)

22 fevereiro 2006

[169] Salpicos de um blogue refrescante

«E obriguei-me a recordar os momentos de amizade pura e de completa entrega sem sombras de sexo que já vivi. E senti que, de facto, não há maior entrega. Que o sexo pode ser uma prisão, uma arma, uma forma de subjugação. Um vício…»
(Sand Swimming: 13-2-2006)
«Gostámos mais do que aquilo que teríamos imaginado isoladamente.
Entre o cheiro do café
A solvência do açúcar
As palavras suspensas há tanto, tanto tempo.
Agora tudo se reunia
Agora tudo se reacendia
E as palavras desciam, volteavam, entrelaçavam-se.
E o pano cru
Abandonado há tanto
Retomava-se na trama como se o fio tivesse sido acabado de deixar
Para respirar
E voltar a tecer-se o encontro das palavras.
E o vento acompanhou o caminhar pelos espaços do estio
Apesar do frio.»
(Sand Swimming: 15-1-2006)

[168] Esta noite, sinto-me assim:


Gloriosa noite europeia!

18 fevereiro 2006

[167] Contagem decrescente...

Miguel, "Cavaco, Presidente eleito" (CCB, 22-1-2006)

Discreta, mas ponderadamente, lá vai, desde o Palácio de Queluz, formando a sua equipa e preparando o magistério. Pelo andar da carruagem, a "cooperação", mais do que estratégica, terá que ser esforçada... a começar pelos Negócios Estrangeiros, área onde o PR tem uma intervenção mais nítida e que está entregue, até ver, a um irreconhecível Freitas do Amaral!

[166] Late evening: a vida como ela é... sem flores


Já tem mais de um ano esta foto magnífica, mas recordo-a aqui, pela actualidade e contextualidade. O autor é Evandro Monteiro, brasileiro, e a foto é "Zoinho, menino de rua, enfrenta polícias" (São Paulo, 2004).

13 fevereiro 2006

[165] Late evening: Azul


"O meu filho fez-me agora um desenho no braço com aquelas canetas de bico grosso azul céu. Fez cinco riscos. A história não viria ao caso se eu tivesse algo de interessante para dizer. Como não tenho, vou só escrever que estes riscos fazem lembrar-me as marcas que o meu amigo tem nos braços. É claro que as deles são mais fundas e mais azuis. E estão nas veias. Não saem com álcool, nem com nada. O que até não é mau. Porque me lembram que ele viveu muitos anos no Casal Ventoso. Que esteve preso. Que ficou seropositivo por causa de uma agulha infectada e que fugiu à morte à custa de si mesmo. As linhas no meu braço lembram-me que o meu amigo tem uma empresa que factura milhares de contos por ano. As linhas lembram-me que o meu amigo é um pai extremoso. As linhas lembram-me que o meu amigo é um grande amigo. As linhas lembram-me que o nome do meu amigo devia sempre ser escrito com uma daquelas canetas de bico grosso azul céu."
(Francisco Trigo de Abreu, Mau Tempo no Canil, 13-2-2006)
*
Azul mar, azul céu, azul vida! Belíssimo post. Comovente. Parabéns, FTA!

12 fevereiro 2006

[164] Contrastes neocapitalistas.

