Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

30 dezembro 2005

[127] Late night: Ouviram?

"Solidariedade e competência são duas coisas que acho que dizem muito respeito a Cavaco Silva".
(Ramalho Eanes, 29-12-2005)

[126] O perigo do medo

«A penosa campanha eleitoral em curso, longa de mais, mostrará até ao fim esse tom de dramatização e de perseguição populista, de insinuação. Por detrás disso está o medo. Não o medo de Cavaco, mas o medo da própria democracia e do jogo claro que ela devia impor e tornar necessário. De dedinho espetado, indignado, esse medo é que é perigoso e reaccionário. E, além do mais, pretende fazer dos portugueses gente sem discernimento ou inteligência».
(Francisco José Viegas, JN, 29-12-2005)

29 dezembro 2005

[125] Late night: interrogações

«Portugal não precisa de um Presidente da República que apresenta como única razão da sua candidatura a experiência e cuja lógica seria transformar-se num presidente vitalício», afirmou (...) Manuel Alegre [, que] criticou Mário Soares por «fazer um discurso minimalista, como se o Presidente da República não tivesse outros poderes senão o da moderação».
«Então, se o Presidente da República não tem poderes nenhuns, porque é que ele [Mário Soares] já foi Presidente duas vezes e porque é que se candidata outra vez?», interrogou.

28 dezembro 2005

[124] Coerência

"Apoio o Prof. Cavaco Silva por razões, no essencial, idênticas às que estiveram na base do meu apoio público ao General Ramalho Eanes, em 1980, e do meu voto no Dr. Mário Soares, em 1986. Efectivamente, nas actuais circunstâncias, o Prof. Cavaco Silva, pelo seu profundo conhecimento da realidade nacional e internacional, pela sua grande experiência governativa, pela sua estatura moral e pela independência com que se apresenta, é o candidato em melhor posição para exercer o cargo de Presidente da República. (...) "
(José Casalta Nabais)

[123] Em tempo de eleições presidenciais, uma "causa" monárquica?

«[A propósito da recorrente discussão em muitos países (o último dos quais, o Brasil, em 2002) sobre os méritos da conservação ou (re)implantação da monarquia, fundamentada sobretudo na avaliação dos custos orçamentais com a Casa Real ou com a Presidência da República, hão-de reparar] bem nos modelos dos Estados mais civilizados/desenvolvidos (Noruega, Suécia, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, EUA, Reino Unido, Holanda, Suíça, ...) [e constatar que] há um padrão comum de regime: o da monarquia constitucional.
Será por acaso?»
(Portugal Real/Núncio)

[122] It's the character, man!

«Há alguns anos (não muitos), lembro-me de ter lido um estudo de opinião que indicava que a maioria dos portugueses declarava-se politicamente como sendo de centro-esquerda, depois de centro-direita e depois de esquerda. Não quero ser impreciso, mas o centro-esquerda e a esquerda congregariam, a ser uma amostra representativa, cerca de 35% contra apenas 25%, talvez, de portugueses de direita e centro-direita.
Claro que, depois, há toda aquela "maioria silenciosa" e pouco ideológica [que, normalmente, fornece a abstenção].
Não tenho qualquer dúvida (e não creio que me vá enganar muito): Cavaco Silva vencerá com milhares e milhares de votos do centro-esquerda e da esquerda.
Porque será?»
(Portugal Real/Núncio)

27 dezembro 2005

[121] O Prémio Nobel

"Chegou ao desplante de afirmar que Cavaco era um razoável economista, mas não um Prémio Nobel, como se a história contasse com muitos Prémios Nobeis no lugar de Presidentes".
(Eduardo Prado Coelho, Público, 26-12-2005)

[120] "Ele" e nós

«“ele” foi talvez a expressão mais utilizada pelo Dr. Mário Soares no debate de hoje. E digo “ele” com letra pequena porque para o Dr. Soares “ele” deve ser apenas um indivíduo qualquer de uma terrinha perdida algures no Algarve chamada Boliqueime. Penso que, mesmo que assim fosse, talvez merecesse um pouco mais de respeito, mas enfim...
Por acaso, esse tal de “ele” a que o Dr. Soares se refere com algum desdém, nasceu, de facto, em Boliqueime, mas, apesar das dificuldades de uma vida que se tem que construir de baixo para cima, foi trabalhador-estudante, formou-se, doutorou-se na Universidade de York em Inglaterra (sem ser “honoris causa”), foi ministro das finanças, foi 1.º Ministro durante 10 anos, duas vezes eleito com maioria absoluta e, ainda que candidato derrotado na eleição presidencial de há 10 anos, conseguiu obter aproximadamente 46% dos votos dos portugueses.
Apesar de naturalmente ter deixado muita coisa por fazer num país que não tinha nada quando "ele" chegou; apesar de ter cometido erros (como qualquer ser humano), o balanço final dos seus mandatos foi, sem dúvida, muito positivo e Portugal conheceu um desenvolvimento muito relevante aos mais diversos níveis. Arrisco-me a dizer que “ele” foi o melhor 1.º Ministro dos nossos 31 anos de democracia.
Mas enfim... Para o Dr. Soares “ele” é uma espécie de iletrado que ainda por cima abre a boca para comer bolo-rei. A forma como o Dr. Soares se refere aos vários “eles” de Portugal leva-me a pensar que o ex-presidente da república acha que nós, meros cidadãos portugueses, a maior parte esforçados trabalhadores, honestos cumpridores dos nossos deveres, estamos vários furos abaixo da sua pessoa.
Provavelmente, é o facto de se considerar (ou, pelo menos, parecer) o “ELE” de Portugal que leva o Dr. Soares a querer regressar ao estatuto de 1ª figura da nação. Era desnecessário. Eu, como a generalidade dos portugueses, tinha-lhe e tenho-lhe muito respeito e admiração, pelo que, agradecíamos que não se esforçasse mais em fazer com que alguns de nós percamos essa impressão.
Quanto ao debate, sinteticamente, não há a menor dúvida que "ele" ganhou e "ELE" perdeu.
(Francisco Proença de Carvalho, O Sinédrio, 20-12-2005)

22 dezembro 2005

[119] "Somos diferentes até na linguagem!"

