Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

25 janeiro 2011

[1331] Citações do mundo: a coragem da amizade

"It takes great courage to stand up to your enemies but it takes even greater courage to step up to your friends."
(Dumbledore, aos alunos da Hogwarts School of Witchcraft and Wizardry, "Harry Potter e a Pedra Filosofal", 2001: cortesia do leitor cralosh)

21 janeiro 2011

[1329] Vox lectori (3): eleição presidencial de 2011

Termina hoje, como se impõe, a consulta sobre as opiniões relativas aos candidatos presidenciais. 
Quando se iniciou esta consulta, ainda estava a decorrer o prazo para apresentação de candidaturas e não era previsível a de José Manuel Coelho. Por outro lado, não se confirmaram a de Garcia Pereira (apoiante de última hora de Alegre) nem a de Pinto Coelho.
Responderam 34 leitores à pergunta "Qual o melhor candidato a Presidente da República?". Eis os resultados (sem garantias de representatividade), eliminados os quatro votos naqueles dois pré-candidatos não confirmados:
1. Cavaco Silva ................ 43,33 %
2. Fernando Nobre ............ 26,66
3. Manuel Alegre............... 20,00
4. Defensor de Moura .......... 6,66
5. Francisco Lopes.............. 3,33
No final de domingo, veremos quais os resultados apurados. Que se querem definitivos. 
Não cremos que Nobre chegue tão alto, embora mereça uma votação apreciável, pese embora alguma ingenuidade e inconstância, insuficientes para esconder as suas muitas qualidades pessoais e cívicas, que fazem falta aos agentes políticos portugueses. 
É crível que Francisco Lopes troque de lugar e de votação com Defensor de Moura, embora este nem 3% deva obter, dada a modéstia de meios e o indefinido objecto eleitoral (que não a finalidade, muito clara... ou muito suja, dependendo da perspectiva). Pode até ser ultrapassado pelo candidato madeirense, J. M. Coelho, sem embargo da natureza caricatural e depreciativa deste ex-comunista, agora anarquista.
Em resumo, só houve uma candidatura presidencial. Os portugueses dirão se é merecedora da votação maioritária.

18 janeiro 2011

[1328] Pai, afasta de mim essa nostalgia!

Alegre, ao juntar atrás de si socialistas, católicos progressistas, renovadores ex-marxistas, trotskistas, leninistas e agora até maoístas, empresta a esta campanha um tom nostálgico que, em vez de abrilhantar o acto, torna-o deprimente e quase miserabilista.
E, com isso, faz da eleição presidencial um acto, não de voluntária e convicta adesão a uma candidatura, mas de forte e veemente repulsa de outra.
(Núncio, comentário a "Esquizofrenia", O Cachimbo de Magritte, 18-1-2011)

[1327] O beijo da morte?

Garcia Pereira, intempestiva e surpreendentemente, veio declarar o apoio do PCTP/MRPP a Manuel Alegre.
Depois de maçons, socialistas, trotskistas e leninistas, só faltavam mesmo os maoístas para compor o alegre ramalhete.
Mas afinal qual é a base de apoio do poeta?

12 janeiro 2011

[1326] Ninguém toca em cadáveres!

("Saúde: Desempregados começam hoje a pagar taxas moderadoras", Expresso on line, 1-1-2011)
*
("Governo aumenta valor de atestados de 90 cêntimos para 50€", Esquerda.Net, jornal electrónico do BE, 12-1-2011)
*
«Se eu estiver na Presidência da República ninguém tocará no Serviço Nacional de Saúde, na escola pública, na segurança social, nos direitos laborais».
(Manuel Alegre, militante do PS, ex-deputado e conselheiro de Estado, candidato a PR apoiado pelo PS e BE, Expresso on line, 12-1-2011)

[1325] Preso por não ter dissolvido e preso por (talvez) vir a dissolver

«O candidato à Presidência da República [Manuel Alegre] defendeu hoje que se Cavaco Silva fosse "coerente", ao afirmar que a situação do país era "explosiva" e "insustentável", teria dissolvido a Assembleia da República.»
(Alegre critica Cavaco Silva: "Para ser coerente devia ter demitido o Governo", DN online, 7-12-2010)
*
«Alegre adverte que Cavaco pode estar a preparar a dissolução do Parlamento.»
(Lusa, Presidenciais 2011, Sapo,11-1-2011)

06 janeiro 2011

[1324] E agora, Manel?

Não suporto generalizações, muito menos em questões de carácter.
Um dos problemas de Portugal, talvez o principal, é esta mediocridade que impõe que todos tenhamos de ser mais ou menos. Não pode haver muito ricos, nem muito inteligentes, nem sérios, nem honrados, nem nobres, nada. Senão, desconfia-se.
Tem de ser tudo pobrezinho, desenrascadinho, mediozinho.
O que estão a tentar fazer ao PR diz bem do nível moral e ético de parte deste povo, que mede os outros pela sua imagem.
Não sei se CS governou muito bem, assim-assim ou mal. Sei que ganhou três eleições legislativas e que os seus governos já foram democraticamente julgados há duas décadas.
Não sei se CS ganhou dinheiro ilícito. Se o ganhou, não sei onde possa estar. Sei que ainda hoje vive na mesma casa de sempre, tem o estilo de vida de sempre, a família de sempre e não ostenta nada que a sua vida académica e política não possa justificar.
CS, siga-se ou não a sua cartilha ideológica ou partidária, é daqueles servidores públicos que dedicou a vida inteira ao país: seja na universidade, no Parlamento, no Governo, no Banco de Portugal ou na Presidência.
Não se lhe conhece comportamento censurável ou duvidoso, do ponto de vista ético.
Mesmo aquilo de que é, estranhamente agora (sete anos depois da venda), acusado não tem qualquer fundamento: um cidadão que compra e vende acções e obtém lucros com essa venda.
A inveja e a desonestidade intelectual são muito feias. E minam qualquer Estado de Direito democrático.
(Núncio, comentário a "Cavaco recusa novas respostas sobre acções do BPN", Expresso on line, 5-1-2011)

04 janeiro 2011

[1323] Ó gente da minha terra!

