Terapia política. Introspecção psicossocial. Análise simbólica.

14 janeiro 2006

[145] Não há donos da Pátria nem da Liberdade!

«O nacionalismo deve mais à esquerda do que à direita. A ideia política de Pátria era alheia ao regime anterior à Revolução Francesa. Até aí, predominavam as fidelidades étnicas, religiosas e pessoais (ao rei, por exemplo). Contra o absolutismo real e o poder feudal da nobreza e do clero, a nação de cidadãos nasceu após 1789. Não por acaso, ligada ao serviço militar obrigatório (contra cuja abolição em Portugal votou M. Alegre).
«A partir de Rousseau, o movimento romântico valorizou a nação, contribuindo para inventar algumas tradições que passaram a funcionar como referências patrióticas. Foi o nacionalismo "de esquerda" que unificou a Itália. E que, na América Latina, iniciou a descolonização. Por cá, a grande arma da propaganda republicana no fim do séc. XIX era a exaltação patriótica. Recorde-se o envolvimento dos republicanos no centenário de Camões em 1880 ou na reacção ao humilhante ultimato britânico dez anos depois.
«Sendo um conceito moderno, afirmado sobretudo no séc. XIX e relançado com a descolonização posterior à Segunda Guerra Mundial e, depois, com o desfazer do império soviético, o nacionalismo terá cabimento no século XXI? Poderá ser dado à palavra Pátria "um sentido de modernidade e de futuro", como pretende Manuel Alegre? A resposta é sim, independentemente de esquerdas e de direitas. Por uma razão simples: o individualismo das sociedades actuais não elimina um dado básico que é a dimensão colectiva das pessoas. Nós somos em boa parte constituídos por factores comunitários que nos transcendem e não dependem da nossa escolha. Como a língua em que aprendemos a falar e a pensar.
«(...) Para muita gente, a Pátria ou, se quisermos, a Nação, é agora a sua principal ou até a única âncora no colectivo. Sem ela, as pessoas sentir-se-iam perdidas.»
(Francisco Sarsfield Cabral, A Pátria revisitada em tempo de crise, 14-1-2006)

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