«De facto coexistiram, umas vezes bem outras vezes mal, duas culturas distintas dentro do Ministério da Justiça: uma cultura essencialmente política, no sentido parlamentar do termo, e uma cultura judiciária no verdadeiro e próprio sentido da vida judiciária, dos tribunais, dos processos, da judicatura, da magistratura do Ministério Público, da advocacia, dos funcionários judiciais, do equipamento judiciário... de todo esse mundo que rodeia os tribunais. Essas duas culturas não são muitas vezes sobreponíveis.
(...) acho que, de toda a vida que teve, o que é legítimo, [o ministro da Justiça, Alberto Martins] absorveu uma cultura parlamentar. Conhece o mundo da Justiça - até pelo plano familiar porque é casado com uma magistrada, mas com um ângulo de visão que não coincide com o meu. E essa é a razão porque ele estaria mais em sintonia com uma outra cultura que não a judiciária, que eu protagonizava dentro do ministério.
(...) Ele [o primeiro-ministro, José Sócrates] tinha alguma resistência à reforma [do processo penal], eu estive a analisar com ele em detalhe a reforma que nós preconizávamos e ele, que à partida estava contra, percebeu com muita nitidez o sentido da reforma e aderiu rapidamente. Portanto, há uma cultura que se instalou contra a justiça em certos sectores do Partido Socialista que não tem grande justificação.
(...) Por outro lado, a Justiça está a concorrer, tendencialmente como perdedora, com a comunicação social. Isto é, entre a Justiça e a comunicação social há uma competição em que a Justiça sai a perder. E sai sempre a perder.»
(João Correia, "Há uma cultura contra a justiça em certos sectores do PS", i online, 27-11-2010)
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