Tratar o Chefe de Estado, chame-se ele Aníbal, Mário ou António, por manhoso (y otras cositas más) diz tudo sobre a auto-estima e o patriotismo de parte deste povo à beira-mar plantado.
É toda uma razão pela qual esta nação quase milenar se deprime década após década, pedindo desculpa por existir e envergonhando-se dos seus.
Paradoxalmente, chegámos onde os nossos avós bem previram: lá virão os tempos, meu filho, em que os homens sérios serão enxovalhados pelos desonestos!
(Núncio, comentário a "O contra-ataque manhoso de Cavaco Silva", Água Lisa, 4-1-2011)
*
É meu e vosso este fado

Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra

Sempre que se ouve o gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

(Amália, Mariza)

03 janeiro 2011

[1322] Uma campanha pouco alegre

(...) agora é tempo de reeleger o actual Presidente ou de eleger um novo. Abstermo-nos é um acto cívico incoerente e democraticamente inconsequente, porque alguém decidirá pelos abstencionistas.
Cada um de nós deve dizer, de entre o actual Presidente e os cinco opositores, qual está mais à altura do cargo. E sempre será um homem, com virtudes e fraquezas.
Tão simples quanto isto.Não votar é alhearmo-nos do regime democrático. É acharmos, no limite, que há outros regimes melhores (ou menos maus). A incoerência reside no desinteresse por um regime por que lutaram muitos.
Por outro lado, é uma manifestação inconsequente: não votamos nós, haverá quem vote e estará a decidir por ele e por quem não exerceu o seu direito de cidadania plena.
Não podemos repisar o discurso de que os candidatos são maus. São estes que apareceram e é um deles que temos de eleger. O poder não fica vazio e se não elegermos o melhor, alguém poderá eleger o pior...
E quem achar que é melhor que se chegue à frente e apresente uma candidatura!
(Núncio, comentário a "Cavaco inicia pré-campanha na Madeira", Expresso on line, 3-1-2011)

[1321] Pintura do mundo: Belchior, Gaspar e Baltazar, os antepassados remotos da Moody's, S&P e Fitch


(Vasco Fernandes, o Grão Vasco, "Adoração dos Reis Magos", 1501-1506)

02 janeiro 2011

[1320] Demites tu ou demito eu?

«Convenhamos que quem votou PS à conta de 5% de défice — numa altura em que Manuela Ferreira Leite já tinha explicado à saciedade qual a situação real do país — foi tolo voluntariamente em 2009 e, se ainda tem o desplante de se queixar disso agora, qual virgem ofendida, só procede a um upgrade da sua categoria de tolo.»
(Tolices, comentário a "A diferença entre poder e dever", Blasfémias, 2-1-2011)
*
A covardia talvez seja o pior dos defeitos do português, esse povo acolhedor e tradicional.
Isto de não reconhecer que se cometeu um erro em Setembro de 2009 e querer que seja o PR a fazer o que o povo não quis ou não soube é de uma falta de coragem intolerável!

[1319] Inscrevam esta citação nas paredes dos gabinetes ministeriais!

«(...) só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso com a educação das crianças e jovens.»
(Dilma Rousseff, discurso de tomada de posse como presidente do Brasil, Estadão on line, 1-1-2011: destaque nosso)

[1318] Poesia do mundo: começar de novo

A minha vida é hoje um sítio de silêncio

a própria dor se estreme é dor emudecida
que não me traga cá notícias nenhum núncio
porque o silêncio é o sinónimo da vida (...)

Daqueles traços fisionómicos de pedra
não quero já ouvir a voz que às vezes vem
na calma destacada por um cão que ladra
Não há ninguém perto de mim sinto-me bem

Cada casa que roço é escura como um poço
se sou alguma coisa sou-o sem saber
sossego solitário sem mistério isso
talvez tivesse sido o que sempre quis ser (...)

A noite quando ao fim descer decerto há-de
ser certa solução. Foi há muito a infância
Ao tempo o que tu tens tu bem o sabes cede
estendo as mãos talvez te fique a inocência

A vida é uma coisa a que me habituei
adeus susto e absurdo e sobressalto e espanto
A infância é uma insignificância eu sei
e apenas por a ter perdido a amamos tanto

Estou sozinho e então converso com a noite
das palavras que nos subjugam nos submetem
As coisas passam e em vez delas é aceite
o nosso sistema de signos onde as metem

Esta minha existência assim crepuscular
devida àquela que é rastos destroços restos
acusa hoje alguma intriga consular
de quem não tem cabeça a comandar os gestos (...)

E noite sou e sonho e dor e desespero
mero ser sórdido e ardido e encardido
mas já não tarda a abrir-se na manhã que espero
um arco com vitrais aos vendavais vedado

E embora a minha fome tenha o nome dela
e da água bebida na face passada
não peço nada à vida que a vida era ela
e que sei eu da vida sei menos que nada.


(Ruy Belo, "Despeço-me da Terra da Alegria", Todos os Poemas, Assírio & Alvim, 2000)

01 janeiro 2011

[1317] Poesia do mundo: votos de um ano sem medo

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
Vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.

(Carlos Drummond de Andrade, in A Rosa do Povo, José Olympio, 1945)

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