«Se porventura tivesse de destacar uma frase no debate que opôs Soares a Cavaco, seguramente que seria esta discreta mas fundamental afirmação de Cavaco Silva. Ela demonstra claramente o que tem distinguido estas duas pessoas: Cavaco Silva conseguiu manter a calma e o respeito mesmo sob os mais ferozes e soezes ataques; Mário Soares foi vulgar e ofensivo como só ele sabe. Registo que, para além das constantes interrupções a que se permite (e lhe permitem), não deve ter passado despercebido às pessoas que Soares se referia sempre a Cavaco Silva como "ele". "Ele" isto, "ele" aquilo, "ele" aqueloutro, numa arrogância pessoal enorme e inqualificável que, se fosse feita por qualquer outra pessoa (ou se fosse feita por Cavaco Silva a Soares), cairia o Carmo e a Trindade.
«O respeito entre candidatos presidenciais exige-se, a falta de respeito de Soares deve ser criticada e a ausência de resposta ao mesmo nível por parte de Cavaco Silva deve ser elogiada. Como deve ser elogiada a contenção de Cavaco Silva quando Soares veio socorrer-se das suas aulas na Universidade de Coimbra: violasse Cavaco Silva as regras do Marquês de Queensberry, como Soares se fartou de fazer durante o debate, e fizesse Cavaco a simples advertência de que existe um diferença abissal entre quem dá aulas por ser convidado e quem as dá por ter prestado provas académicas, e Soares seria arrasado.
«Realce-se que Soares não se bastou com a simpatia dos entrevistadores, que evitavam referir-se ao outro candidato como "Sr. Professor", como seria natural; Soares quis ser também, embora em biquinhos de pés, professor universitário. Pronto(s). Mas fica a dever a Cavaco uma, por este não o ter enxovalhado ali mesmo.
«Soares não se ficou por aqui. Para o lado, ainda se queixou de Cavaco Silva ler dossiers mas não ler livros - tecla que repisa ignobilmente sem aquilatar da sua veracidade -; pesporrente, acusou-o de lhe faltar cultura; deselegantemente, referiu-se a supostas conversas desagradáveis que os seus amis teriam tido consigo sobre Cavaco Silva; chegou ainda a fazer comparações com Marcello Caetano e isto tudo numa animosidade pessoal inconcebível e à qual, com uma contenção que não imaginei ser capaz, Cavaco Silva sempre se recusou responder. Fiquei a admirar Cavaco por isso porque eu não seria capaz.
«Da maneira como Soares colocou as coisas, aquilo a que assistimos hoje não foi um debate presidencial: parecia antes uma discussão monologuenta num botequim vulgar ou numa tasca infecta em que, já tarde da noite, uma pessoa decente que por acaso ali foi parar com dois convidados se vê abordada por um pobre desgraçado, tombado sobre a mesa e zangado com a vida, e tem de estar ali a aturar o rezingão, sem lhe responder nem lhe dar as duas valentes bengaladas que merecia, conversando com os outros enquanto o táxi chamado não chega.
«Mário Soares, numa atitude inqualificável, tem-se arrogado uma superioridade sócio-cultural sobre Cavaco Silva. Ficou hoje demonstrado (para quem não sabia) que foi Mário Soares quem não tomou chá em pequenino. Se eu tivesse algumas dúvidas, a diferença na linguagem dissipou-as por completo.»
(Vasco Lobo Xavier, O Mar Salgado, 21-12-2005)

[118] Portugal desnudo

Um debate político não é um combate de boxe.
Sendo a Política a administração do bem comum, carece, desde logo, de administradores civilizados, sensatos, competentes e rigorosos. Baseia-se em princípios, segue regras, faz-se com programas e desenvolve-se com políticas.
Não ouvi MS invocar um único princípio (moral, ético, político ou de qualquer outra natureza), não me lembro de ter discorrido sobre o seu programa presidencial nem as políticas económicas, financeiras, sociais ou culturais (!) que advoga para o futuro de Portugal (embora saibamos que não cabe ao PR desenvolver políticas, alguma opinião houvera de ter um candidato que se diz sempre presente em todos os momentos difíceis... E nos fáceis também, esse é o problema!).
Pior, MS nem regras segue. Desde logo, as do debate televisivo que TODAS as candidaturas, incluindo a sua, acordaram e que nenhum dos moderadores teve o profissionalismo e isenção de lho recordar. Mais grave, muito mais grave, não cumpriu quaisquer regras de convivência social, urbanidade, respeito pelo próximo e pelas figuras do Estado. A ética republicana esvaiu-se e veio a nu o azedume, a arrogância, a soberba, a grosseria, o preconceito social e cultural, o sarcasmo, a boçalidade...
Ainda que, simbolicamente, se pudesse assemelhar o debate n.º 10 a um combate, convém não esquecer que o próprio boxe tem regras, tempos e pontuações. MS lutou muito, mas sozinho, contra o seu próprio passado e a sua "dupla personalidade (política)". Sem estratégia nem objectivos nem gestão do esforço nem respeito pelo adversário ("fair-play"). Nunca esteve quieto, deu murros e socos, mas sem direcção nem inteligência. Mera força bruta, enraivecida, cega. Atingiu um adversário fictício: o plebeu ignorante e brega que ousou querer conviver com Estadistas e Elites. Dado o descontrolo, o adversário poupou-lhe uma sova. De democraticidade. Por temor reverencial ou compaixão, resta saber...

[117] Late evening: introspecção

«“O diálogo não nasce de tácticas ou de interesses, mas é uma actividade que apresenta motivações, exigências, dignidade própria: é exigido pelo profundo respeito por tudo o que o Espírito, que sopra onde quer, operou em cada homem” [Encíclica Redemptoris Missio (1990), n.º 56].
«Esse respeito pela dignidade e identidade de cada pessoa manifesta-se em todos os campos da vida humana. Também no campo político, de que este momento é testemunho indesmentível.»
(Cavaco Silva, 22-12-2005)

[116] A caprichosa

"Nada me move pessoalmente contra Cavaco, que reputo pessoa decente e incorrupta, o que não é pouco".
(Clara Ferreira Alves)
Pelos vistos, é pouco. Prefere a indecência e a soberba.

[115] "Moderador e árbitro"?

