O escritor moçambicano, curiosamente licenciado em Medicina e Biologia, fez uma oração de sapiência, a 7 de Março deste ano, na abertura do ano lectivo do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique. Excertos desta oração foram publicados no Courrier Internacional, n.º 0, de 2 de Abril, donde, com a devida vénia, destacamos:
"Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de descalçar-nos. Eu contei Sete Sapatos Sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico:
- Primeiro Sapato: a ideia de que os culpados são sempre os outros;
- Segundo Sapato: a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho;
- Terceiro Sapato: o preconceito de que quem critica é um inimigo;
- Quarto Sapato: a ideia de que mudar as palavras muda a realidade;
- Quinto Sapato: a vergonha de ser pobre e o culto das aparências;
- Sexto Sapato: a passividade perante a injustiça;
- Sétimo Sapato: a ideia de, para sermos modernos, termos de imitar os outros."
Dedico esta notável piece of wisdom a todos aqueles que, comigo, partilham estas inquietações filosófico-civilizacionais e aos que, legitimamente, receiam que alguns dos meus posts se possam confundir com piedosas cartas de intenções ou aulas professorais de Ética Cristã. Tentarei que tal nunca ocorra, até porque não pretendo evangelizar o mundo...
By the way, os sapatos que mais precisam de limpeza são, a meu ver, o segundo, quinto e sexto. Que vos parece, caros leitores?
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