Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

27 setembro 2011

[1371] O passado mora mesmo lá atrás

Não sei se é verídica a cena relatada no post anterior, mas é um testemunho sociológico notável! Gostei especialmente da utilização das mães (ou dos pais) como taxistas dos filhos. Esquecemo-nos de como o consumo de gasolina é economica e ambientalmente nefasto para o futuro, no qual viverão justamente os nossos filhos, bem pior do que nós, que já vivemos pior do que os nossos pais.
Tornámo-nos egoístas e hedonistas. Só pensamos na nossa vidinha e na forma como a tornar (mais) confortável e prazerosa. Esquecemos tudo e todos que nos rodeiam. Não ensinamos nada a ninguém e raramente aceitamos ensinamentos de alguém.
A vida hoje é uma sequência de eventos, dentro de um automóvel: ir para o escritório ou para a escola, fazer (muitas) compras, ir pôr e buscar a mulher e os filhos, ir ao ginásio ou ao cabeleireiro.
Os governos, crentes da nova "religião" científico-tecnológica, também contribuem para este estado da arte de vida: não há transportes públicos suficientes, os colégios deixaram de ir pôr e buscar as crianças gratuitamente, as refeições nas cantinas e nos refeitórios são gordurosas e pouco higiénicas, não se subsidiam as famílias, mas sim os abortos, diminuem os espaços verdes e aumentam os centros comerciais, em nossa casa crescem os electrodomésticos e afins, mas diminuem os livros e os jogos didácticos, coleccionamos viagens e fotografias, mas sabemos cada vez menos de sociologia, história e arte.
Somos (mais) felizes e saudáveis? A resposta sabe-a o farmacêutico...

[1370] Verde plástico

Na fila do supermercado, o empregado diz a uma cliente idosa:
- A senhora deveria trazer os seus próprios sacos de compras, uma vez que os sacos de plástico não são amigos do meio ambiente.
A senhora, envergonhada, pediu desculpas e disse:
- Não havia essa onda verde no meu tempo. Sabe, eu já tenho 75 anos...
O empregado respondeu:
- Esse é exatamente o nosso problema, minha senhora. A sua geração não se preocupou o suficiente com o meio ambiente.
- Você está certo - responde a velha senhora. A nossa geração não se preocupou suficientemente com o meio ambiente. Na minha época, as garrafas de leite, refrigerante e cerveja eram entregues na loja para serem devolvidas à fábrica, onde eram lavadas, esterilizadas e reutilizadas.
Realmente não nos preocupámos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos e descíamos as escadas, pois não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos pelas ruas, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de cada vez que precisamos ir à mercearia a dois quarteirões.
Mas tem razão. Não nos preocupávamos com o meio ambiente. As fraldas dos bebés eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. As roupas secavam não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secava as nossas roupas. Os meninos usavam as roupas que tinham sido dos irmãos mais velhos e não roupas sempre novas, compradas todos os anos.
Mas é verdade: não havia nenhuma preocupação com o meio ambiente. Naqueles dias só tínhamos uma TV ou um rádio em toda a casa e não um aparelho em cada divisão. E a TV tinha um ecran do tamanho de um lenço, não um do tamanho de um estádio, que depois será reciclado como?
Na cozinha, tínhamos de bater tudo com as mãos porque não havia máquinas eléctricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amachucado para protecção, não envelopes de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina para cortar relva, era utilizado um cortador que exigia músculos. O exercício era extraordinário e não precisávamos de ir ao ginásio andar em esteiras que gastam electricidade.
Mas tem razão, rapaz: não havia nenhuma preocupação com o meio ambiente. Bebíamos directamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos de plástico e embalagens tetrapack que agora enchem os oceanos. Recarregávamos as canetas com tinta vezes sem conta, ao invés de comprar uma todos os meses. Afiávamos as navalhas, e vez de deitar fora todos os aparelhos descartáveis e poluentes só porque a lámina ficou sem corte.
Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. As pessoas andavam de eléctrico ou autocarro e os meninos iam de bicicleta ou a pé para a escola, não usavam a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nunca precisámos de um GPS que recebe sinais de satélites a milhas de distância no espaço só para encontrar a pizzaria mais próxima.
Então, rapaz, não é irónico que a sua geração fale tanto em meio ambiente, mas não quer abdicar de nada e viver um pouco como na minha época?
(autor desconhecido; cortesia do leitor Panfúcio)

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