«Ontem à noite caiu a máscara do "moderador e árbitro". Soares portou-se como um candidato radical, incontinente e, em muitos momentos, malcriado e raramente, ou quase nunca, como um ex-chefe de Estado e aspirante credível ao cargo. Apesar da "pose" arrogante e do olhar de permanente comiseração intelectual perante "o camponês de Boliqueime", Soares deu ao país um triste espectáculo acerca daquilo que verdadeiramente o move. Estava tão embrenhado nessa acrobacia puramente agressiva que, no minuto final, onde podia "brilhar", se perdeu ao ponto de acabar ao nível de um cartão de Boas Festas (...).
«Esta última aventura teria sido perfeitamente desnecessária não fosse a imensa vaidade do homem e a posição timorata do PS em relação às presidenciais onde teve, à vontade, uma boa meia dúzia de escolhas. Soares imaginou, a partir do Vau, que uma "onda" o esperava e que o país, comovido, ansiava pelo seu majestático regresso. Nem uma coisa nem a outra se verificaram. O eleitorado dito "moderado", que o salvou há 20 anos, ficou perfeitamente esclarecido com o debate contra Cavaco. Se já andava desconfiado, ontem fugiu-lhe de vez. Penso não andar longe da verdade ao dizer que Mário Soares entregou ontem à noite a vitória, de mão beijada e numa única "volta", a Cavaco Silva. Ninguém de boa-fé e no seu perfeito juízo reconheceu no Soares de ontem uma mísera sombra do "moderador e árbitro" que ele se imagina.
«Por mera caridade cristã, alguém amigo dele faça o favor de lho explicar.»
(João Gonçalves, O Pulo do Lobo, 21-12-2005)

[114] Soares e a Cultura

«Soares faz sempre questão de se mostrar como um homem culto e de apresentar Cavaco Silva como um mero contabilista. No entanto, as ideias de Soares dificilmente podem ser consideradas as ideias de um homem culto. Um homem culto deveria ser capaz de produzir um pensamento organizado e fundamentado a partir da informação dispersa de que dispõe. Ou pelo menos, deveria ser capaz de identificar as questões relevantes a partir da informação disponível evitando dizer demasiadas asneiras. Mas Soares não é capaz de fazer isso a propósito dos temas que lhe são mais queridos, sejam eles os Estado Unidos, os Oceanos ou a Globalização.
«Sobre os Estados Unidos, tem um pensamento que mais não é do que uma reacção pavloviana ao grande capital e ao imperialismo ianque típica da esquerda. Demonstra desconhecer as peculiaridades da política americana, caindo demasiadas vezes no lugar comum e no provincianismo. É totalmente incapaz de perceber o fenómeno das religiões protestantes nos Estados Unidos chegando mesmo a ser ofensivo quando mete tudo no saco do fundamentalismo religioso.
«Os Oceanos são para Soares uma bandeira política sem qualquer conteúdo substantivo. Soares não parece ter nenhum interesse pelos aspectos estratégicos, científicos, ambientais ou políticos dos Oceanos. Só mostra interesse pelos Oceanos enquanto bandeira politicamente correcta legitimadora da sua persona política. Preocupa-se com os oceanos como se poderia preocupar com a igualdade de género ou com o lince da Serra da Malcata. Os detalhes não interessam, o que interessa é que esteja na moda e fique bem.
«Sobre a Globalização, Soares não tem qualquer pensamento próprio. O que diz não resultou de qualquer esforço intelectual. O que diz é o que qualquer jovem inconsciente sem a experiência nem a biblioteca de Soares poderia dizer. Soares é incapaz de perceber que a Globalização é um processo que não é controlável por uma autoridade central e que por isso está para além da política. E também não percebe que a Globalização favorece precisamente aqueles que ele quer proteger da Globalização.
«Soares, como muito boa esquerda, usa a cultura como arma de arremesso político. Mas quem o faz não precisa de ser culto. Alguma falta de modéstia costuma ser suficiente. De resto, falta a Soares aquilo que falta a muitos que se auto-intitulam cultos. Falta-lhe cultura suficiente para perceber porque é que quem é verdadeiramente culto não precisa de se auto-intitular como tal
(João Miranda, A Blasfémia)

20 dezembro 2005

[113] Early evening: citação para um debate

"Um pessimista vê uma dificuldade em cada oportunidade; um optimista vê uma oportunidade em cada dificuldade."
(Winston Churchill)

[112] BOAS FESTAS!

Parafraseando um amigo, com a sua cortesia, e "aproximando-se a festa do NASCIMENTO, saúdo todos aqueles que dão sentido à minha vida, que são a minha bússola, que me fazem renascer todos os dias, mais forte e mais humano..."

[111] O Rei-Presidente

« (...) a respublica continuou a rever-se na monarquia a cujo património político pertencia o reino; monarquia cuja autoridade única, de próprio movimento, certa ciência, livre vontade e poder absoluto provinha da concessão popular.
« É este o sentido de legalidade popular que enforma a acção do rei português de Tordesilhas, que tomará por divisa "Pola lei e pola grei" como expressão de uma consubstancialidade entre direitos reais e direitos de Estado, isto é, consubstancialidade entre Monarquia e Estado na pessoa de D. João II; uma monarquia activa na forma como aborda e pondera os termos da bula de Alexandre VI (bula Inter Coetera) de 3 e 4 de Maio de 1493, na sequência da primeira viagem de Colombo ao Novo Mundo; e activa ainda, no modo como preparou e conduziu a negociação do Tratado de Tordesilhas, logrando afirmar, em termos internacionais a definição de um domínio; de um império marítimo à escala mundial; reconhecido bilateralmente à luz de um momentâneo encontro; de um acerto de interesses no respeito pelo compromisso da palavra sobre o confronto bélico.»
(Fernando Amorim, "Tordesilhas: ponto de encontro, lugar de partida")

[110] Valores ou ideologias?