"São Paulo, a megalópole do luxo kitsch:
"Ignorando a miséria, a capital económica do Brasil é o Quartel-General dos abastados, com os seus bares, os seus hotéis luxuosos, as suas boutiques com heliporto...
"(...) Com 35% do PIB brasileiro concentrado no Estado de São Paulo, a megalópole é mesmo uma capital do luxo, com as suas «Fashion Weeks» (semanas da moda), os seus parques semeados de obras de Oscar Niemeyer, o arquiteto do concreto curvado, e as suas bienais de arte contemporânea. A megalópole passou de 30.000 habitantes em 1870 para 18 milhões em 2005, tornando-se assim a terceira maior cidade do mundo, a mais importante do hemisfério sul. Fundada em 1554 por um pequeno grupo de jesuítas, ela possui hoje 2.578 arranha-céus.
"(...) Uma cidade extremada onde o dinheiro jorra aos borbotões. (...) Paraísos para os passeadores, [o]s antigos "jardins" são uma zona protegida do grande risco - seguranças (...) de terno preto ou azul escuro conversam em frente às lojas e aos restaurantes com os colegas motoristas e guarda-costas. Situado no coração desta cidade disparatada, este triângulo de ouro protege os afortunados da economia mundial e a clientela estrangeira. Boutiques de luxo, restaurantes de ementa "nouvelle cuisine" (...). Por exemplo, no Clube do Chocolate, na Rua Haddock Lobo, sem dúvida uma das mais caras do (...) imobiliário paulista, junto à Rua Oscar Freire, o equivalente tropical de uma Rua Saint-Honoré, em Paris.
"Em certos casos, ocorre que a riqueza não se sente à vontade num bairro por demais apertado como o dos Jardins e resolve mudar-se para bairros modernos e promissores. Uma prova desta tendência é a loja Daslu, com os seus 20.000 m2 de luxo absoluto, um "shopping-bunker" que migrou em 2005 do bairro de Vila Nova da Conceição para o vasto estaleiro do futuro núcleo de urbanismo futurista próximo da marginal Pinheiros, uma espécie de auto-estrada urbana que acompanha o rio, ultra poluído, do mesmo nome. Uma espécie de quadrado com colunas inspiradas na Grécia antiga que custou 50 milhões de dólares (...), a Daslu acolhe seus clientes privilegiados com fausto. Condutores trajando fraque e boné branco e preto, simpáticas e prestáveis empregadas de avental bordado, vendedoras "manequins" que vestem a marca da casa. Pode encontrar-se de tudo na Daslu: malas Vuitton, calças Dolce & Gabbana, sapatos Gucci, pulôveres Chanel, tudo importado. Perfumes, carros (Mini Cooper e Maserati), aparelhos de televisão de écran plasma, modelos de iates. Pode também chegar-se de helicóptero pelo telhado e refrescar-se no bar de champanhe projectado por David Collins, o arquitecto predilecto de Madonna.
"Do outro lado do rio Pinheiros, fica a favela do Coliseu, pobre entre as mais pobres, onde o rendimento mensal médio de um habitante não atinge sequer o preço do estacionamento [da Daslu]: 30 reais [cerca de 10 euros], uma tarifa que condiz com o padrão de riqueza da loja."
(Véronique Mortaigne, enviada especial a São Paulo, Le Monde)
*
E andamos nós a discutir os limites da liberdade de expressão, quando milhões de pessoas no mundo nem sequer conseguem exprimir uma palavra, de tanta fome que passam ou de tanta tareia que apanham...
(artigo reescrito em Português de Portugal, a partir do texto original que me foi endereçado, gentilmente, por correio electrónico, por um amigo brasileiro)

[163] The sound of silence

Estou a ouvir Simon & Garfunkel.
Que bom que seria que tantos, em tantos lugares, em tantas ocasiões, ouvissem o som do silêncio...

11 fevereiro 2006

[162] Late evening: pintura do mundo



Tiempos de silencio (luchadores por la paz y la guerra), S. Carbonell (http://www.uaq.mx/servicios/cultural/gvirtual/santiago/galeria_santiago.html)

[161] Cântico Negro

"Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí!"
(José Régio, Ed. Quasi, 1.ª ed., Famalicão: 2005)

[160] A Europa envergonhada...

O mesmo Governo do mesmo país que, em nome da separação do Estado e da Igreja, do laicismo republicano e da liberdade de culto, ordena a retirada de crucifixos das escolas públicas, através da sua Ministra da Educação, emite um comunicado, assinado pelo seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, onde se apela ao respeito pelos símbolos do Islamismo e à manifestação contida da liberdade de expressão...
Mas, quando se visam outros símbolos (lembram-se do preservativo no nariz de S.S.?), tais manifestações são o expoente da civilização ocidental!
Aqui, como noutros campos, vinga a cobardia política e o relativismo moral. Depois, não se queixem que a História se repete!

08 fevereiro 2006

[159] Faith no more?


"Desagrada-me a forma gratuita como, por vezes, é ridicularizada a fé e ainda me desagrada mais a forma como isso, entre nós, se banalizou."
(Constança Cunha e Sá, O Espectro, 5-2-2006)

[158] Novos tempos, velhos erros...

