"Para mim, dizer o que penso nada tem de extravagante ou heróico. É um acto tão natural como respirar – e não concebo que pudesse ser de outra forma. Mas a verdade é que o preço da liberdade em Portugal se paga cada vez mais caro e o direito a exprimirmos as nossas opiniões próprias e muitas vezes solitárias – ou de tomarmos iniciativas à margem das fronteiras políticas e ideológicas oficiais, sejam do Governo, das oposições ou das corporações instituídas – enfrenta restrições crescentes.
Isso não acontece apenas por culpa de quem governa neste momento, embora um Executivo sustentado por uma maioria absoluta – e abúlica – no Parlamento tenha tentações irreprimíveis para domesticar as dissidências. É uma situação que se foi cristalizando ao longo do tempo devido à lógica de funcionamento do regime, porque não existem contrapoderes suficientemente fortes e autónomos na sociedade portuguesa. Num país com uma sociedade civil frágil e subsidiária do Estado, a independência de espírito ou de iniciativa vê-se condicionada por um calculismo permanente de interesses face aos poderes políticos estabelecidos."
(Vicente Jorge Silva, "O preço de dar a cara", 23-6-2007, www.sol.sapo.pt)