« (...) ao longo destas décadas, muitos portugueses puseram de lado as suas ideologias de direita e ajudaram a eleger candidatos de esquerda. Passou-se sempre assim. Não se pode por isso, em nome da Democracia, cair na mera indignação quando se prefigura a possibilidade de pessoas de esquerda, que o foram toda a vida, ajudarem a eleger o candidato da direita. A alternância democrática, que já se vira nas legislativas e nas autárquicas, pode ocorrer agora nas Presidenciais.
« (...) Hoje falta memória à esquerda. Provavelmente porque foram os próprios políticos de esquerda que confundiram e misturaram tudo numa amálgama ideológica.
« (...) Cavaco tem o condão de conseguir reunir numa qualquer mesa de jantar de apoio à sua candidatura Silva Graça, autor do livro "Lisboa–Cidade Abril", e Joaquim Veríssimo Serrão, saudoso do Estado Novo.»
(Luíz Carvalho, Cartas Digitais: "A esquerda e o candidato da direita", 13-12-2005)

[109] Late night: citações preciosas (5)

«Sócrates - É, então, preciso nunca cometer injustiça?
Críton - Certamente.
Sócrates - Nem pagar o mal com o mal, como diz a multidão, uma vez que há que não ser injusto de nenhuma maneira.
Críton – Parece que não.
Sócrates – Então, não devemos fazer o mal?
Críton – Com certeza que não, Sócrates.
Sócrates – E é justo ou injusto que aquele que sofre retribua o mal, como dizem as gentes?
Críton – É injusto.
Sócrates – Pois, fazendo o mal aos homens que são injustos, em nada diferimos deles.
Críton – Dizes a verdade.
Sócrates – É então preciso não pagar o mal com o mal, nem fazer mal a qualquer homem de quem nos venha mal. [...] Saindo nós daqui sem que a cidade o consinta, fazemos mal a alguém e, precisamente, a quem menos deveríamos fazer. Ou não será assim?
Críton – Não tenho resposta para o que perguntas, Sócrates, pois não sei.»
(Platão, Críton, 49b – 50a)

[108] Pode repetir?

“Eu nunca afirmei que, se Cavaco Silva ganhar as eleições, no dia seguinte havia um golpe de Estado!”
(Jerónimo de Sousa, debate Alegre/Jerónimo, TVI, 19-12-2005)

19 dezembro 2005

[107] A esperança de uns é o desespero de alguns...

«Os presidentes que precederam Cavaco não chegaram a Belém com o peso de uma promessa precisa. De Eanes, que apesar de tudo carregou o maior peso, só se esperava que não entregasse o Exército à extrema-esquerda ou à extrema-direita e que metesse a tropa nos quartéis. De Soares só se esperava que "salvasse a liberdade" de um revanchismo largamente imaginário e que liquidasse, de caminho, a insuportável aventura do PRD. De Sampaio, no fundo, no fundo, só se esperava que ele não deixasse continuar o "cavaquismo" por outros meios, cometendo a improvável proeza de ser eleito.
«Mas de Cavaco toda a gente hoje espera a recuperação da economia portuguesa, a reaproximação de Portugal do nível médio de "Europa", uma drástica diminuição do desemprego, um crescimento de, pelo menos, três por cento (como a Espanha) e o definitivo reequilíbrio das finanças. Sem talvez se aperceber, Cavaco prometeu o pacote inteiro, com entusiasmo, com zelo, como fervor. Pior: com suficiência. Ele sabe, ele cumpre.»
(Vasco Pulido Valente, Público, link indisponível)
Por tudo isto e porque é de competência, Estadismo, ousadia, reformismo e confiança que Portugal precisa, CS tem estado muito à frente dos seus quatro adversários "oficiais" (aproveito para repudiar, por profundamente anti-democrática, a estratégia da comunicação social de só dar voz aos candidatos "parlamentares").
Vasco Pulido Valente, então, bem poderia, em coerência, expressar total discordância com a tese do seu candidato preferido de que CS nada diz e nada vale. Pelos vistos, VPV entende que CS vale muito e diz demais...

18 dezembro 2005

[106] Late evening: o blogue do lado

[1491] -- "(...) Soares parece ainda não ter percebido que a sua estratégia de dramatização não engana ninguém. «Os portugueses», racional ou instintivamente, compreendem os desafios e os contextos. São menos manipuláveis politicamente; mais sofisticados na sua abordagem. Em suma, democraticamente mais maduros. Soares, de forma autista, insiste em não o perceber. Dizer que a eleição de Cavaco Silva seria passar-lhe um cheque em branco, ou que ele não é um moderado, apenas dá vontade de rir. Pensar que com estas declarações se consegue desviar Cavaco Silva da sua estratégia é igualmente cómico. Soares, cada dia que passa, confirma cada vez mais que é um homem do passado".
(Paulo Gorjão, in Bloguítica, 18-12-2005)
Sobre o assunto do post anterior, a visão (sempre sensata) de Paulo Gorjão, seguramente (sem cortesia) um dos mais consistentes blogueurs portugueses.

[105] Descubra as diferenças

"(...) os portugueses têm uma «nova exigência» para com a classe política, esperando desta «honestidade e competência» e dispensando a «retórica» e as «divergências estéreis»."
"Se o elegessem, os portugueses estariam a passar-lhe um cheque em branco, porque ninguém sabe o que pensa e do que é capaz."
Pois é, ninguém sabe o que pensa e do que é capaz o homem que chefiou 3 (três!) governos constitucionais (por mero acaso, dois deles empossados pelo signatário das dúvidas), que já antes havia sido ministro das finanças, que tem obra escrita como académico e até uma auto-biografia política...
Se MS não sabe quem é e o que vale CS, o que andou a fazer todas as quintas-feiras, durante 10 (dez!) anos? A dormir?

[104] O dono da bola

"Dizer que Cavaco não tem legitimidade moral e histórica para ser Presidente da República não é apenas um argumento arrogante, anacrónico e politicamente insustentável que traduz as pretensões monopolistas da esquerda sobre a chefia do Estado. É, sobretudo, um argumento estúpido que ofende a maioridade cívica dos eleitores e só serve, por isso mesmo, para reforçar a sua candidatura. Já o afirmei e escrevi diversas vezes, mas constato que, apesar das nuances, não será essa a opinião da maioria dos principais adversários de Cavaco (com a excepção mais notória de Manuel Alegre).
"Fazer o processo a Cavaco por não ter sido um resistente antifascista e pretender impedi-lo, por isso, de ascender à Presidência significa que o salazarismo continuará a pairar, eventualmente para sempre, como um fantasma sobre a normalidade democrática do País."
(Vicente Jorge Silva, DN, 17-12-2005)
Já aqui tenho dito que acho um erro de palmatória o ataque cerrado a CS, sobretudo porque - mais do que assinalar as eventuais fragilidades da sua candidatura - assenta em preconceitos sócio-culturais e históricos. Vejamos:
1. O PR não tem que ser um antigo combatente anti-fascista (isso, por si só, não qualifica especialmente nenhum cidadão, além de que, dentro de alguns anos, não é sequer etariamente possível).
2. O PR não tem que ser socialista ou laico (convém que seja republicano, sim). Não há uma "matriz presidencial" forjada por nenhum "Pai da Pátria".
3. O PR não tem que ser letrado em poesia, filosofia ou escultura. É útil que seja uma pessoa esclarecida, sensata, com mundividência. Mas, sobretudo, uma pessoa respeitada, eticamente irrepreeensível e politicamente agregadora (não esqueçamos que o PR tem uma casa civil e uma casa militar, verdadeiras assessorias técnicas).
4. O PR não tem que ser fotogénico, telegénico, muito simpático ou exuberante. Não estamos a eleger o próximo candidato ao 'Big Brother', embora às vezes pareça!
5. A mulher do candidato não concorre a nada, por isso não pode condicionar a candidatura do seu marido nem imiscuir-se na candidatura de terceiros.

