Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

28 março 2005

[14] Um estranho na Terra ou o Filho de Deus

"Segundo Teilhard de Chardin, o homem é portador de uma característica zoológica que o faz um ser à parte no mundo animal. Com efeito, a espécie humana é a única que habita, indistintamente, em todas as regiões do planeta. Cada animal vive normalmente circunscrito ao seu habitat. O tigre, na selva, o camelo, no deserto, o urso, no gelo polar, etc. Só o homem está em toda parte do globo, sem exceção. É o animal ecumênico.
Comentando genialmente esta observação de Teillard de Chardin, Ortega y Gasset indaga qual a razão dessa "planetária ubiqüidade" do ser humano. E responde nos seguintes termos:
"Cada espécie zoológica ou vegetal encontra na Terra um espaço com condições determinadas, onde, sem mais, pode habitar. Os biólogos o chamam seu habitat. O fato de que o homem habite onde queira, sua planetária ubiqüidade, significa, claro está, que carece propriamente de habitat, de um espaço onde, sem mais, possa habitar. E, com efeito, a Terra é para o homem originariamente inabitável - unbewohnbar. Para poder subsistir intercala entre todos os lugares terrestres e sua pessoa, criações técnicas, construções que deformam, reformam e conformam a Terra, de sorte que resulte mais ou menos habitável. (....) O homem é um intruso na chamada natureza. Vem de fora dela, incompatível com ela, essencialmente inadaptado a todo milieu. Por isso constrói, baut. E como em qualquer lugar do planeta pode construir - e em cada um, diferente tipo de construção -, é capaz, a posteriori, de habitar em todas as partes" (Ortega y Gasset, En torno al Coloquio de Darmstadt, 1951, Obras Completas, IX, 640).
Eis aí: o bicho homem não tem ambiente natural específico; ele é essencialmente desambientado, desadaptado à Terra, um verdadeiro estranho no ninho da mãe Natureza. O que o leva a construir, para poder habitar."

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