Começo por fazer uma necessária declaração de interesses: não aprecio igualdades forçadas por decreto para determinadas franjas sociais nem anacronismos ou descontextualizações históricas.
Por isso, discordo de uma visão da história à luz dos nossos olhos. Basta referir, para demonstrar o erro, que daqui a 200 anos, muitos historiadores também acharão bizarros ou inaceitáveis, à luz dos seus olhos, comportamentos e acontecimentos que muitos de nós, hoje, entendem justos, "modernos" ou dignos.
Também por isso prefiro falar de pessoas, sem dicotomias ou maniqueísmos. Entendo que há hoje um excesso de confronto social entre homens e mulheres, brancos e negros, ricos e pobres, doentes e saudáveis, que, equivocamente, se julga ser atenuado pelas tais medidas administrativas que tudo normalizam e harmonizam.
O serviço nacional de saúde não é para pobres ou desfavorecidos, é para contribuintes, que são pessoas. Os lugares dirigentes não são para homens ou mulheres, são para as pessoas mais aptas a dirigir. A televisão não é para esbeltos, é para jornalistas competentes. A violência doméstica não é exercida sobre mulheres, mas sobre vítimas (que são também crianças, idosos, homens). E por aí fora...
Aliás, termino dizendo que mal estaria a nossa geração se reduzisse a dignificação da pessoa (e, por isso, também das mulheres) a um mero projecto de poder ou de administração. Há muitas formas de dignificar cada um de nós e, se calhar, poucas passarão por carreiras profissionais frias, ambiciosas e solitárias...
(Núncio, comentário a "A Mulher e as mulheres", O Diplomata, 8-3-2012)
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