17 dezembro 2005

[103] Autoridade, responsabilidade e democracia

« (...) há muito que se assiste, da parte das elites políticas e de opinadores públicos, à minagem da autoridade do Estado e, nomeadamente (...), das polícias. Esta minagem assenta culturalmente numa deriva perversa da cultura antifascista que assume moralmente que, por natureza, a polícia é má e age por mal. Ao que acrescem as teses desresponsabilizantes de que os criminosos são vítimas da sociedade que, por esse motivo, os condiciona socialmente para o mal.
« Que a polícia não é formada por ‘gentlemen’ só pode surpreender quem desconhecer a sociedade de onde os seus agentes são extraídos, bem como o crivo cultural dessa extracção. Numa sociedade com um baixo nível cultural e com um enorme lastro de iliteracia, ter uma polícia formada por cidadãos de elevado contorno cultural e com educação de ‘gentlemen’ só se conseguirá pagando os salários compatíveis com a relativa escassez da oferta. E, mesmo assim, levaria muito tempo a renovar todo o quadro.
« De qualquer forma, a polícia é formada por cidadãos normais que se esforçam por cumprir o melhor que sabem as missões que lhes são atribuídas. Por isso, quando (20 anos depois de Abril) um Governo afirma que esta não é a minha polícia, sem criar de imediato as condições – financeiras, organizativas e políticas – para a substituir pela sua polícia ideal, a única coisa que consegue é desautorizar publicamente a única polícia de que o Estado dispõe, retirando-lhe a eficácia para assegurar a segurança que os cidadãos têm o direito de exigir. O mesmo acontece quando (antes) um Presidente da República invectiva publicamente um polícia no cumprimento da sua função. Ou quando comentadores sistematicamente condenam, ‘a priori’, qualquer intervenção policial que recorra ao uso da força.
« Essas atitudes acabam por favorecer, involuntariamente é certo, as forças da insegurança e minar a capacidade de o Estado garantir a segurança dos cidadãos. Por isso, se se quiser mesmo garantir essa segurança, ter-se-á que começar por mudar de atitude, recusando a cultura anti-autoridade».
(Vítor Bento, DE)

[102] Early evening: quoting time (citações do mundo 4)

"Ao homem equitativo, a legalidade importa menos do que a igualdade ou, pelo menos, ele sabe corrigir os rigores e as abstrações daquela mediante as exigências muito mais flexíveis e complexas (...) desta."
(André COMTE-SPONVILLE, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)

[101] Late afternoon: "O Natal de Cristo"

Não, meu Deus, não: eterna é a Palavra,
Eterno é o Verbo teu
Que, antes do ser dos séculos, nos deste,
Que o mundo recebeu
Nesta noite solene e sacrossanta.
Nós, nós é que o quebrámos,
Nós, sim, o novo pacto e juramento
Sacrílegos violámos;
Esaús do Evangelho, nós vendemos,
Com torpe necedade,
Por apetites sórdidos, a herança
Da glória e liberdade.
Por isso os reis da terra inda nos contam
Escravos, às manadas;
Por isso, em vão, do jugo sacudimos
As cervizes chagadas.
Porque não temos fé, não temos crença,
E a Cruz abandonamos,
Donde somente está, só vem, só fulge
A luz que procuramos.
E os vãos sabedores, esses magos
Que a vaidade cegou,
Não olham para o céu, não vêem a estrela
Que hoje em Belém raiou.
(Flores sem Fruto", Almeida Garrett)

[100] PORTUGAL, Alexandre O'Neill

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
*
Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

[99] Não se importa de repetir?

"Tenho mil e tal pessoas na minha comissão e não as posso conhecer todas."
(Mário Soares, Debate Soares/Louçã, SIC, 16-12-2005)

Então, V. Ex.ª está assim tão desesperado que aceita o apoio de qualquer um?

[98] Dignidade, moral e verdade

« (...) na generalidade, os políticos, naquilo que deles podemos ver com clareza, estão interessados, não na verdade, mas no poder e na manutenção desse poder. Para manter esse poder, é fundamental que as pessoas continuem ignorantes, que vivam na ignorância da verdade, e até da verdade das suas próprias vidas. Aquilo que nos rodeia é uma vasta tapeçaria de mentiras, sobre a qual nos vamos alimentando.
« O que aconteceu com a nossa sensibilidade moral? Alguma vez a tivemos? O que quer dizer esta expressão? Refere-se a um termo pouco usado nestes dias - consciência? Uma consciência de agir não apenas com os nossos próprios actos mas com a responsabilidade partilhada nas acções dos outros? Já tudo isto morreu?
« Estou convicto de que, apesar dos inúmeros obstáculos que existem, nós, cidadãos, com uma feroz determinação intelectual, inquebrável, sem desviar, conseguiremos definir a verdade real das nossas vidas e das nossas sociedades - e essa é uma obrigação crucial que nos diz respeito. É de facto obrigatória.
« Se essa vontade não estiver incorporada na nossa visão política, não tenhamos esperança de restaurar aquilo que já quase se perdeu para nós - a dignidade do homem.»
(Harold Pinter, Prémio Nobel da Literatura, "A carta que o Nobel da Literatura escreveu ao júri", traduzida por Jorge Silva Melo)

[97] Quem tudo quer, tudo perde...