"Não estamos muito longe do totalitarismo descrito por Hannah Arendt - um totalitarismo não político, mas não menos destruidor, a longo prazo.
"Em Portugal vive-se numa situação particular, de transição das sociedades «disciplinares» para as de controlo, cada vez mais apanhada pela rede geral da globalização."
(José Gil, Portugal Hoje - O Medo de Existir, Relógio de Água, Lisboa:2005)

06 fevereiro 2006

[157] Palavras leva-as o vento...

«José Sócrates mostrou uma vez mais que foi infeliz na escolha - tal como já tinha acontecido com muitas das que fez nas autárquicas - e desastrado na gestão do processo. Voltou com a palavra atrás e acabou penalizado por essa atitude. A palavra não pode ser uma coisa vã ou mutável, e quando a damos temos de mantê-la, mesmo que isso nos prejudique. É a isso que se chama palavra de honra, a que nunca se muda quando se dá, custe o que custar. »
(António Esteves, Entre Vistas, 25-1-2006)

05 fevereiro 2006

[156] Luz dominical: "O sol nas noites e o luar nos dias"

"De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem."
(Natália Correia)

[155] Early afternoon: lembranças


Para não nos esquecermos da alegria que cerca de 14 milhões de adeptos, em todo o mundo, tiveram em Maio passado... Não é uma semana desastrada que vai apagar tal lembrança!

[154] Domingo de manhã: a emoção de um encontro virtual

«a formiga disse à cigarra que o frio haveria de passar. a cigarra, esfaimada, não podia cantar nem imaginar que coisa teria na cabeça durante o verão já tão longínquo. a formiga, sorrindo, convidou-a a entrar na sua toca e deu-lhe de comer. depois, recebeu da cigarra a mais infinita amizade e as melhores aulas de canto e dança. juntas, sentiram-se perfeitas e nada mais lhes haveria de faltar a vida inteira»
(valter hugo mãe, casadeosso)
*
O mundo não está perdido! Ainda há formiguinhas e cigarras suficientes para ensolarar esta vida... Obrigado, valter.

03 fevereiro 2006

[153] Um líder para Portugal. Ou dois?

« (...) o papel da dupla liderança na eficácia das organizações. O conceito tem sido referido sobretudo a propósito da necessidade de as organizações serem conduzidas por duas personalidades: uma exercendo o papel de líder e outra o de gestor. A tese não é consensual, mas os argumentos são plausíveis. Para a sua compreensão, (...) pontos a destacar:

- A liderança e a gestão são processos distintos. A liderança é mais visionária, orientada para a mudança, emocional, criativa, inspiradora, inovadora, intuitiva. A gestão é mais conservadora, racional, analítica, "calculista", eficiente, imitadora, orientada para a gestão das infra-estruturas organizacionais e para a implementação da visão articulada pelo líder.

- Dois argumentos podem sustentar a tese da incompatibilidade. Um considera que a liderança e a gestão requerem características de personalidade distintas (ou se é líder ou se é gestor!). Portanto, há que dispor de um líder e de um gestor, cada um com o seu perfil. O outro argumento aduz que os dois papéis não podem ser exercidos pela mesma pessoa simultaneamente, sob pena de os colaboradores reagirem negativamente a alguém que actua de modo "duplo" e pratica o "compromisso maquiavélico".
«(...) De qualquer modo, perante o debate, duas afirmações podem ser feitas com bastante segurança. Primeira: a gestão é mais relevante nas base da hierarquia e em momentos de estabilidade. A liderança é mais pertinente para o topo da hierarquia e tempos turbulentos. Segunda: as organizações necessitam de possuir e promover ambas as competências. Com boa gestão, mas sem liderança, a organização terá presente, mas incorre no risco de não alcançar o futuro (ou de "morrer podre de rica"). Com liderança visionária, mas sem boa gestão, a organização poderá vislumbrar um excelente futuro - mas não conseguirá alcançá-lo.
«Finalmente, duas perguntas provocatórias: (1) será por estas razões que se argumenta que os eleitores não gostam de colocar todos os "ovos no mesmo cesto"?; (2) será Portugal mais bem gerido quando a Presidência e o Executivo asseguram devidamente as funções de liderança e de gestão?»
(Arménio Rego, DN, 3-2-2006)

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