«O discurso de Mário Soares aproxima-se, finalmente, da dramatização. A sua guerra pessoal contra Cavaco transformou-se, aos poucos, numa coisa doentia, recorrente, repetitiva, monótona e desagradável.
« (...) Esta campanha veio trazer um Soares que não merecia ser visto desta maneira, dada a sua importância para o quadro geral da República: obrigado a desmentir-se a si mesmo (em relação a Sócrates, que odiava; em relação à qualidade dos políticos; em relação a África; em relação a Guterres, sobre quem diz coisas ditirâmbicas, a propósito da «estratégia de Lisboa»; em relação ao PS), a falar do que não quer e do que o enfastia, defendido por Jorge Coelho com a ideia absurda da desistência dos outros candidatos de esquerda.»
(Francisco José Viegas)

16 dezembro 2005

[96] O meu testemunho, por interposta pessoa

«Às vezes palavras bonitas não chegam. Ultimamente parece que Portugal tem vivido, ou tentado viver, à custa de grandes retóricas, de discursos comoventes interpretados por actores que já não convencem. Vão-nos dando muitas luzes e centros comerciais e estádios de futebol e mais fantasias para camuflar a falta de soluções reais para um pais em crise.
«Apoio o Professor Cavaco Silva pela referência que ele é, de respeito, honestidade e competência. Pela segurança que me dá. Estou aqui independente de qualquer partido político, por achar que o estado do país merece mais do que me esconder na segurança de não me manifestar por coisa alguma. Apoio o Professor Cavaco Silva para Presidente da República porque Portugal precisa de se enfrentar de maneira real e de alguém que chame a atenção para isso mesmo.»
(Tiago Bettencourt, Cantor dos «Toranja»)

[95] Era mesmo necessária esta campanha?

«Da parte dos outros candidatos há uma fixação quase doentia na minha pessoa.
«Todos os dias me fazem ataques, distorções e mentiras, que são o reconhecimento de que a minha candidatura tem apoio de todos os quadrantes e que os portugueses vêm em mim a pessoa que os pode ajudar a vencer as preocupações quanto ao futuro.»
(Cavaco Silva, à saída do Tribunal Constitucional, 15-12-2005)

[94] A "velha" Esquerda, segundo o "Expresso"

" (...) Já Mário Soares entrou nesta campanha eleitoral com duas frentes simultâneas de batalha. À direita, contra a fortíssima probabilidade de Cavaco Silva vencer logo à 1ª volta. À esquerda, contra a inesperada dimensão que a candidatura de Alegre assumiu, relegando-o a ele, «candidato oficial» do PS e venerando pai da esquerda, para o terceiro lugar das sondagens.
" Esta dupla frente de batalha tem-no forçado ao papel, pouco condizente com o estatuto que adquiriu, de ter que falar de baixo para cima. De estar constantemente a atacar Cavaco e Alegre, em vez de falar para o país e do país. Como se viu no debate com Alegre, Soares menoriza-se, lança farpas e remoques constantes no meio de um discurso repetitivo e pouco fluente.
" Mário Soares tem o mesmo discurso de há 10, de há 15, de há 20 anos. Mais empastelado e um pouco mais radical no que respeita ao alinhamento internacional, aos EUA, à NATO. Em certos momentos, chega a ser confrangedor pelo tom de cartilha e pelo amontoado de lugares comuns.
" Soares e Alegre juntos deixam fugir, nas intenções de voto da generalidade das sondagens, 10% a 15% dos votantes que José Sócrates congregou em 20 de Fevereiro. O que significa que Cavaco Silva, além de fazer o pleno do eleitorado de direita e centro-direita, vai captar um em cada três eleitores do PS em Fevereiro último. A velha esquerda de Soares e Alegre vale, hoje, bem menos do que a nova esquerda de Sócrates."
(José António Lima, Expresso, 15-12-2005)

15 dezembro 2005

[93] Debate 6

De 1 a 10:
Alegre, 5; Soares, 4.
Banal, impreciso, vago, incoerente.
Estou muito mal impressionado. Não éramos merecedores de ver este triste espectáculo na área do socialismo democrático.
(Portugal Real/Núncio)
[Declaração de interesses: votei em MS em 1991. Ainda não me arrependi.]

13 dezembro 2005

[92] 1/2

Cinco noites, cinco debates. Vamos a meio.
Nenhum muito entusiasmante. Todos muito sóbrios, excepto o terceiro, pela agressividade de Louçã, a roçar a demagogia (a utilização da criança ultrapassou o risco). Alegre filosófico e sereno. Soares disperso e vago. Louçã incisivo e áspero. Cavaco conciso e neutro. Jerónimo simpático e genérico.
De 1 a 10, atendendo a critérios de clareza, profundidade, urbanidade e coerência:
1.º - Alegre, 6 / Cavaco, 7;
2.º - Jerónimo, 6 / Soares, 5;
3.º - Cavaco, 5 / Louçã, 4;
4.º - Louçã, 6 / Alegre, 6;
5.º - Cavaco, 8 / Jerónimo, 6.
Faltam mais cinco.

12 dezembro 2005

[91] O triunfo das varas?

Rui Rio foi ofendido e (quase) agredido num bairro portuense, durante a última campanha autárquica.
Não vi (quase) ninguém indignar-se nem solidarizar-se, nem mesmo "o Presidente de TODOS os portugueses".
Rui Rio não é uma figura especialmente simpática.
Mas as ofensas a um político, em (pré-)campanha eleitoral, não são todas iguais? Ou há umas mais porcas do que outras?

[90] Velhas roupas, novos tons...

Muitos dos leitores de blogues ainda não perceberam que a política e as ideologias se afastaram muito dos paradigmas do século XIX.
Por exemplo, acham que o actual Governo Constitucional, apoiado pelo PS, tem algo a ver com o Governo de Maria de Lurdes Pintassilgo, sendo ambos "de Esquerda"?
[P.S. Aproveito para singelamente homenagear essa grande personalidade!]

[89] Quando acaba isto?

Começo a sentir-me enojado com as campanhas eleitorais em Portugal. Não bastou o que vimos e ouvimos nas legislativas ("caso Infante") e nas autárquicas ("caso Carrilho" e "caso Felgueiras"), agora ainda temos que levar com estes fait-divers auto-vitimizadores!
Condeno a violência, a intolerância e a arrogância, como condeno o populismo e a demagogia. Tudo resulta de uma cultura democrática e cívica muito pobre.

11 dezembro 2005

[88] "Não sou um homem de honrarias nem é uma missão pessoal, é uma questão de consciência."

Adivinhem quem fez a declaração acima:
- O Tino de Rãs (jovem ingénuo usado e ridicularizado pelos seus próprios correlegionários);
- Francisco Louçã (jovem democrata que subiu, com enormes dificuldades, a vida a pulso);
- Alberto João Jardim (que se aposentou como professor, carreira que já não exerce há mais de 30 anos);
- José Saramago (a beneficío de quem os dois governos ibéricos concederam um regime fiscal favorável);
- Cavaco Silva (a quem não se conhece fortuna pessoal);
- Jerónimo de Sousa (que não afina nenhuma máquina há mais de 20 anos);
- Paulo Portas (agraciado pela Administração norte-americana pelos altíssimos serviços em prol de uma guerra fora do quadro das Nações Unidas);
- Mário Soares (que viveu, desterrado e humilhado, em Paris e que cobra propinas modestíssimas no seu Colégio Moderno).
A resposta é muito difícil, só mesmo para pessoas com um QI acima do de Manuel Serrão.

[87] A memória das pessoas não é curta?

"Há dias, escondida na Página do Leitor do JN, uma carta de um cidadão chamado João Conlelas ajustava singelamente algumas contas.
A coisa passou-se assim: o doutor Mário Soares, sempre incensado pelas comitivas que o acompanham, havia dado, por estes dias, um ar de sua graça em Bragança, vociferando contra a interioridade e prometendo que, se fosse eleito Presidente da República, lá estaria na primeira linha da defesa das populações e do seu comboio. O leitor do JN esclarece que, por aquelas bandas, não houve grande entusiasmo com o palavreado e o folclore de campanha.
Ora, segundo João Conlelas, a explicação é simples: há uns anos, numa das presidências abertas de Soares por aquelas bandas, o então inquilino de Belém recebeu dos transmontanos um forte apelo para não deixar acabar o comboio que a CP ameaçava tirar-lhes. Tal como hoje, Soares prometeu, alto e bom som, que o comboio era do povo e do povo ia continuar. Na manhã seguinte, foi-se o comboio e Soares não voltou. Até há dias. Os transmontanos é que «ainda não esqueceram a traição», escreve o leitor.
Foi Soares quem disse, uma vez: «Em democracia, quem mente ao povo é réu de alta traição». Eu subscrevo. Quanto a ele, melhor será lembrar-se de que não andamos todos a ver passar os comboios"...
(Miguel Carvalho, A DEVIDA COMÉDIA, Visão, 6-12-2005)

[86] A 3-paper refreshment course (III)

«Convergência económica com a Comunidade/União Europeia:
-1985/1995: 27,8%;
-1995/2002: 4,9%.
«A economia portuguesa correspondia a:
- 55% da média da CE/UE, em 1986;
- 71%, em 1996;
- 74,4%, em 2002
Fonte: Eurostat.
Chega?

[85] A 3-paper refreshment course (II)

«Evolução dos salários REAIS (média):
- 1985/1995: 4,8 % ao ano;
- 1995/2002: 1,9% ao ano.
Agora querem saber quem é "amateus"? Não, não sou eu! É o insuspeito economista que foi Ministro do 1.º Governo do Eng.º Guterres, Augusto Mateus...»
(Portugal Real/Núncio)

[84] A 3-paper refreshment course (I)

Porque parece que anda muita gente distraída (ou de má-fé), entendo oportuno refrescar a memória de alguns leitores com factos e dados, não opiniões nem juízos de valor, relativos ao "passado", que parece que se tornou tema central das eleições presidenciais.
Para começar, e com a cortesia do autor, cito uns importantes dados coligidos por um participante do Expresso On Line, Globetrotter, em 10-12-2005:
«Conjuntura - média do crescimento do PIB dos países G7:
.1985-1995 (Cavaco): 3,07%;
.1995-2002 (Guterres): 2,82%.
Tanto barulho por 0,25%?
«Fundos comunitários (valores aproximados):
.1º pacote (1989-1993): 9.400 M€;
.2º pacote (1994-1999): 17.600 M€;
.3º pacote (2000-2006): 22.800 M€.
Por períodos de governação (total):
.Cavaco: 12.300 M€;
.Guterres: 22.795 M€;
.Barroso/Santana: 9.750 M€;
.Sócrates(até 2006):5.000 M€.
Médias por ano de governação:
.Cavaco: 1.230 M€;
.Guterres: 3.800 M€;
.Barroso/Santana: 3.270;
.Sócrates (22 meses): 2.275 M€».
Sabem fazer contas, não sabem?
Ou seja, com uma conjuntura ligeiramente mais favorável (em apenas 0,25%), Cavaco usufruiu (ao contrário da "voz corrente"), de apenas cerca de metade dos montantes de fundos comunitários.

[83] Um passeio alegre?

«Pessoalmente, acredito na "surpresa-Alegre". Não estou seguro, contudo, da vitória de Cavaco logo à 1.ª volta. Havendo 2.ª volta, e dada a perversidade do basfond político, [parece-me que] Cavaco [sempre] ganharia a Alegre por causa, justamente, dos votos de muitos socialistas e comunistas.
E digo que não estou seguro porque será muito desgastante o combate contra quatro, o que pode fazer perder algum do élan que lhe atribui, hoje, cerca de 55% dos votos. Apesar de tudo, e tendo havido já dois debates, (...) considero que Cavaco não perdeu eleitorado. Talvez Louçã tenha ganho algum a Soares e Alegre...»
(Portugal Real/Núncio)

10 dezembro 2005

[82] Estimulem o Pebble!

O meu grande amigo jpebble (que aproveito para saudar, lamentando a sua ausência), com quem me entusiasmei pela blogosfera e que me ajudou a lançar este conjunto de notas esparsas e imperfeitas, considera-me um conservador, embora "moderno". Eu devolvo-lhe, nas longas maratonas de riso e conversa, a simpatia, achando-o, com inteira justiça, um eminente e arejado jurista.
Pois bem, o Pebble - será pela idade, rapaz? - está a ficar, sendo de Esquerda, um homem, ele sim, muito conservador. Já o tenho advertido para a fragilidade dessa dicotomia "conservador/progressista", que tem muito que se lhe diga... Então, vocês acham, por exemplo, que o "aristocrático" Almeida Santos é progressista? Político mais cristalizado não há! Ou que o arrojado (e, muitas vezes, destrambelhado) Santana Lopes é conservador?
Agora, o Pebble diz-se inclinado a apoiar Soares, sentido de voto que muito respeito. Mas, de todos, esse é o voto mais conservador nestas Presidenciais! Atrevido e moderno seria o voto em Louçã ou Alegre. No primeiro, pela "agenda" que o BE e ele próprio elaboraram para a Esquerda (embora, uma Esquerda cosmopolita, elitista e moralista). No segundo, pela ousadia de avançar, sem apoios partidários e contra o Pai da Pátria, num discurso muito patriótico a que a Esquerda não está habituada. Isto, sim, é modernidade!
Considero, por outro lado, que o voto em Cavaco não é nem conservador nem progressista. Dadas a personalidade e o papel do ex-PM, é um voto claramente na pessoa e não um voto ideológico ou partidário.
Por tudo isto, estimado Pebble, acho que o menino acabou, acredito que inconsciente e involuntariamente, metido no "quadrado" claustrofóbico de que fala, com brilho, o Poeta...

[81] Balanço pessoal, mas transmissível.

«Sempre considerei que os 3 principais debates seriam:
1) Cavaco-Soares, por ser o último dos debates, por serem duas personalidades marcantes da III República e por se tratar de duas figuras que se conhecem profundamente dos tempos da coabitação política (e, talvez por isso, se detestem);
2) Soares-Alegre, por razões óbvias;
3) e, justamente, Cavaco-Louçã.
Ontem, confirmou-se o interesse. Foi o mais animado dos três já disputados, em parte pela atitude afrontosa e sarcástica de Louçã e, por outro lado, pela dinâmica e assertividade dos entrevistadores, embora Constança se tenha excedido, a ponto de ser tendeciosa (ao impedir Cavaco, várias vezes, de concluir ou mesmo de começar). No final, acho que Cavaco (que admitia que se saísse menos bem) se aguentou, embora um pouco tenso, passando suavemente pelas provocações do "adversário". Tanto é que, na segunda parte, Louçã foi muito mais moderado.
Os pontos menos fortes de Cavaco foram a imigração e os casamentos homossexuais, matérias em que Louçã é forte, dada a sua tendência demagógica de quem não governa.
Não me parece que o eleitorado "potencial" de Cavaco tenha ficado com menos vontade de votar nele, mas creio que Soares e Jerónimo devem preocupar-se seriamente com Louçã! A grande vantagem de Cavaco, a meu modesto ver, é que é objectivo, denso e intelectualmente sério. Louçã, que tem, de facto, um discurso fluente e atraente, utiliza - curiosamente (para quem quer ser a "Esquerda Moderna") - recursos da "Velha Política": é palavroso, irónico, demagógico.
Para o eleitorado cada vez mais esclarecido e menos sensível a "figuras de estilo", penso que a escolha não é difícil, até por uma razão suplementar que não vejo muito aduzida: ao Presidente da República não cabe ter uma "agenda executiva" de natureza ideológica. Personalidades como Louçã e Jerónimo, embora respeitáveis, não têm perfil suprapartidário e de representação nacional. É que, não esqueçamos, ser social-democrata ou reformista não impede, antes facilita, ser suprapartidário e congregador!»
(Portugal Real/Núncio)

09 dezembro 2005

[80] Parole, parole, parole...

«Nesta curiosa [mas obsessiva] evocação de Camões, Soares e Alegre revelam, no fundo, uma mesma percepção da política: uma actividade literária, retórica, palavrosa e vácua, que não acrescenta uma palha à nossa comédia trágica.»
(João Pereira Coutinho, in http://www.jpcoutinho.com/)

08 dezembro 2005

[79] A "traição" de apoiar um "fascista"

«(...) com este apoio a Cavaco Silva (que é fortíssimo, pelo simbolismo que transporta), Veiga de Oliveira mostra que a categoria de um homem não está na sua ideologia ou na sua fé, mas na honestidade intelectual com que as professa!»
(Portugal Real/Núncio)

[78] Ainda o culto da soberba

«No início do III Milénio, há ainda quem se arrogue confessar, em voz alta, desbragadamente, pelo éter fora, perante o silêncio culpado dos media sistémicos, a ignorância de presumir nos outros aquilo que o próprio demonstra. Cultura, dizia alguém, é aquilo de que nos lembramos depois de termos esquecido o que aprendemos. Há gente que não aprendeu nada.»
(Antonio Balbino Caldeira em 11/25/2005)

[77] Portugal pequenino

«Intutivo como ninguém, Soares pressente que, desta vez, não dá. Pena é que, na sua legítima melancolia de "fim de festa", suscite uma falsa questão que consiste num híbrido perigoso e insinuante do "quem não é por nós é contra nós", do Estado Novo, com as "farsas eleitorais" desse mesmo Estado Novo. É, seguramente e até agora, o pior momento da campanha do dr. Soares».
Já não sei o que é pior: se aturar a Carmelina Pereira pela octagésima primeira vez, se ser tomado por idiota por um respeitável, embora desgovernado, ancião...

[76] Eu durmo descansado, mas tirem esta tragicomédia do écran!

«Há dias, o dr. Soares esclareceu que aceitaria a legitimidade do prof. Cavaco, “desde que as eleições sejam limpas”. Como se admitisse a possibilidade de o prof. Cavaco ganhar por fraude. Como se estivéssemos em 1958».
(Rui Ramos, in "As forças do passado")
Leio e releio, belisco-me e receio estar num processo de pré-loucura.
"Aceitaria"? Mas houve alteração na presidência da Comissão Nacional de Eleições e eu não vi, não li nem ouvi? Está o candidato mandatado pela CNE para escrutinar o processo eleitoral?
"Eleições limpas"? Mas as eleições só são "limpas" quando os resultados nos agradam? E podem não o ser em Portugal, no ano de 2006 d.C., 32 anos após a alvorada do sonho num país mais justo e livre?
"Fraude"? Mas pode algum eleitor sancionar, com o voto, uma doutrina destas?

07 dezembro 2005

[75] Citações do mundo (3): pela madrugada dentro, o descanso do lutador

“Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons, mas existem aqueles que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.”
(Bertold Brecht)

[74] Late night

“Há 2 tipos de pessoas: as que fazem coisas e as que ficam com os louros. Procure ficar no grupo das primeiras – há menos competição lá”.
(Indira Gandhi)
A qual, eleitores, vamos dar o nosso voto?

[73] Psicanálise de 5.ª categoria

Essa imagem [gasta de tão repetida] de "hirto, sisudo e complexado" é para enganar quem?
Mas agora nós escolhemos Presidentes da República (candidatos íntegros, ética e politicamente irrepreensíveis, competentes) ou perfis de um qualquer sítio de engate?!
(Núncio/Portugal Real)

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